BDF_208

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Uma visão popular do Brasil e do mundo

Ano 5 • Número 208

R$ 2,00

São Paulo • De 22 a 28 de fevereiro de 2007

www.brasildefato.com.br

No Brasil, apenas 13,4% dos meninos e meninas com até 3 anos possuem acesso à educação infantil

Ferdinand Reus/Creative Commons

Onze milhões de crianças sem creche F

amílias de baixa renda vivem um drama ignorado pelos governos: onde deixar meu filho? Apenas 1,7 milhões de crianças têm acesso à educação infantil. Especialistas consideram que o aprendizado na faixa etária de 0 a 3 anos é fundamental para o desenvolvimento intelectual do ser humano. Para o pesquisador Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas, crianças que freqüentaram escolas, nessa fase, possuem renda mais alta e menor índice de criminalidade na idade adulta. Enquanto isso, a União (governo federal, Estados e municípios) investe no ensino infantil menos de 0,3% do que gasta com a dívida pública. “O poder público está se furtando de cumprir a sua missão fundamental, que é a educação”, afirma a professora aposentada da PUC-SP, Aldaíza Sposati. Pág. 3

Conferência – Entre os dias 23 e 27, acontecerá no Mali, país africano, o fórum mundial sobre soberania alimentar; na foto, a maior construção em areia feita pelo homem, a mesquita de Djenné, considerada pela UNESCO patrimônio mundial

EDITORIAL

Retomar a luta

Irã, novo alvo para os EUA pode ser descartada. Segundo especialistas ouvidos pelo Brasil de Fato, neoconservadores do governo de George W. Bush e grupos das Forças Armadas

P

defendem um ataque como forma de barrar o crescimento do poder iraniano no Oriente Médio. Pág. 7 Eleventh Earl of Mar

Embora uma ação militar estadunidense contra o Irã seja, na atual conjuntura, insensata, como definem muitos estudiosos do assunto, tal alternativa não

Mais uma vez, o presidente estadunidense George W. Bush pode se fazer valer de mentiras, agora para atacar o Irã; num truque de computador, a palavra “mentiroso” aparece tatuada em sua testa

Juro alto é uma opção ideológica do governo Lula Pág. 4

A falácia do risco da falta de energia

Segurança pública deve servir a todos

Pág. 5 Depois do assassinato de um menino de seis anos com a participação de um adolescente, Congresso começa a votar mudanças na legislação, entre elas a redução da maioridade penal. Em entrevista, o pesquisador Marcelo Freixo diz que “não adianta fazer mudança nas leis sem investir na alteração do sistema penitenciário”. Pág. 8

assado o carnaval, as férias de verão e as festas de Natal e Ano Novo, o Brasil entra agora na rotina de 2007 com as pessoas mais atentas aos reais problemas do povo e do país. Nos últimos dias, a mídia hegemônica explorou o drama da violência urbana – uma guerra permanente com milhares de vítimas, principalmente jovens de 15 a 24 anos, fruto da desigualdade gerada pelo capitalismo e da ausência de serviços públicos e do Estado propriamente dito nas concentrações populacionais de baixa renda. Se não houver vontade política dos governos para implementar uma ação ampla contra o narcotráfico, proteger crianças e adolescentes assim como reduzir os bolsões de miséria, a violência continuará assassinando – todos os dias – impiedosamente. Nas escolas, a juventude brasileira sofre com o descaso do ensino e com o processo de privatização. Pesquisas recentes dos órgãos federais comprovam que a qualidade do processo ensinoaprendizagem piorou nos últimos dez anos – com queda no conhecimento das disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática. Mais de dois milhões de jovens que concluíram o ensino médio em 2006 não poderão continuar seus estudos na universidade em 2007, principalmente porque mais de 70% das vagas no ensino superior estão nas mãos de instituições privadas, com cursos pagos, e porque o sistema de bolsas do governo abrange menos de 10% do público potencial e interessado. Agora é tempo de lutar. A Igreja Católica inicia o cotidiano de 2007 com a Campanha da Fraternidade centrada na Amazônia. Sob o lema “Vida e missão neste chão”, a campanha chama a atenção para a destruição ambiental, a invasão estrangeira e a urgência da promoção humana naquela

região do país. A campanha se propõe a mobilizar amplos setores da sociedade para enfrentar os desafios e a promover ações em defesa da biodiversidade e do povo da Amazônia. Agora é tempo de lutar. Os movimentos feministas e as organizações das mulheres do campo e da cidade estão preparando grandes manifestações em várias cidades brasileiras no Dia Internacional da Mulher – 8 de março –, este ano com foco na soberania alimentar, na luta contra os transgênicos e o agronegócio, além das questões mais específicas da discriminação e da violência contra as mulheres trabalhadoras. Nesse dia, deve desembarcar em Brasília o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush – que merece o repúdio do povo brasileiro –, já que até mesmo em seu próprio país vem sendo acusado de ser um dos principais responsáveis pelo terrorismo internacional. O 8 de março é um dia histórico, de reflexão e de luta, instituído para homenagear as 129 operárias de uma fábrica têxtil, de Nova York, que foram assassinadas (carbonizadas dentro da fábrica) durante um protesto por melhores condições de trabalho, em 1857. No Brasil, embora as mulheres tenham conquistado inúmeros direitos ao longo do século 20, existe ainda uma situação de muita desigualdade nas várias atividades privadas e profissionais, na remuneração do trabalho – fruto do preconceito e da exploração capitalista. O Dia Internacional da Mulher é o dia da união de todos – mulheres e homens da cidade e do campo – para a construção de um outro Brasil, mais democrático, mais justo e mais igualitário. É um dia de solidariedade e de luta. É o dia de dizer não ao imperialismo de George W. Bush. Agora começa 2007 pra valer. Viva o ano novo.


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