BDF_203

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Uma visão popular do Brasil e do mundo

Ano 4 • Número 203

São Paulo • De 18 a 24 de janeiro de 2007

R$ 2,00 www.brasildefato.com.br

O desastre da privatização do Metrô O desabamento das obras de uma estação em São Paulo pode ter sido resultado da sucessão de falhas de empreiteiras

A

lógica de privatizações e terceirizações implementada pelo governo paulista, há 12 anos liderado pelo PSDB, pode ter sido a principal causa do desabamento nas obras da linha 4 do Metrô, que vitimou sete pessoas, no dia 12. As cinco maiores empreiteiras do país acumularam as funções

de executoras e fiscais da obras. O corpo técnico do Metrô não participou do projeto, explorado pelas empresas em regime de Parceria Público-Privada. As empreiteiras culparam a chuva pela tragédia. Geólogo afirma que essa justificativa é “um absurdo técnico e moral”. Pág. 3

Lula suspende leilão de rodovias federais O governo Lula sinalizou com uma mudança na condução liberal da economia: no dia 9, suspendeu a concessão de sete rodovias federais à iniciativa privada. A medida gerou temor

no mercado financeiro. Pode não ser uma grande guinada, mas questiona o modelo concentrador de renda, dominante desde o governo Fernando Henrique. Pág. 4

EDITORIAL

Equador: bom começo intensa – nos quatro cantos do planeta. Os últimos anos têm se caracterizado pela crise de legitimidade do modelo neoliberal. Já não conseguem coesionar as classes dominantes e sua capacidade de propaganda vai perdendo força. É verdade que o império conserva uma imensa força e capacidade de manobra, mas sua previsível derrota na invasão do Iraque é o melhor retrato da nova conjuntura que vai se desenhando. A comparação com a derrota no Vietnã é inevitável. Ao mesmo tempo em que o fracasso militar se anuncia a economia estadunidense segue emitindo constantes sinais de desaquecimento. Ainda que imprevisível na data e profundidade, a probabilidade principal é trabalhar com a hipótese de um futuro impacto econômico, político e militar com conseqüências mundiais. Uma crise dessa natureza representará uma inflexão importante na conjuntura internacional, dando início a um rearranjo de longo fôlego, que conduzirá a uma nova multipolaridade, tendo a Europa e a China como centros emergentes. Mas o mais importante, uma crise intensa, cujo epicentro são os EUA, poderá abrir uma nova época e até mesmo uma nova janela para as transformações sociais, pois tais momentos se caracterizam pelo rearranjo da correlação de forças mundial e a aceleração dos ritmos históricos através da agudização da luta de classes e do conseqüente surgimento de possibilidades revolucionárias. Cada vez mais crescem os indícios de que estamos ingressando em um novo período histórico onde já se prenuncia o reascenso da luta de massas. É o momento de consolidar a unidade programática e de ação entre as forças que apostam num Projeto Popular para o Brasil. O momento de investir na formação de uma juventude capaz de cumprir os desafios que a história nos colocará. Podemos concordar com o novo presidente do Equador de que não estamos numa época de mudanças, mas já ingressamos numa mudança de época.

Os rumos da Venezuela socialista O anúncio feito pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, de que irá nacionalizar as empresas privatizadas dos setores de energia e telecomunicações,

demonstra claramente a intenção de fortalecer o papel do Estado na economia do país. Para o cientista político Theotônio dos Santos, tal medida, junto com a

participação popular, é uma das condições básicas para a construção do socialismo do século 21, pretendido por Chávez. Pág. 7

Marcelo García

C

omeçou bem o novo governo de Rafael Correa no Equador. Já na posse o novo presidente propôs “uma ação coordenada dos países devedores para redefinir o critério de sustentabilidade do serviço da dívida, determinar a dívida externa ilegítima e promover a criação de um Tribunal Internacional de Arbitragem da Dívida”. Além disso, deixou claro que não firmará Acordo de Livre Comércio com os EUA e anunciou que não renovará o Tratado que permite a utilização da base aérea de Manta pelas Forças Armadas estadunidenses. Também reafirmou sua postura soberana ao afirmar que a única possibilidade de aceitar a renovação da Base de Manta é que os EUA aceitem uma base militar equatoriana em Miami. Iniciando sua gestão com a convocatória de uma Assembléia Nacional Constituinte, em cada discurso sinaliza que seu governo estará empenhado em construir uma força social na perspectiva transformadora. A presença do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, dá a dimensão do significado dessa posse na resistência mundial ao imperialismo. Ao lado de Chávez, que recentemente anunciou a intenção de rumar na construção do socialismo, e de Evo Morales, que vem cumprindo seus compromissos populares, as fotos da posse equatoriana retratam uma nova correlação de forças que vai se constituindo. O século 21 inicia promissor para a luta popular em nosso continente. A aplicação da receita neoliberal empurrou nossos povos para a ação política. A característica central das mobilizações populares é seu nítido caráter antiimperialista. Após uma prolongada hegemonia, as idéias e as políticas neoliberais encontram-se hoje na defensiva. São acossadas tanto por forças internas, mobilizadas de maneira crescente, quanto por uma expansiva coalizão de atores globais que passaram de uma resistência tenaz ao projeto de iniciar uma ofensiva. Esta já se faz sentir – ainda que com desigualdade

Correa, ladeado por Chávez e Evo: mais um nome do “socialismo do século 21”

Na comunicação, governo expõe sua contradição Enquanto entidades da sociedade civil e empresas de comunicação estatais discutem no Fórum Nacional de Televisão Pública as diretrizes para um sistema nacional de comunicação pública, Hélio Costa, ministro das Comunicações, lança a proposta de criar uma rede nacional de rádios. De acordo com especialistas, se concretizado, o projeto pode atropelar o processo do Fórum. Pág. 5

Presidente equatoriano se alia a Chávez e Evo O novo presidente do Equador, Rafael Correa, seguindo os passos de Evo Morales e Hugo Chávez, pretende construir a agenda do socialismo do século 21. Em sua posse, ele enfatizou

a integração continental e enalteceu o poder dos povos indígenas. “A região não está vivendo uma época de mudanças, mas uma mudança de época”, afirmou. Págs. 2 e 6

Violência África, matriz contra a mulher formadora da cresce em 2006 cultura nacional A aprovação da Lei Maria da Penha, em 2006, não foi suficiente para conter os índices de violência contra a mulher. Estatísticas das delegacias especializadas comprovam altos índices de agressões. Pág. 5

A UNE lança a 5ª Bienal de Cultura em janeiro, que pretende reunir 15 mil pessoas para discutir a importância do continente africano na formação da identidade nacional e o intercâmbio cultural entre Brasil e África. Pág. 8


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