Ano 4 • Número 184
Uma visão popular do Brasil e do mundo São Paulo • De 7 a 13 de setembro de 2006
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Por que Lula ganha força? Ricardo Stuckert/PR
Carisma, políticas sociais, falta de alternativas e despolitização são as razões apontadas por quatro analistas
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ido praticamente como “carta fora do baralho” pela oposição e pela mídia corporativa no auge da crise de 2005, o presidente Lula ressurgiu neste ano. Apoiado sobretudo pelos mais pobres, o petista lidera com folga a corrida eleitoral. Qualquer resultado, em outubro, que não seja a sua vitória já no primeiro turno será uma surpresa. Os sociólogos Chico de Oliveira e Emir Sader, o teólogo Frei Betto e o cientista político Paulo d´Avila Filho apontam aspectos distintos para explicar esse fenômeno eleitoral, que vão desde as políticas sociais do governo e a ausência de propostas do PSDB, até a imagem construída de Lula e a despolitização geral da sociedade brasileira. Pág. 3
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva supera a barra dos 50% de intenção de voto e passa os 70% no Nordeste
O novo império estadunidense
EDITORIAL
Fracassa a doutrina do terror
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á cinco anos, a destruição das torres gêmeas de Nova York ofereceu a George Bush o pretexto para iniciar a “guerra ao terror”, nome dado à estratégia neocolonialista da Casa Branca. O horizonte dessa estratégia pode ser rapidamente explicitado por uma simples palavra: petróleo. Júnior assumiu a Casa Branca, em janeiro de 2001, com a clara missão de resolver o problema da vulnerabilidade do império no setor energético. Cálculos feitos pelos próprios neoconservadores indicam que as reservas estratégicas de petróleo dos Estados Unidos dão, no máximo, para três anos de consumo. Em 2015, os Estados Unidos terão que importar algo como 81% de suas necessidades de petróleo. É isso que os mandarins do império não aceitam. O atentado de 11 de setembro de 2001 apenas deu a Bush o pretexto para colocar em marcha a máquina de guerra destinada a assegurar o controle das reservas de petróleo do mundo. Com esse objetivo, os Estados Unidos invadiram o Afeganistão (em outubro de 2001) e o Iraque (em março de 2003). Ambos os países, por mera coincidência, estão estrategicamente situados na região mais rica em petróleo do planeta. Embora o Afeganistão não seja grande produtor, seu território é rota obrigatória para qualquer oleoduto destinado a abastecer a Europa. A invasão do Iraque seria apenas o passo inaugural na marcha batida de derrubada dos regimes iraniano e sírio, com a imposição de protetorados diretos ou informais estadunidenses. Mas Bush não contava com um pequeno detalhe: a heróica resistência do povo iraquiano. Após três anos de ocupação, suas tropas não podem perma-
necer no país, pois todos os dias morrem soldados estadunidenses (já são cerca de três mil baixas), o que ressuscita o fantasma do Vietnã. A situação tende a piorar, graças à desastrosa aventura israelense no Líbano, que aproximou xiitas e sunitas em torno do apoio ao Hezbollah. Mas Bush não pode sair do Iraque, pois isso implicaria, na prática, entregar o controle do petróleo aos xiitas, que teriam o Irã como aliado natural. Seria o pior dos pesadelos. Em 2001, as perspectivas eram outras. Quando Bush proclamou a “guerra ao terror” e deflagrou a operação no Afeganistão, contou com o apoio quase unânime de governos e de uma opinião pública chocada com as imagens das torres. Mas a unidade trincou logo depois, com o discurso do “Eixo do Mal”, no início de 2002, e com a arrogante proclamação da “guerra preventiva”, meses mais tarde. O desmascaramento das mentiras que prepararam a invasão do Iraque desmoralizou a cúpula da Casa Branca. Finalmente, a heróica resistência iraquiana cria, diariamente, um pesadelo para Júnior. Os desastres se acumulam. Hoje, o mundo conhece os horrores de Abu Graib e a realidade da rede internacional de centros de tortura operada pelos serviços secretos estadunidenses no Afeganistão, em Guantánamo e em países europeus. Não está em curso nenhuma “reforma do Oriente Médio” patrocinada pela Casa Branca. E a estratégia geral de Bush jamais contemplou uma paz negociada entre Israel e os palestinos, mas apostou no enfraquecimento do lado palestino e na imposição de uma paz com anexações, nos termos de Israel. O império naufraga em sua própria lama. Mas ameaça arrastar milhões de seres humanos em sua agonia.
O mundo após os ataques ao World Trade Center possui outra geopolítica mundial. Os Estados Unidos valeram-se da doutrina de George W. Bush, baseada na política da guerra preventiva, para deflagrar invasões ao
Iraque e ao Afeganistão. Para o sociólogo James Petras, tais ações fazem parte do novo imperialismo estadunidense, que privilegia o militarismo como estratégia de expansão, substituindo a estratégia anterior, ba-
seada na dominação econômica e cultural. O Brasil de Fato ouviu ainda mais três analistas que avaliam os impactos do 11 de setembro, que mataram cerca de três mil pessoas. Pág. 8
Governo acena com mudança no FGTS O ministro Luiz Marinho (Trabalho) aprovou no Conselho Curador do Fundo de Garantia uma proposta para alterar as regras do fundo. O Planalto quer utilizar os recursos do “patrimônio líquido” do FGTS para investir em infra-estrutura (rodovias e hidrelétricas). Juristas apontam mudança na finalidade original do fundo, pois os recursos deveriam ser utilizados para financiar moradias populares e saneamento, duas carências brasileiras ignoradas. Pág. 4
México: novo presidente, mas crise permanece O Tropicalismo de mãos dadas com a ordem
PSDB não utiliza verba da reforma agrária
Após 40 anos, Gilberto Gil e Caetano Veloso, principais ícones do vanguardista Tropicalismo, atingiram o topo da burocracia estatal e da Indústria Cultural. A contestação dos costumes da vida burguesa desapareceu. Resta apenas a feroz crítica ao “patrulhamento” da esquerda cultural e a apologia à indústria da cultura como uma realidade inexorável. Leia artigo de Francisco Alambert. Pág. 6
Geraldo Alckmin resolver debochar da inteligência do eleitor brasileiro. Aliado dos ruralistas, o tucano garantiu no primeiro debate dos presidenciáveis que fará a reforma agrária. Seu desprezo pelos camponeses pode ser comprovado pelos dados. Sob seu comando, o governo de São Paulo devolveu quase R$ 50 milhões que a União lhe tinha repassado para fazer assentamentos. Pág. 5
A Justiça mexicana decidiu que as eleições de 2 de julho foram válidas, apesar de considerar que houve fraudes. O conservador Felipe Calderón, aliado do presidente Vicente Fox, foi anunciado como o vencedor do sufrágio por uma mínima diferença, de 0,57% dos votos. O progressista López Obrador, prejudicado pelas irregularidades, não reconheceu a decisão e convoca simpatizantes a pressionarem por uma Assembléia Constituinte. Pág. 7