BDF_190

Page 1

Uma visão popular do Brasil e do mundo

Ano 4 • Número 190

R$ 2,00

São Paulo • De 19 a 25 de outubro de 2006

www.brasildefato.com.br

Divulgação/Alianza Pais

Punição à Coréia do Norte é hipocrisia Potências condenam teste nuclear do país, porque contraria seus interesses na Ásia

P

or que um pequeno país como a Coréia do Norte, que não dispõe de tecnologia militar, é condenado e punido pela comunidade internacional por realizar um teste nuclear enquanto outros, com uma extensa ficha corrida de ataques a outras nações – como EUA e Israel – podem possuir quantas ogivas desejarem? O ativista Stephen Gowans e o jornalista Gregory Elich dão a resposta: os países ricos não são contra a proliferação de armas nucleares em si, mas apenas quando nações que se recusam a ser subjugadas estão envolvidas. Para eles, a ONU, que também condenou o teste, pretende desarmar e enfraquecer o país asiático. Pág. 7

Adolescentes são vítimas de policiais

Rafael Correa, candidato à presidência do Equador, caso eleito, pretende se aproximar do venezuelano Hugo Chávez e do boliviano Evo Morales

Onda antineoliberal na América Latina

C

om a passagem do candidato nacionalista de esquerda, Rafael Correa, para o segundo turno nas eleições presidenciais do Equador no dia 15, confirma-se uma onda progressista que se alastra pela América Latina. É a expressão de esgotamento das políticas neoliberais. Os povos, por meio do voto em candidatos antineoliberais, estão sinalizando que querem mudanças. Isso aconteceu com a eleição de Hugo Chávez, na Venezuela, de Evo Morales, no Equador, de Néstor Kirchner, na Argentina, de Tabaré Vásquez, no Uruguai, e também de Lula, muito embora nem todos os eleitos tenham demonstrado, no governo, capacidade de expressar plena sintonia com o desejo transformador contido no voto. Na conjuntura equatoriana, a eventual vitória de Correa tem uma importância especial, porque, nos últimos 12 anos, gigantescas ações de massa derrubaram sucessivos governos. Nenhum conseguiu estabilizar-se, tornando-se alvo de ações das próprias massas que os elegeram. No caso de Lula, mesmo que não tenha conseguido implementar um programa progressista em sua totalidade, mantendo núcleos centrais das políticas neoliberais, os eleitores não podem desconsiderar as condições concretas da conjuntura política. Trata-se de manter a onda antineoliberal. Assim, não podem permitir, seja com o voto nulo ou com a abstenção, espaços de manobra para as forças de direita. É também o que ocorre no Equador, no segundo turno. Nos dois países, projetos antagônicos se enfrentam. Lá, Rafael Correa, defendendo a retirada das bases militares estadunidenses, a

nacionalização do petróleo e a integração latino-americana como linha-mestra de ação, contra o outro candidato, Álvaro Noboa, um dos homens mais ricos do Equador, que defende, radicalmente, a submissão do país às políticas dos EUA, a retomada da Alca e a completa vigência dos princípios neoliberais, sem qualquer meio termo. No Brasil, também dois projetos se enfrentam e, ainda que o confronto não tenha a mesma nitidez programática que o equatoriano, Lula representa a manutenção de políticas sociais, a valorização do Estado como agente econômico e uma política externa que favorece a integração latino-americana e a autonomia frente aos EUA, enquanto Alckmin, que conduziu o projeto de privatização desenfreada no Estado de São Paulo e uma política de repressão aos movimentos sociais, quer um retorno do Brasil à “Era FHC”. Nesse sentido, a união das forças progressistas, tanto no Equador quanto no Brasil, ainda que mantenham suas rigorosas e conseqüentes críticas à limitação programática das candidaturas do campo popular, não podem permitir que os representantes do império encontrem condições de atuar, pois são agentes de políticas de rapina dos recursos naturais e de expropriação de direitos das massas trabalhadoras. Tanto o voto em Lula quanto o voto em Correa devem ser sustentados pelos movimentos sociais, sindicais, progressistas, como a expressão de um enfrentamento entre povos e políticas neoliberais. São votos para construir melhores condições para ações político-programáticas mais conseqüentes e mais audaciosas.

Segundo turno no Equador tem disputa de projetos O segundo turno da eleição presidencial do Equador, marcado para 26 de novembro, apresenta dois projetos em disputa. Enquanto o magnata Álvaro Noboa identifica-se com o grande

Murilo Soares Rodrigues, 12 anos, assassinado pela polícia de Goiânia (GO), onde morava. Sua mãe, Maria das Graças Soares, exige que os policiais criminosos sejam punidos, mas estes não reconhecem o crime. Histórias de violência policial como essa se repetem em todas as grandes cidades brasileiras, denunciam entidades de direitos humanos. A maioria das vítimas é jovem, negra e pobre. Pág. 3

capital e a submissão aos Estados Unidos, o candidato da esquerda, Rafael Correa, defende a soberania nacional e rejeita a privatização dos recursos naturais. Pág. 6

Protestos de mulheres contra transnacionais

Centro de Mídia Independente

EDITORIAL

Mulheres de todo o mundo marcharam, no dia 17, para protestar contra a atuação de empresas transnacionais. Desde a década de 1970, estas se tornaram cada vez mais fortes. O faturamento de algumas dessas corporações ultrapassa o Produto Interno Bruto (PIB) de centenas de nações. Sua estratégia de expansão se baseia na redução de direitos dos trabalhadores. Pág. 8

Intelectuais e religiosos apóiam Lula Pág. 4

Em curso, a privatização da TV Cultura FARSA DO VERDE – Em Vitória, (ES), cerca de 300 manifestantes caracterizados com chapéus em forma de eucalipto interromperam a abertura da “Feira do Verde” – chamada por eles de “Farsa do Verde” – para exigir a demarcação de terras indígenas no Estado e o fim do racismo praticado pela Aracruz Celulose, que diz nunca ter havido índios naquela região. Apesar do protesto, o prefeito, João Coser (PT), não deixou de elogiar e agradecer as maiores poluidoras do Espírito Santo por estarem apoiando o evento: a própria Aracruz, a Companhia Vale do Rio Doce, a Companhia Siderúrgica de Tubarão e a Petrobras. A feira foi encerrada no dia 15.

Pág. 5


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.