Ano 4 • Número 195
Uma visão popular do Brasil e do mundo
R$ 2,00
São Paulo • De 23 a 29 de novembro de 2006
www.brasildefato.com.br
Movimentos sociais do país desafiam a ordem política instituída e criam formas de organização alternativas
U
m novo México insurgente. Movimentos populares no Estado de Oaxaca enfrentam diariamente nas ruas a polícia. Reinventam a política, criando novas formas de organização, sem líderes. Recebem o apoio dos zapatistas que, no dia 20, fizeram manifestações em Chiapas. Ao mesmo tempo,
Andrés Manuel López Obrador, apoiado por várias entidades mexicanas, tomou posse de um governo paralelo, em resistência à classe dominante do país. Nesse contexto de luta, a população pobre, outrora humilhada e apática, começa a acreditar que um novo México é possível. Pág. 7
Divulgação/Assessoria Andrés López Obrador
Lutas impõem novo rumo ao México
Dois anos após o massacre de Felisburgo, quando cinco semterra foram assassinados e 12 ficaram feridos, os assassinos e o mandante do crime, o fazendeiro Adriano Chafic Luedy, continuam
em liberdade. O MST e entidades de direitos humanos reivindicam a indenização às famílias das vítimas do crime e a desapropriação da fazenda de Chafic. Pág. 5
Reduzir auxílios sociais não distribui renda
Resultado de eleição gera crise no Congo
Economistas revelam que o sistema financeiro está ávido pela reforma da Previdência, com o objetivo de preservar seus lucros. A economia no orçamento público seria apenas um embuste. Segundo a Unafisco, para o Brasil crescer, é preciso reduzir os encargos da dívida pública, que pressionam a carga tributária. Pág. 4
O resultado das eleições presidenciais na República Democrática do Congo (RDC) foram o estopim de um conflito entre apoiadores do vitorioso, o atual presidente Joseph Kabila, e do candidato derrotado, Jean-Pierre Bemba. Este, o vice-presidente do país, acusa Kabila de ter fraudado o pleito. Pelo menos, 23 pessoas morreram. Pág. 6
A promiscuidade Haitianos exigem entre candidatos saída de tropas e empresas e fim da dívida Pág. 3
Pág. 6 Joka Madruga
No Paraná, mulheres sem terra protestam contra o bloqueio do repasse de verbas para a assistência técnica aos assentamentos
Edesc/Creative Commons
Felisburgo: assassinos de sem-terra ainda impunes
Multidão acompanha a posse “legítima” do governo paralelo de López Obrador, no dia 20, no Zócalo da Cidade do México ao mesmo tempo em que a Comuna de Oaxaca (foto abaixo) continua a se organizar sob o lema “sem líderes”
EDITORIAL
Agenda do povo ou da elite? Mal terminaram as eleições — em que a direita representada por seu candidato Geraldo Alckmin foi fragorosamente derrotada, e que 60% da população preferiu manter o governo Lula frente às ameaças de retrocesso –, as classes dominantes voltaram a atuar articuladas. De um lado, a chamada grande mídia continuou a atacar o governo, os movimentos sociais, a exigir repressão (vide matérias sobre ocupação da fazenda irregular da Syngenta) e pressionar o governo tentando influenciar na linha política e na composição dos ministérios. Do outro lado, os mais ilustres representantes da classe dominante, não mais os presidentes do PFL e PSDB que demonstraram incompetência, mas agora assumiram o comando diretamente, os senhores Henrique Meirelles (com seus 20 banqueiros), Jorge Gerdau, Roger Agnelli (da Vale), Benjanim Steinbruch (CSN) etc. E passaram a se reunir com freqüência com o presidente Lula, como se não tivéssemos tido eleições. Como se o povo não tivesse feito nenhuma opção. Os sinais da agenda da classe dominante brasileira são claros. Querem mais dinheiro público e liberdade para fazerem seus investimentos estratégicos de infra-estrutura, de exploração de minérios e recursos na Ama-
zônia. Para isso, precisa dar um “chega pra lá” no Ibama etc. O ilustre comandante da direita brasileira, senhor Gerdau, teve a petulância de pedir ao presidente nada menos do que o BNDES para quem sabe administrar, a seu bel-prazer, o maior naco da poupança nacional, os R$ 80 bilhões anuais, que o maior banco de investimentos públicos do mundo aplica, sem nenhum controle externo. Na frente parlamentar, as vozes da direita insistem que precisamos de nova reforma da Previdência. Que precisamos flexibilizar os direitos trabalhistas. Que precisamos reduzir a carga tributária. Tudo isso para diminuir a renda dos salários, dos trabalhadores, e aumentar a renda do capital, dos burgueses. Já não bastasse o estrago feito nesses 15 anos de neoliberalismo em que a divisão da renda nacional passou de 45% destinada ao capital para nada menos do que 62%. Enquanto o trabalho fica com apenas 38%. Nunca, na história do Brasil, os que vivem do trabalho ficaram com tão pequena participação na renda nacional. O ministro Luiz Dulci, em palestra aos membros da Quarta Semana Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), garantiu que essa não é a agenda do governo, e que nenhum direito dos trabalhadores
será reduzido. E que o governo pretende implementar uma nova política de desenvolvimento baseada na distribuição de renda. Já os movimentos socais, as pastorais, a CUT e outros movimentos populares têm anunciado publicamente que o Brasil precisa de um novo projeto de nação. Um projeto que seja baseado numa política econômica voltada para resolver os verdadeiros problemas do povo brasileiro. E os problemas fundamentais do povo brasileiro são o direito ao trabalho, à terra, à educação, à renda, moradia e cultura (como o Brasil de Fato tem mostrado em suas edições semanais). Essa é a verdadeira situação da luta de classes neste momento. Do lado da burguesia, como avisou o nobre governador de São Paulo, professor Cláudio Lembo, as classes dominantes não têm nenhum escrúpulo de compor com o governo Lula, pois seu objetivo sempre será manter as taxas de lucro e se manter “mamando” no Estado. O novo governo foi eleito para mudar. Com a palavra, o presidente Lula!