Ano 4 • Número 185
Uma visão popular do Brasil e do mundo
R$ 2,00
São Paulo • De 14 a 20 de setembro de 2006
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Em Santa Catarina, fábricas de mutilados João Zinclar
Empregadores não reconhecem mais de dois mil acidentes de trabalho em indústrias de móveis de São Bento do Sul
T
rabalhadores de indústrias de móveis de São Bento do Sul (SC) são pressionados por seus patrões a ir além de seus limites. Mal pagos e com jornadas longas, sofrem acidentes. No ritmo frenético, guiado pelos prazos sempre curtos de encomendas para exportação, perdem dedos e se cortam nas máquinas. Foram 2.597 ocorrências entre 2000 e 2003. Estas, entretanto, não são
reconhecidas pelos empregadores e ficam subnotificadas. De acordo com o INSS, há apenas 496 casos de acidentes de trabalho. Para prevenir mais mutilações e coibir as pressões dos patrões, os funcionários das indústrias se organizam e fortalecem o sindicato local. São apoiados pela Fundacentro, entidade ligada ao Ministério do Trabalho. Pág. 4
China: crescimento com desigualdade social Três décadas após a morte de Mao Tse-Tung, líder revolucionário chinês, o socialismo encontra-se definitivamente suplantado pelo pragmatismo econômico. O novo modelo faz o país crescer,
Cartunista é Empresas lucram com telefonia; e ameaçado por grupo de Israel povo perde
Em Campinas (SP), no dia 7, manifestantes exigiram a independência que o Brasil ainda não conquistou
No Grito, 300 mil vão às ruas política e pela reestatização da Companhia Vale do Rio Doce, no 12º Grito dos Excluídos. O padre Júlio Lancelotti, um dos participantes das atividades do dia 7, resumiu assim o caráter
dos protestos: excluídos não são somente moradores de rua e desnutridos; são todos os que têm a dignidade lesada pela precariedade dos serviços públicos. Pág. 5
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Passados 184 anos do Dia da Independência do Brasil, 300 mil pessoas saíram às ruas com pouco para comemorar. Nesse dia 7, elas foram reclamar por mais empregos, decência na
em média, 8% ao ano. Mas a desigualdade de renda dobrou e metade da população de 1,3 bilhão de habitantes vive com menos de dois dólares por dia. Pág. 7
EDITORIAL
Na força da indignação
M
ilhares de pessoas saíram às ruas para protestar no dia 7. Motivado pelas injustiças e pela grave crise política, que coloca em xeque a chamada democracia burguesa e seu sistema de representatividade, o 12º Grito dos Excluído, mobilizou cerca de 300 mil pessoas, em 1.500 municípios. Em Aparecida do Norte (SP), houve 10 mil manifestantes, acompanhados por representantes da coordenação do Grito Continental de 13 países latino-americanos, que vão promover o 8º Grito Continental, em 12 de outubro. Os protestos, cujo lema era “Na força da indignação, Sementes de transformação”, foram espaços de articulação de organizações sociais. E de cobrança por mudanças na política. O grito dos excluídos, uníssono, reage à pauperização da população, que se manifesta nos índices de desemprego, fome e violência. Mais de 10% das pessoas não têm trabalho, nas seis principais capitais do Brasil, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o mais alto índice dos últimos quinze meses. Cresce também a informalidade e a terceirização, que aprofundam a precarização do trabalho. Cansados de tantos escândalos, o povo sai às ruas também para exigir novas formas de fazer política. E o grito de indignação ecoa contra todas as formas
de corrupção: mensalões, vampiros, sanguessugas, gafanhotos. E é preciso sempre se mobilizar para banir esses aproveitadores que carcomem os locais onde se instalam, da sociedade civil às diferentes esferas do governo. O grito dos brasileiros expressa a revolta contra a atual política econômica. O povo não quer esmola, quer trabalho. Ou seja, não se resolve o problema da exclusão apenas com políticas compensatórias, ainda que necessárias. O povo grita contra a prioridade que é dada ao superavit primário, aos altos juros e ao pagamento das dívidas, em detrimento das políticas de bem-estar social. Grita-se por mudanças estruturais, que priorizem a reforma agrária, a distribuição de renda e o resgate das dívidas sociais. Nesse sentido, o Grito coloca um questão fundamental, que é o fortalecimento de um novo sujeito histórico. Ou seja, os movimentos sociais. E deixa claro que não basta se mobilizar pelas eleições, mas é preciso debater e construir um projeto verdadeiramente popular, nacional. Um projeto para o povo brasileiro. E que não bastam as políticas sociais como o Bolsa Família; por melhor que sejam as políticas sociais, tendem ao retrocesso, se não houver mudança de nossa estrutura fundiária, o que implica o fim do latifúndio, o assentamento de famílias sem terra, a proteção do meio ambiente e,
em especial, da região amazônica, ameaçada pelo desmatamento e poluição. O grito do povo representa o descontentamento com o capital rentista, financeiro e especulativo. Representa a revolta contra a ação das transnacionais, que não têm compromisso com a soberania nacional. Assim, se colocou também, no dia 7, a indignação contra a privatização da Companhia Vale do Rio Doce. Patrimônio nacional, entregue pelo governo de Fernando Henrique Cardoso a preço de banana. O povo exige que seja reestatizada. E a campanha pela anulação da privatização da Vale, que já está nas ruas, e pretende mobilizar a sociedade em defesa desse patrimônio público. Portanto, todos devemos participar! São gritos e mais gritos, incessantes. Não se calam com cestas básicas. Gritos de milhares de pessoas que querem ser protagonistas políticos, sujeitos da história, participantes das decisões dos rumos da política no país. Os governos podem até se fingir de surdos. Mas o grito, a cada ano, continua crescendo. E crescerá sempre, enquanto existirem injustiças sociais.
CONSPIRAÇÃO – Grupo de acadêmicos estadunidenses defende a tese de que o 11 de setembro foi planejado pelo próprio governo dos EUA; fachos de luz preenchem o vazio deixado pelas torres gêmeas Pág. 6