Ano 1 • Número 44
R$ 2,00 São Paulo • De 1º a 7 de janeiro de 2004
Brasil para todos, só com mobilizações O
povo brasileiro, desencantado com o agravamento da crise econômica e social em 2003, mantém a convicção cada vez mais forte de que é preciso se organizar para obter maiores conquistas em 2004. Diante dos índices de arrocho e de desemprego, analistas de diversos setores chegam à mesma conclusão: só a pressão dos movimentos populares poderá dar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva sustentação
para enfrentar a resistência das elites e modificar a correlação de forças que faz do Brasil uma das sociedades mais desiguais do planeta. Esta edição especial do Brasil de Fato faz um balanço do primeiro ano de governo e mostra o que foi feito e aquilo que era esperado em diversas frentes de lutas sociais. Especialistas e intelectuais sugerem, nesta histórica oportunidade de transformação, alternativas e novos rumos para a nação.
Elza Fiuza/ABr
A esperança de realizar as mudanças necessárias para o avanço social está na força da pressão popular
Comparato aponta falta de projeto para o país O despreparo do PT para enfrentar o jogo do poder foi um dos fatores responsáveis pelos desacertos do primeiro ano de governo, na opinião do jurista Fábio Konder Comparato: “Não é que os homens do governo Lula, a começar por ele próprio, sejam ruins, tenham uma deficiência de caráter, longe disso. Só que eles não estavam preparados para enfrentar esse jogo do poder, acharam que iriam dominar o establishment”. Por conta disso, o país envereda por um caminho sem volta, rumo ao crescimento da pobreza e da miséria, à deterioração das pequenas e médias empresas.
Participação popular garante reforma agrária
Capital externo ameaça o ensino público Pág. 13
Criticar Sharon é diferente de ser anti-semita Pág. 12
Samba, a bandeira dos oprimidos Pág. 16
África une-se no combate à Aids em 2004 Pág. 11
Os movimentos sociais do campo acreditaram que no governo Lula a reforma agrária efetivamente sairia do papel. A resposta, em 2003, foi um programa tímido que prevê o assentamento de 500 mil famílias. Para o geográfo Ariovaldo Umbelino de Oliveira, essa é a oportunidade de o governo realizar a reforma agrária pelas vias institucionais. Porém, Oliveira cobra a participação dos movimentos populares para que a reforma agrária não caia na ditadura da burocracia e das elites. Pág. 7
Mercosul: integração para América Latina Em 2003, os governos latinoamericanos que seguiram à risca o modelo defendido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) acumularam fracassos e pereceram diante dos protestos contra o projeto neoliberal, como aconteceu na Bolívia, Argentina, Uruguai, México, Equador e Peru. Contudo, para o cientista político Emir Sader, ainda não há uma proposta articuladora das forças de esquerda e antiimperialistas no conjunto da América Latina. Segundo Sader, a única saída é construir uma alternativa de integração, com projetos de justiça social, democracia e soberania nacional, o que poderia ser feito a partir da experiência do Mercosul. Pág. 10
Agê
Os Estados Unidos e as transnacionais querem acabar com as conquistas sociais do século 20. Crítico do neoliberalismo, o lingüista estadunidense Noam Chomsky acredita que essa ofensiva só será barrada com a mobilização popular. “O povo precisa estar pronto para lutar por um novo projeto de desenvolvimento”, avalia Chomsky. Para ele, o Brasil mudará apenas se romper com o sistema. “A primeira etapa é cancelar o pagamento da dívida externa, que não é legítima”, diz o lingüista. Pág. 9
agência Estado
France Press
EUA armam ofensiva contra direitos sociais
Ao constatar que este governo aprofundou as diretrizes do anterior, Comparato alerta: “É preciso que alguém de fora do Estado diga a eles uma verdade simples: o PT não assumiu o governo para aumentar a miséria do povo”. Em sua avaliação, porém, essa situação não pode durar muito tempo, pois falta uma base econômica para manutenção desse sistema. E cabe ao povo “o poder de impedir, de fixar limites àqueles que mandam”. O que temos de fazer com o PT, segundo o jurista, é mostrar “a realidade que ele não quer ver”. Págs. 4 e 5
Governo cai no conto do livre comércio Pág. 8
Mohamed Habib: transgênico não mata a fome Pág. 3
Em plena crise, mídia patrocina luta ideológica Pág. 14