BDF_210

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Ano 5 • Número 210

Uma visão popular do Brasil e do mundo

INVASÃO DO IRAQUE

EUA impõem lei para ficar com petróleo

www.brasildefato.com.br

Master Sgt. Andy Dunaway

São Paulo • De 8 a 14 de março de 2007

R$ 2,00

Transnacionais do setor poderão controlar jazidas iraquianas por até 35 anos amplo acesso à exploração, produção, transporte e comercialização do petróleo e do gás natural iraquianos. O controle das companhias sobre as jazidas pode ser estendido para até 35 anos; alguns dos contratos garantirão lucros por até 25 anos. Em troca, as empresas terão que pagar apenas 12,5% de royalties para o Estado. Pág. 7

Soldados estadunidenses, provenientes de um destacamento do Havaí, patrulham vila iraquiana no último dia 27

A luta dos agricultores no Mali Produtores rurais de Sélingué, cidade que sediou o Fórum Mundial pela Soberania Alimentar, relatam suas dificuldades pa-

ra sobreviver no mundo globalizado, que beneficia as grandes transnacionais, em detrimento dos pequenos produtores. Na

declaração final do evento, participantes reforçaram a luta contra o neoliberalismo Pág. 6

Dafne Melo

S

e ainda restava alguma dúvida sobre as motivações da invasão do Iraque pelos EUA, há quatro anos, ela acabou de ser desfeita. No dia 26 de fevereiro, o governo iraquiano aprovou, e apresentou ao Parlamento, o esboço de uma nova lei para o setor petrolífero do país. Se aprovada pelo Legislativo, as novas regras permitirão que empresas estrangeiras tenham

EDITORIAL

Sem acordos com Bush

“D

o ponto de vista estadunidense, o que mais importa dessa viagem é a visita ao Brasil. México e Colômbia têm uma prioridade estabelecida por temas como fronteira, migração, segurança e intercâmbio econômico. Mas o Brasil é visto como uma liderança de esquerda democrática com possibilidade de ter influência moderadora sobre Venezuela e Bolívia”, diz Rubens Barbosa, ex-embaixador do Brasil em Washington, sobre a visita do presidente George Bush ao Brasil, Uruguai, Colômbia, Guatemala e México, entre 8 e 14 de março. Aparentemente, Bush quer mesmo transformar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu principal interlocutor latino-americano, com o objetivo de isolar os presidentes Hugo Chávez e Evo Morales. Mas há outro aspecto dessa visita, bem mais concreto e possível de ser contabilizado em barris: a questão energética. Bush quer diminuir ao máximo a dependência do petróleo venezuelano, responsável pelo abastecimento de 25% do mercado estadunidense. No médio prazo, o álcool de cana brasileiro poderia substituir o “ouro negro” da Venezuela. Como contrapartida, a Casa Branca exige que: 1) o álcool produzido no Brasil tenha o mesmo padrão tecnológico que o produzido nos Estados Unidos; 2) que o produto seja registrado como um bem energético e não como commodity agrícola, para escapar aos acordos internacionais que, no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), regulamentam as negociações desse tipo de produto, e para permitir, eventualmente, que os Estados Unidos suspendam as barreiras protecionistas à importação do álcool; 3) que o Brasil permita que o capital estadunidense controle as usinas, diretamente ou por meio de joint-ventures. À primeira vista, o acordo parece favorecer os usineiros brasileiros, que poderiam ampliar as exportações para o

mercado mais poderoso do planeta. Ilusão. Caso caia mesmo a barreira imposta ao álcool brasileiro – diz o usineiro Maurílio Biagi Filho –, não haverá uma explosão da exportação, mas sim um investimento maciço de capitais estadunidenses em usinas brasileiras. “Ano passado, 3,4% do setor estava desnacionalizado; este ano chegará a 5%. Em dez anos, metade não será mais brasileira”, diz Maurílio, que vendeu, em 2006, a área industrial de sua usina Cevasa, em Patrocínio Paulista, para a transnacional Cargill. O setor espera exportar 4 bilhões de litros de álcool este ano, ante 2,3 bilhões em 2006, que renderam 1,6 bilhão de dólares, o dobro de 2005. Em quatro anos, serão investidos 2,5 bilhões de dólares na produção de álcool e 77 usinas serão construídas até 2012. No Brasil, há 6 milhões de hectares de canaviais, área que cresceu 13% nos últimos três anos. Em São Paulo, só em José Bonifácio, a área plantada triplicou nas duas últimas safras. No Centro-Sul, a área deverá crescer de 4,6 milhões para 5 milhões de hectares. É fácil imaginar as conseqüências que tal expansão terá para o meio ambiente (monocultivo da cana em todo CentroOeste, Amazônia e Cerrado) e para o modelo agrícola brasileiro (maior concentração da propriedade da terra, mais desemprego e êxodo rural). E o pior é que, a julgar pelas notícias divulgadas na mídia, tanto o presidente Lula quanto a ministra Dilma Roussef estão eufóricos com essa possibilidade. Nesse quadro, apenas a mobilização de jovens e trabalhadores podem e devem expressar, nas ruas, a disposição de luta em defesa da soberania nacional e contra o imperialismo. “Fora Bush” – é o grito que traduz os anseios daqueles que não abandonaram o desejo e a esperança de construir um Brasil mais justo, ecologicamente equilibrado e senhor de seu próprio destino.

Mulheres plantam arroz em fazenda na cidade de Sélingué, Mali, país africano que sediou, entre os dias 23 e 27 de fevereiro, o Fórum Mundial pela Soberania Alimentar

Economia do Brasil permanece vulnerável Pág. 5

Zezé Motta: país tem dívida com os negros Pág. 8


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