BDF_201

Page 1

Uma visão popular do Brasil e do mundo

Ano 4 • Número 201

São Paulo • De 4 a 10 de janeiro de 2007

R$ 2,00 www.brasildefato.com.br João Zinclar

A VIDA E O RIO - Ensaio do fotógrafo João Zinclar percorre as margens do rio São Francisco e testemunha a luta dos ribeirinhos para resistir frente ao avanço do latifúndio e do hidronegócio

Pág. 8

Reforma agrária chega às periferias N

uma experiência inédita e recente, o MST organiza um novo modelo de reforma agrária chamado Comuna da Terra, que consiste em organizar assentamentos em pequenos núcleos, perto de grandes cidades, para trabalhadores urbanos que já foram agricultores ou que podem vir a ser. A primeira comuna, o assen-

tamento Dom Tomás Balduíno, foi implementada em Franco da Rocha (SP). Um aspecto importante do modelo é em relação à produção e à comercialização, já que localização das comunas permite um tipo de cultura agrícola que garante renda num espaço menor de terra e também facilita o escoamento. Pág. 3

Francisco Rojas

Em São Paulo, sem-terra criam um novo modelo de assentamento, chamado Comuna da Terra

Governo criminaliza os pobres na França Mais de um ano após a onda de revoltas de jovens nas periferias das cidades da França, o governo reforça a segregação dos imigrantes e ignora a dificuldade que as pessoas pobres têm para encontrar emprego. Em vez de

investir em projetos estruturais contra a desigualdade, nove leis sobre delinqüência foram aprovadas desde 2002, quando Nicolas Sarkozy assumiu o Ministério do Interior. Pág. 7

Faixa de Gaza vive crise humanitária

EDITORIAL

Além do fim do repasse de verbas por parte de Israel e da União Européia, a população da Faixa de Gaza, na Palestina, ainda teve que enfrentar, entre junho e novembro de 2006, massivos ataques militares israelenses. Centenas de pessoas morreram, e boa parte da infra-estrutura foi destruída. A historiadora Arlene Clemesha qualifica a situação atual de “desastre humanitário”. Pág. 6

Na área rural das grandes cidades, as Comunas da Terra permitem que os sem-terra não tenham de se deslocar centenas de quilômetros para conquistar um pedaço de chão; na foto, Comuna em Franco da Rocha, na região da Grande São Paulo

Mudança de época ou época de mudanças?

O

economista Rafael Correa, recém eleito presidente do Equador, disse, em encontro com o presidente Lula, que a América Latina não estava vivendo apenas uma época de mudanças, mas sim uma mudança de época, numa referência clara à forte reação ao ciclo de políticas neoliberais que devastaram a região. Ficou implícito no raciocínio do dirigente equatoriano que a conjuntura política latino-americana estaria tomando o rumo de transformações sociais, que entenderia por época de mudanças. A eleição e a reeleição de dirigentes apoiados pelo campo popular, na Argentina, no Uruguai, na Bolívia, na Nicarágua, no Equador, na Venezuela e no

Brasil, são a expressão exata de que na América Latina estaria ocorrendo exatamente o contrário do que calculavam os que já cantavam a vitória da Alca. E também é importante considerar a importância da votação do candidato de esquerda no Peru, da derrota da direita no Chile e também da situação de duplo poder que emergiu das eleições mexicanas, um país consulsionado, um presidente que teve de sair pelos fundos do palácio após a cerimônia de posse. Mas, também no campo social, há algo a mencionar. A Venezuela é hoje um país livre do analfabetismo, conforme reconheceu a Unesco! Isso, sim, tem a dimensão de uma mudança de época, já que o analfabetismo é

uma mazela comum a todos os demais países. Com exceção de Cuba, que erradicou o analfabetismo com apenas um ano de revolução. Algo que, sim, sinaliza época de mudanças sãos projetos como a Aliança Bolivariana para América Latina (Alba), com realizações já concretas, como a Operação Milagro, pela qual centenas de milhares de cidadãos pobres de vários países estão sendo submetidos a cirurgia de cataratas em Cuba e Venezuela, tudo gratuitamente. O levantar do povo boliviano, as medidas iniciais para a realização da reforma agrária e a nacionalização do gás e do petróleo também indicam uma caminhada rumo a mudança de

épocas. Na mesma dimensão, estão as políticas que favorecem a integração latino-americana, apesar de toda a pressão dos EUA e da mídia colonizada. Por isso, os governos e movimentos sociais progressistas não podem ignorar as condições criadas para uma política de unidade antiimperialista mais profunda, com o atendimento das necessidades socioeconômicas gritantes das massas pobres, buscando aprender das dolorosas lições do passado, seja do golpe do Chile em 1973, ou no Brasil em 1964, e também dos processos de sabotagem contra os líderes nacionalistas revolucionários, como Alvarado, no Peru, Torrijos, no Panamá, e outros, nem sempre compreendidos pela esquerda.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.
BDF_201 by Brasil de Fato - Issuu