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Ano 4 • Número 187

Uma visão popular do Brasil e do mundo

R$ 2,00

São Paulo • De 28 de setembro a 4 de outubro de 2006

www.brasildefato.com.br

Douglas Mansur

Desvios de petistas fortalecem a direita Elites se aproveitam de deslizes de militantes do PT, envolvidos no escândalo da compra de um dossiê

O

EDUCAÇÃO NO CAMPO – Cerca de 500 militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) se reuniram em Luziânia (GO), entre os dias 18 e 22 de setembro, no 1º Seminário Nacional sobre Educação Básica de Nível Médio nas Áreas de Reforma Agrária. Durante cinco dias, educadores e educadoras das escolas públicas das áreas de Reforma Agrária, integrantes dos coletivos de educação e juventude do MST e convidados das organizações da Via Campesina-Brasil e outras entidades debateram como ter acesso às escolas e também qual é o conceito de escolarização aplicado nas áreas rurais.

Pacote habitacional ignora pobres

EDITORIAL

Imenso desafio para as forças de esquerda esquerda a repensar caminhos e lógicas políticas que, até pouco tempo, eram inquestionáveis. E, como toda crise, abre espaço para o surgimento do novo. É verdade que existem diferenças substanciais entre as propostas políticas que disputam o pleito eleitoral, mas a perspectiva transformadora se afasta cada vez mais do resultado das urnas. Nesta eleição, estaremos votando nos administradores de uma parcela do Estado que cada vez menos pode decidir sobre o que importa realmente para o povo, mas que tem o papel de administrar uma crescente máquina policial e repressiva. Fica evidente que a construção de uma alternativa popular em nosso país exigirá um novo sistema político. Esse é um debate que ganha força entre os movimentos populares. Um debate que qualificará a luta dos que acreditam num Projeto Popular. Acostumada a marchar unida em torno de uma mesma opção eleitoral a esquerda brasileira enfrenta um novo momento histórico. Um momento que exigirá paciência, criatividade, mas também muita generosidade. Um imenso desafio se coloca para as forças de esquerda. Como reconstruir lutas unitárias? Como retomar espaços de discussão e preparação dessas lutas? Nesse sentido, o desafio é resgatar a possibilidade de ação política fora desta lógica da disputa eleitoral de governos, Parlamentos e aparatos administrativos. Respeitar as diferenças mas unindo em torno de lutas e ações comuns rumo à transformação do país. Nos últimos anos, o pensamento que predominou na lógica política da esquerda foi entender a política como a arte do possível. O desafio que se coloca para a nova geração de lutadores populares é construir a política como a arte de tornar possível aquilo que hoje se aparenta impossível.

O pacote habitacional, lançado em setembro pelo governo, não atende a população de baixa renda e não altera o deficit habitacional, estimado em 8

milhões de residências. Para analistas, a medida favorece bancos e construtoras. Afirmam que, para incentivar moradias populares, é preciso abaixar a

taxa de juros e acabar com os bloqueios burocráticos que enfrentam as famílias pobres na esperança de ter uma moradia. Pág. 6

Anderson Barbosa

A

grande marca destas eleições, nas quais serão escolhidos os deputados estaduais e federais, governadores, senadores e o presidente da República, é a apatia. Frustração, decepção, desilusão, indignação são alguns dos sentimentos presentes hoje no dia-a-dia da população frente a tantos escândalos de corrupção envolvendo quase todos os políticos do país e frente a tantas promessas de campanhas não cumpridas. E isso se reflete na crescente percepção intuitiva do povo de que nenhuma grande transformação estará em jogo neste processo eleitoral. É verdade que é possível piorar, mas poucos alimentam a ilusão de que acordaremos num Brasil diferente com a posse dos eleitos. A imposição da agenda neoliberal desmascarou os limites da “alternância de poder”. Eleito no desgaste do governo anterior, cada sucessor se vê aprisionado pelos limites legais, impulsionando a mesma agenda econômica e desgastando, em pouco tempo, sua legitimidade. Cada vez mais, as classes dominantes são obrigadas a aperfeiçoar sua engenharia política que possibilite viabilizar seus candidatos. A percepção geral é que será apenas o momento de escolher quem vai fazer mais do mesmo. E esse cenário também se reflete no campo da esquerda. Pela primeira vez, nos últimos vinte anos, não há uma clara unidade da esquerda em torno de uma candidatura ou partido que expresse a perspectiva de transformação. Nestas eleições, a militância que não perdeu o horizonte das mudanças estruturais dividiu-se entre a candidatura de Lula, Heloísa Helena e a opção pelo voto nulo. A esperança em uma vitória eleitoral que inaugure um novo momento histórico, que foi determinante no imaginário da esquerda brasileira dos últimos anos, entra em crise. Uma crise que obriga a

brasileiro vai às urnas, dia 1º de outubro, imerso em uma confusão, promovida pela imprensa conservadora e pela “burrice” de pessoas ligadas ao PT. O adjetivo foi utilizado por Lula ao classificar uma ação do setor de inteligência petista para comprar um dossiê envolvendo José Serra (PSDB) com a máfia dos sanguessugas. A oposição se aproveita do escândalo para desestabilizar o governo, na esperança de levar o pleito presidencial para o segundo turno. Militantes históricos do PT consideram que a crise é o resultado das opções, eleitoreiras, da direção do partido. Pág. 3

Sem perspectivas de auxílio para moradia por parte do governo, João Cosme de Oliveira e Romilda Nunes da Silva vivem na ocupação Prestes Maia, no centro de São Paulo (SP), há mais de quatro anos

Mordomias e lucros na privatização de estradas Garantia de lucro milionário, empréstimos a perder de vista, descontos e outras vantagens. Essas são algumas das facilidades das Parcerias Público- Privadas (PPPs) para quem “comprar”

uma estrada. Era assim nos tempos de FHC, quando o programa de privatizações multiplicou fortunas. E tem sido assim, no governo atual. Pág. 5

Africanos se lançam ao mar por vida digna Pág. 7

Bush facilitou os atentados, diz analista Para o cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira, o governo dos Estados Unidos facilitou os atentados de 11 de setembro de 2001. Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, ele explica que George W. Bush precisava de um pretexto “para atender aos interesses do complexo industrial e militar e assegurar-se das fontes e rotas de petróleo”. Pág. 8


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