Circulação Nacional
Uma visão popular do Brasil e do mundo
Ano 5 • Número 220
São Paulo, de 17 a 23 de maio de 2007
R$ 2,00 www.brasildefato.com.br
Valter Campanato/ABr
Unida, esquerda vai à luta dia 23 editorial
A importância da jornada nacional
Papa Bento XVI decide abaixar os vidros do papamóvel na chegada à Aparecida
Não existem mártires capitalistas, diz teólogo da libertação “Ao longo da história, celebramos os mártires do comunismo, mas nunca foram celebrados os mártires do capitalismo”, diz o padre comboniano João Pedro Baresi, referindo-se à polêmica frase de Bento XVI, de que os sistemas “marxista” e capitalista teriam falhado. Em Aparecida, enquanto prosseguem as discussões até o dia 31 entre os bispos participantes da 5ª Conferência do Conselho Episcopal da América Latina e do Caribe (Celam), simultaneamente, movimentos de base da Igreja se reúnem na Tenda dos Mártires da Caminhada, erguida a um quilômetro da basílica. Pág. 6
França caminha em direção aos EUA
Na África, ONU incentiva retorno
Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, o economista Michel Husson avalia que a vitória de Nicolas Sarkozy nas eleições presidenciais francesas intensificou a fragmentação das forças sociais. Para ele, se não houver uma recomposição da esquerda, Sarkozy implementará uma agenda política conservadora e se aproximará do estadunidense George W. Bush. Pág. 11
Cerca de 20 mil refugiados da República Democrática do Congo que vivem na Zâmbia deverão voltar para casa até o fim de 2007. É o que prevê um programa de repatriação voluntária lançado pela ONU, em parceria com os dois países envolvidos. Há hoje 340 mil congoleses fora do país, que passou por uma guerra civil entre 1998 e 2003, com o assassinato de 5 milhões de pessoas. Pág. 10
USP: estudantes ganham apoio em ocupação
Fernão Lopes/MTST
A CONSTRUÇÃO de uma jornada de lutas em 23 de maio, unificando os movimentos populares, organizações sindicais e estudantis de todo o país em torno de uma mesma pauta, constitui importante salto de qualidade na retomada das mobilizações nos últimos anos. Desde o Plebiscito Popular contra a Alca em 2002, não se conseguia unificar tantas forças políticas, movimentos e organizações em torno de um mesmo objetivo. A Plenária Nacional da Assembléia Popular em novembro de 2006 foi o ponto de partida para a construção de um calendário comum de lutas, apontando, desde então, a necessidade de se construir uma jornada nacional em maio de 2007. Enfrentando as dificuldades em relação às diferenças de análises e métodos, as forças políticas de esquerda conseguiram construir uma agenda comum de reivindicações, lutas e mobilizações. Isto é um importante sinal de maturidade. Cada vez mais, é decisivo que as forças populares construam sua unidade de forma autônoma. E somente se consolida esse processo em torno de lutas populares e ações planejadas conjuntamente. Trata-se de construir uma agenda de interesses comuns do povo brasileiro que acabe com a fragmentação das forças sociais que vem ocorrendo desde a primeira posse de Lula em 2003. Essa construção envolve tensões e divergências entre as várias correntes e concepções. Por isso mesmo, exigirá paciência e generosidade entre os que estão empenhados na retomada das mobilizações populares. “Nenhum direito a menos” será a principal palavra de ordem de uma pauta que rejeita as tentativas de reforma previdenciária e trabalhista, a limitação ao direito de greve dos servidores públicos. Exige a manutenção do veto à Emenda 3, reforma agrária e anulação da privatização do leilão da Companhia Vale do Rio Doce. Em torno dessas e outras bandeiras comuns, foi possível unificar a CUT, Conlutas e Intersindical na área sindical, as amplas articulações como a Coordenação dos Movimentos Sociais e a Assembléia Popular, incorporando as principais organizações e movimentos nacionais como o MST, a UNE e a Conam. Outro momento fundamental para esse processo de unidade será o plebiscito popular sobre a anulação do leilão de privatização da Vale do Rio Doce, a ser realizado de 1 a 7 de setembro. Eis por que é fundamental estimular o máximo de movimentos e organizações para que desenvolvam atividades de luta durante a jornada do dia 23 de maio. A somatória de cada manifestação demonstrará a insatisfação com a política econômica e com a violenta ofensiva do capital para suprimir nossos direitos.
Os principais movimentos da esquerda brasileira fizeram, nos últimos seis meses, um esforço em prol da unidade. Construíram uma agenda comum e marcaram para o dia 23 uma jornada nacional de lutas. Como eixo central, o combate ao neoliberalismo, modelo que piora as condições de vida do povo brasileiro há quase duas décadas. As mobilizações prevêem o trancamento de estradas, paralisações nos locais de trabalho e em universidades e manifestações nos centros das grandes cidades (Pág. 5). Em entrevista, Sônia Coelho, da Marcha Mundial das Mulheres, revela que o processo não se encerra nesses atos e que o dia 23 pode ser apenas o começo (Pág. 4). Uma das pautas unificadas das organizações é a Campanha pela Anulação do Leilão da Vale do Rio Doce, cuja privatização completou dez anos e segue sendo contestada na Justiça (Pág. 7).
Os estudantes que ocuparam a reitoria da USP, no dia 3, ganharam um reforço importante: os trabalhadores da instituição entraram em greve, também, em protesto contra os decretos de José Serra que limita a autonomia universitária. Pág. 3
Terra em Transe completa quatro décadas Filme de Glauber Rocha, que inspirou a Tropicália, chegou aos 40 anos no dia 8 de maio. Trabalho foi um dos primeiros a tratar com franqueza o golpe militar de 1964, fazendo um debate sobre os erros da esquerda. 9 771678 513307 00220 Pág. 12
Acampadas há dois meses em Itapecerica da Serra, São Paulo, 3,5 mil famílias sem-teto conquistam terrenos e financiamento