Ano 4 • Número 199
Uma visão popular do Brasil e do mundo
R$ 2,00
São Paulo • De 21 a 27 de dezembro de 2006
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Natal, celebração do consumo Solange Engelmann/MST
A data, que marca o nascimento de Jesus Cristo, se desvirtuou de seu caráter místico e se tornou a expressão de ideais individualistas
E
specialistas em economia, mídia e religião explicam como a celebração do nascimento de Jesus Cristo se transformou na data mais importante para o capitalismo. O consumismo, amparado pela mídia, espalha a lógica do “compro, logo existo”. O papai noel criado pela transnacional
Coca-Cola assume a posição do “santo presenteador”, ícone principal do Natal, mera obra de publicidade. E os cristãos, que vão obedecendo a ideais individualistas e de acumulação do capital, substituem a celebração do nascimento de Cristo pelo consumo desenfreado. Pág. 5
Contra Evo, Estados querem independência Quatro dos nove Estado bolivianos (Santa Cruz, Pando, Beni e Tarija) ameaçam declarar independência, com eleições próprias. As regiões, controladas pela oposição ao governo,
são responsáveis pelas maiores divisas do país. Evo Morales afirmou que não vai permitir a separação, cujo objetivo, denuncia, é apenas desestabilizá-lo. Pág. 7
EDITORIAL
O que é mais vergonhoso? Leve em conta ainda que, ao mesmo tempo em que defende transferência de mais de R$ 160 bilhões, anualmente, para os cofres dos banqueiros nacionais e internacionais, a maioria dos parlamentares tem como maior preocupação a criação de CPIs contra os movimentos sociais e contras as ONGs. Para esses parlamentares, o problema não é a rapinagem que ocorre em nosso país. O problema é o povo brasileiro! Assim, se você conhece tão bem o Congresso Nacional, por que se surpreender com o aumento de quase 91% dos seus próprios salários? Eles estão legislando em causa própria. Não deveria haver nenhuma surpresa para você. A maioria dos parlamentares dá ao Congresso Nacional um o retrato fiel da burguesia brasileira: desprezo pelo patrimônio e riqueza pública e oportunismo pessoal. Não é sem razão que a mídia burguesa protege seus parlamentares, mesmo frente à imoralidade desse aumento que ela finge criticar. Alguém viu o nome ou a fotografia nos jornais dos líderes do PFL e PSDB que ajudaram a aprovar esse aumento? Já o presidente do Congresso, deputado Aldo Rabelo (PCdoB) e o líder do PT, deputado Arlindo Chinaglia, a todo momento precisam dar explicações sobre porque concordaram com o aumento. Ao se juntar com a direita, estes estão ficando com o ônus da política exercida de costas para o povo e contra ele. Tudo isso porque o primeiro quer se manter no cargo que ocupa hoje e o segundo quer seu lugar. O presidente do Congresso Nacional teve, ainda, o desplante de dizer que, numa democracia, todos têm o direito de discordar da proposta e de se manifestar, mas que a decisão dos líderes do Parlamento não será mudada. Esqueceu apenas de dizer que, numa democracia, o que impera é a vontade do povo. E povo um dia saberá cobrar esse seu direito.
O presidente boliviano Evo Morales conta com o respaldo do povo para evitar um golpe de Estado contra seu governo Maurício Scerni
No dia 14, numa reunião dos líderes dos partidos políticos com as duas Mesas Diretoras do Congresso Nacional, uma questão foi posta em discussão: qual deveria ser o salário dos deputados federais e os senadores para a próxima legislatura? Duas propostas foram apresentadas: a que defendia que o reajuste deveria se limitar à reposição da inflação dos últimos 4 anos – em torno de 28% – o que elevaria o salários dos parlamentares dos atuais R$ 12.847 para R$ 16.500. E, a outra, defensora de que os salários dos parlamentares deveriam se igualar ao teto do Supremo Tribunal Federal (STF), elevando os salários para R$ 24.500 – um aumento de 90,7%. Qual das duas propostas você acha que foi aprovada, por unanimidade, naquela reunião? Para responder a essa questão, não se guie por princípios éticos. Também não leve em conta que o atual salário mínimo é de R$ 350 e esse mesmo Parlamento discute se o aumento deverá elevá-lo para R$ 367 ou R$ 375, mas jamais chegar até os R$ 420 exigido pelas centrais sindicais. Também não considere que o Brasil é um dos países campeões em desigualdade social, perpetuada há décadas graças às políticas econômicas respaldadas pelo Parlamento brasileiro. Se você seguir esses critérios, certamente não acertará a resposta acima. Se quiser acertar a resposta, lembre-se de que o Parlamento colaborou com a onda de privatizações do governo FHC, demonstrando já naquela oportunidade seu total desprezo pelo patrimônio público. Tenha presente que as CPIs para apurar a corrupção interna do Congresso deram em nada. Não se esqueça de que a maioria dos parlamentares que se reelegeram para o próximo mandato contou com apoios milionários dos grupos econômicos internacionais, como a Monsanto, Aracruz Celulose e Companhia Vale do Rio Doce.
Brasil, outros 500 anos – Maurício Scerni, fotógrafo colaborador do jornal Brasil de Fato, conquistou o primeiro lugar no 3° Salão Nacional de Fotografias da Cidade de Votorantim, interior de São Paulo, com esta foto tirada na Bahia na véspera do dia 22 de abril de 2000, numa das vielas da cidade de Porto Seguro, Estado da Bahia
Vitória parcial contra o milho transgênico Pág. 3
Difundir a igualdade racial pelo samba
Saneamento: lei favorece o capital privado
Pág. 8 Congresso aprova lei proposta pelo governo Lula que regulamenta o serviço de saneamento básico e abre mais espaço para as empresas. “O Estado não pode transferir ao capital privado esse direito humano fundamental. Recursos para investir existem, só precisam ser canalizados, garantidos e priorizados”, afirma Luiz Fernando Novoa Garzon. Pág. 4