Ano 5 • Número 216
Uma visão popular do Brasil e do mundo
R$ 2,00
São Paulo • De 19 a 25 de abril de 2007
www.brasildefato.com.br Fernando Pinheiro
No dia 15, cerca de 500 famílias do MST ocuparam área de 10 mil hectares do Exército brasileiro, no município de Papanduva, Santa Catarina
Lutas se intensificam em abril Sem-terra, sem-teto, indígenas e desempregados se mobilizam em todo o país contra as injustiças sociais
P
taram em praças de pedágio e transnacionais. Já os sem-teto, da União Nacional por Moradia Popular organizaram atos em 12 Estados para cobrar a inclusão de pessoas de baixa renda em financiamentos habitacionais. E os cerca de mil indígenas, acam-
EDITORIAL
pados em Brasília, exigem novas demarcações de terra. Soma-se à agenda de luta e organização neste mês de abril a realização, em Porto Alegre, do 1º encontro nacional do Movimento dos Trabalhadores Desempregados. Págs. 3, 4, 5 e 6
Vitória do “sim” ao povo latino-americano Marcello Casal Jr/ABr
ara exigir reforma agrária e o assentamento imediato das 140 mil famílias acampadas pelo país, trabalhadores sem terra, organizados pelo MST, ocuparam latifúndios (incluindo um do Exército), realizaram atos em prédios públicos e protes-
Ato marca dez anos do assassinato do índio Galdino dos Santos no local onde ele foi morto
Documentos dos Veto à emenda 3 EUA detalham recebe apoio da morte de civis CUT e Conlutas Quase sempre escondida da opinião pública, a chocante realidade das invasões dos Estados Unidos ao Iraque e ao Afeganistão ficou exposta no dia 12, quando foram divulgados documentos do governo estadunidense em que familiares de civis mortos nas duas guerras pedem, oficialmente, compensação financeira por suas perdas. Nas solicitações, em sua maioria negadas, o comportamento das tropas de ocupação no Oriente Médio é contado em detalhes. É uma família inteira morta enquanto dormia em sua casa. Um filho assassinado em um posto de checagem. Ou então um menino atingido em meio a uma multidão alvejada por soldados. Pág. 7
A CUT e a Conlutas se mobilizam a favor do veto à emenda 3 da lei que criou a Super-Receita. Para as entidades, sua cassação pode flexibilizar direitos. Pág. 4
A competição na sociedade do espetáculo O jornalista Silvio Mieli analisa o Big Brother Brasil e sentencia: programas assim “atraem e paralisam o espectador, despotencializando-o”. Pág. 8
“E
ssa é uma vitória para o povo, para a democracia e para o nosso país”, declarou o presidente do Equador, Rafael Correa, domingo, quando as pesquisas de boca de urna esclareciam, sem sombra de dúvida, que havia vencido o “sim”, com pelo menos 78% dos votos dos 9,2 milhões de eleitores equatorianos, no plebiscito para a convocação de uma nova Assembléia Constituinte. A extraordinária vitória de Correa, que assumiu o mandato presidencial em janeiro, garante ao seu governo mais força e legitimidade para implementar o seu programa, incluindo o fim da extensão da concessão para uma grande base militar dos Estados Unidos, a renegociação de acordos de petróleo, a reestruturação da dívida nacional e outras reformas reclamadas pela Conaie (Confederação Nacional dos Povos Indígenas do Equador) e camponeses. “É fundamental a elaboração de temas que devem fazer parte das discussões da Assembléia Constituinte e da nova Constituição, como a defesa da soberania, a nacionalização dos recursos naturais, a defesa da biodiversidade e a revolução agrária”, declara Luis Macas, presidente da Conaie. As comunidades e organizações de base indígenas pretendem elaborar um corpo de propostas para moldar a nova estrutura política, partidária, jurídica e econômica do país. Há uma forte consciência de que “apenas a unidade das organizações sociais do campo e da cidade derrotará os setores da direita que, como não podem deter a Constituinte, tentarão atacá-la para impor os seus interesses”, afirma Humberto Cholango, da Confederação dos Povos Kichwas do Equador, a organização
mais poderosa da Conaie. A direita, é claro, não se conforma. “Esse governo é uma mescla de caudilhismo do século 19, de populismo da metade do século 20, de socialismo arcaico e de neofacismo”, afirma o expresidente do Equador Osvaldo Hurtado, líder da União Democrata Cristã, que encabeçou a campanha pelo “não”. Não por acaso, são acusações idênticas às que a direita faz contra Hugo Chávez, na Venezuela. A vitória do “sim” demonstra a força de um movimento revolucionário muito profundo na sociedade equatoriana, que nos últimos sete anos foi responsável pela tomada do palácio presidencial, em janeiro de 2000; pela eleição, em 2003, de um coronel do Exército (Lucio Gutiérrez) que assumia um discurso nacionalista e que, no poder, resolveu “esquecer” todos os seus compromissos com o povo; pela deposição, em 2004, desse mesmo coronel; e, finalmente, pela derrota, em janeiro de 2007, de um candidato bilionário (Álvaro Noboa) que jogou todas as suas fichas contra Correa. Como aconteceu na Venezuela, a Assembléia Constituinte equatoriana nasce com a inequívoca vocação de re-fundar o Estado sobre novas bases, sobre os escombros do falido sistema representativo liberal burguês. Exatamente por isso, no panorama da América Latina, a vitória do “sim” reforça a tendência à radicalização da luta antiimperialista. Oxalá prospere!
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