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Ano 4 • Número 191

Uma visão popular do Brasil e do mundo

R$ 2,00

São Paulo • De 26 de outubro a 1º de novembro de 2006

www.brasildefato.com.br

Em campanha pela reeleição de Lula, movimentos sociais debatem nas ruas um projeto de mandato realmente voltado para os mais pobres

N

os dez últimos dias que antecedem o segundo turno das eleições, marcado para 29 de outubro, a militância social promove em 17 capitais muito mais que panfletagens a favor da reeleição de Lula. Os ativistas foram às ruas para discutir com a população um projeto popular para o Brasil. Os movimentos servem de contraposição à cobertura da grande imprensa que, segundo pesquisas, apóia descarada-

Ricardo Stuckert

Rumos para um governo popular mente o tucano Alckmin. Em paralelo, os movimentos sociais se reuniram, em 19 de outubro, em Brasília, com o ministro Patrus Ananias para entregar um documento com 13 propostas e cobrar uma audiência com o presidente tão logo termine a eleição. A luta será longa. Para economistas ouvidos pelo Brasil de Fato, ambas as campanhas não rompem com o modelo econômico neoliberal. Págs. 3, 4 e 5

EDITORIAL

Reeleger Lula. Mas é preciso organizar o povo

E

stamos chegando ao final de mais uma etapa do calendário eleitoral. Pelo que tudo indica, Lula deverá ser reeleito, com ampla margem de votos e com suficiente apoio popular, apesar do susto que a direita nos deu, no primeiro turno. Em alguns Estados, a direita conseguiu se articular e centralizar de tal maneira suas ações políticas, que provavelmente irá manter o controle de diversos governos estaduais, alguns já eleitos no primeiro turno. Por outro lado, continuou vergonhosa e despudoradamente a prática da maior parte dos veículos de comunicação social, em especial, jornais, revistas e rádios, atuando de forma acintosa a favor da candidatura Alckmin. Pelo menos nos ajudaram a entender, e provar, o que muitos ainda se iludiam: não há imprensa da classe dominante neutra ou democrática. Ela sempre vai defender os interesses da classe dos seus proprietários nas batalhas derradeiras, contra os interesses populares. Felizmente, entre o primeiro e o segundo turno das eleições, as parcelas mais conscientes da nossa sociedade, das mais diferentes formas de organização social, sejam pastorais, membros de diferentes denominações religiosas, movimentos populares locais e praticamente todos os movimentos sociais do país juntaram forças para derrotar a direita. Essa energia positiva foi percebida nas conversas entre as pessoas, nas discussões políticas e nas redes criadas pela internet. Refletiu-se no tom dos debates entre os candidatos. Na postura dos dirigentes partidários, que antes queriam manter a campanha em tom cordato, mas a direita não perdoou. Assim, o próprio presidente Lula reconheceu que a forma como se chegou ao segundo turno e as reações que provocou na campanha eleitoral, acabaram sendo positivas para o processo de conscientização política das classes populares. Embora esteve muito aquém de ser, de fato, uma campanha de amplas mobilizações de massa e de entusiasmo popular. Mas ficou claro a diferenciação simbólica entre os dois candidatos. Alckmin representa as classes

dominantes, o aprofundamento do modelo neoliberal, a subordinação de nossa política externa aos interesses do império do Norte. Representa o uso do Estado repressor contra as classes subalternas. Enquanto Lula, apesar de não ter feito mudanças estruturais no seu governo, representa simbolicamente os interesses das classes populares e a possibilidade de se manter espaços para que o povo acorde e participe. Maior autonomia na política externa e a possibilidade de se construir processos de integração latino-americana. Sua candidatura representa o respeito aos movimentos sociais. Evidentemente que essa necessária vitória de Lula não significa esquecer os erros e vacilações do governo no primeiro mandato. E não significa que agora tudo vai mudar. A simples vitória eleitoral não é inclusive suficiente para alterar a correlação de forças necessárias para as mudanças. Mas uma derrota significaria um duro revés para toda classe trabalhadora. E manteria o descenso do movimento de massas por um período ainda maior. Encerrada as eleições, todas as forças populares e políticas devem fazer um profundo balanço de todo esse processo, extraindo dele as lições necessárias para melhorar nossa prática política. E, acima de tudo, é necessário recuperar a experiência histórica da classe trabalhadora, seus partidos e suas lideranças, em todo mundo, se quisermos, de fato, avançar para mudanças estruturais que eliminem os problemas do povo brasileiro. Todos os mestres e líderes políticos históricos defenderam que a atividade política principal de quem quiser lutar contra as injustiças sociais e construir regimes mais justos é trabalhar permanentemente para elevar o nível de consciência política e cultural do povo e organizá-lo para que lute por mudanças. Sem povo consciente e organizado, lutando, não haverá nenhuma mudança social, em qualquer sociedade do mundo. Modestamente, o Brasil de Fato, pretende continuar contribuindo para isso.

No dia 21 de outubro, em Curitiba (PR), manifestantes em campanha pela reeleição de Lula

Na Costa Rica, protestos contra acordo com os EUA Cento e cinqüenta mil pessoas participaram de protesto, nas principais cidades da Costa Rica, em 23 de outubro, contra o Acordo de Livre-Comércio da América Central (Cafta), de-

fendido pelo presidente Oscar Arias. O tratado, para os manifestantes, põe o país à mercê de corporações e dos Estados Unidos. Pág. 7

Na França, estrangeiros querem votar

Coca-Cola pode ser expropriada na Venezuela

Pág. 6

Pág. 7

No Congo, pleito não garante transformações A República Democrática do Congo também vai às urnas em 29 de outubro para eleger um novo presidente, em sua primeira eleição em mais de 40 anos. Porém, a instabilidade causada pela disputa pelos bens minerais – encabeçada pelas transnacionais – impede mudanças sociais profundas. Pág. 6

Livro aborda privatização das artes Em Privatização da cultura - a intervenção corporativa nas artes desde os anos 80, Chin-tao Wu analisa a entrada das corporações no mundo das artes, no contexto neoliberal. Embora seu estudo se delimite a EUA e Inglaterra, a situação descrita no livro ajuda a entender a realidade brasileira. Pág. 8


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