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Uma visão popular do Brasil e do mundo

Ano 4 • Número 188

R$ 2,00

São Paulo • De 5 a 11 de outubro de 2006

www.brasildefato.com.br Ricardo Stuckert

Lula durante comício em Sorocaba (SP), em 24 de setembro

Movimentos declaram apoio a Lula Depois de não se posicionarem oficialmente no primeiro turno, agora organizações se unem contra Geraldo Alckmin s principais movimentos sociais concordam: é preciso impedir a eleição de Geraldo Alckmin para presidente. No segundo turno, declaram apoio a favor de Lula. MST, CPT, Marcha das Mulheres, UNE e CUT consideram a campanha para a reeleição de Lula uma oportunidade para fortalecer a luta de classes. Por outro lado, a realização do segundo turno, quando a vitória do PT era tida como certa, é reflexo de erros do governo e do partido. A composição do novo Congresso vai ser um obstáculo para o próximo presidente. No caso de reeleição de Lula, dizem os movimentos, a governabilidade só vai ser garantida com participação popular. Págs. 3 e 4

No México, esquerda cria governo rebelde

EDITORIAL

Derrotado oficialmente nas eleições presidenciais mexicanas de 2 de julho, Andrés Manuel López Obrador se prepara para tomar posse, em 20 de novembro, de um governo rebelde. Diversos setores de base da esquerda reuniram-se em convenção e declararam Obrador vencedor, devido às fraudes ocorridas no pleito em favor de Felipe Calderón, de direita. Até lá, os participantes do encontro pretendem realizar inúmeros protestos pacíficos. Pág. 7

Vale do Rio Doce nas mãos de estrangeiros

A verdadeira guerra haitiana é a dívida

Brasil vive um momento muito delicado em sua conjuntura política, com uma grave crise de projeto. Por um lado, o governo Lula não acumulou forças suficientes para derrotar o neoliberalismo e a subordinação de nossa economia ao capital financeiro e às transnacionais – houve apenas pequenos avanços em diversas áreas sociais. Por outro, as organizações populares e o movimento de massa continuaram em refluxo. Issou gerou uma grave crise da esquerda partidária. Muitos setores abandonaram as propostas de mudanças estrutural, e passaram a adotar os mesmos métodos da direita. Ou seja, usar os partidos apenas para proveito pessoal ou de grupos na disputa por cargos públicos. Com isso, entramos em uma grave crise ideológica, de falta de debate sobre a natureza da luta de classes e o projeto da classe trabalhadora. Tudo isso produziu um cenário de correlação de forças adversa para a classe trabalhadora, e para os interesses do povo brasileiro. A campanha eleitoral deste ano foi um desastre. As candidaturas não debateram projetos para o país, e muito menos defenderam claramente os interesses da classe trabalhadora. Também não denunciaram a dominação das elites, que causa tantos problemas ao povo, como a falta de emprego, de moradia, de escola e de terra. Nos Estados, muitas alianças esdrúxulas foram feitas. E muita gente pensou que as eleições não mais faziam parte da luta de classes. Alguns chegaram a dizer que os

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É preciso derrotar a direita

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termos “esquerda” e “direita” não faziam mais sentido. Ledo engano. A burguesia brasileira não nos faltou! Na “hora H”, ela mostrou sua cara. Quando tudo parecia decidido, numa pasmaceira geral e sem nenhuma participação da militância, eis que, por obra e graça de alguns dirigentes petistas desastrados, que alimentaram a sanha da direita, ela despertou e viu que poderia retomar as rédeas do governo. E veio com tudo na campanha do Alckmin. Em uma semana a direita centralizou suas forças: dinheiro, partidos conservadores e mídia. Veio com tudo para levar a disputa para o segundo turno. Buscava com isso, no mínimo, como defendeu seu porta-voz, o jornal Folha de S.Paulo, em editorial, “manter o Lula acuado e arrancar mais compromissos”. E na melhor das hipóteses para eles, como defendeu FHC “impor o impeachment, mesmo depois de uma vitória de Lula”. A direita está viva, articulada, e pronta para tomar o governo! É chegada a hora de a militância social, de todas as forças políticas e populares que estiveram apáticas e desanimadas no primeiro turno, se mobilizar e impor uma derrotar à direita. É preciso garantir a vitória do Lula. A vitória de Alckmin não seria apenas a derrota do Lula, como castigo para os muitos erros que o PT e o governo cometeram, seria a vitória da burguesia sobre os interesses populares. Seria a legitimação do projeto neoliberal, que recoloniza o Brasil, a serviço do grande capital transnacional e dos bancos. Seria aceitar mais re-

pressão aos movimentos sociais. Seria uma grande derrota dos pobres, dos trabalhadores. Por isso, para quem não acreditava mais, temos um segundo turno, que é a verdadeira luta de classes. E a militância social não pode ter dúvidas, nem vacilações. Essa é a hora, de nos mexermos, de nos mobilizarmos, de arregaçarmos as mangas e fazermos campanha política. É a hora de transformarmos a campanha eleitoral em uma verdadeira luta política, a favor da classe trabalhadora. Não se trata de pedir voto para o Lula, trata-se de derrotar, política e eleitoralmente, o projeto neoliberal. E, a partir da derrota da direita, exigir do segundo mandato as mudanças necessárias, tantas vezes prometidas, e sempre adiadas pela pressão das antigas alianças. Precisamos ganhar o segundo turno, com uma disputa de idéias, de política, de projetos, e denunciar tudo o que significa o neoliberalismo de Alckmin e dos tucanos em termos de aumento da exploração dos pobres, de menos serviços públicos, de mais privatizações, de menos soberania nacional e de mais corrupção. Política é a ação de conflito de interesses, a disputa de interesses de classe. Basta de apatia, vamos para as ruas derrotar Alckmin, a burguesia brasileira e os interesses do capital internacional!


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