BDF_183

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Uma visão popular do Brasil e do mundo

Ano 4 • Número 183

São Paulo • De 31 de agosto a 6 de setembro de 2006

R$ 2,00 www.brasildefato.com.br

Trabalhadores entram em greve contra proposta de demitir 3,6 mil funcionários ou fechar fábrica do ABC

Raquel Camargo/SMABC

Volks demite. Metalúrgicos reagem E

les descruzaram os braços, levantaram as mãos e iniciaram uma desafiadora mobilização para sensibilizar a sociedade. Em greve desde o dia 29 de agosto, metalúrgicos do ABC, região da Grande São Paulo, tentam salvar mais de três mil empregos diretos (e até 55 mil indiretos) que a Volkswagen ameaça extinguir. Para preservar seus lucros, a transnacional alemã também quer reduzir direitos trabalhistas. A luta promete ser longa pois a Volks anuncia ter um estoque para 40 dias. Resta saber se irá suportar o desgaste da sua marca. Por enquanto, o governo federal se coloca ao lado dos trabalhadores – suspendeu o financiamento de R$ 497 milhões que o BNDES daria à transnacional. Pág. 3

Tribunal ignora fraude eleitoral no México

Katrina, um ano depois: racismo e exploração Negros e pobres continuam a sofrer as conseqüências da catástrofe, um ano após a passagem do furacão Katrina pelo Sul dos Estados Unidos. Um relatório sobre a situação em Nova Orleans aponta que eles encontram muito mais obstáculos do que os brancos e as

pessoas da classe média ao tentar conseguir recursos para reconstruir suas casas. Os grandes contratos para a reconstrução da região estão destinados a corporações com fortes conexões governamentais – que exploram os trabalhadores. Pág. 7 Indymedia Barcelona

As denúncias de ilegalidades foram rejeitadas pelo Tribunal Eleitoral mexicano, que indeferiu a recontagem de votos da eleição presidencial. Acentua-se a cisão do país entre forças conservadoras e forças progressistas. Pág. 6

Trabalhadores da Volks estão em greve contra a proposta da transnacional de demitir 3,6 mil funcionários, eliminado outros 29 mil empregos indiretos

A arte social e revolucionária de Brecht

Na 12ª edição, o Grito do Excluídos mobilizará os brasileiros por ética na política, contra o desemprego, pela reestatização da Companhia Vale do Rio Doce. Manifestações em todos os Estados, na Semana da Pátria. Pág. 5

Após 50 anos de sua morte, o dramaturgo e poeta alemão Bertolt Brecht permanece atual. Um dos precursores da aplicação de idéias marxistas à arte, ele levou os temas sociais para o palco e fez escola pelo mundo. Pág. 8

EDITORIAL

A pasmaceira eleitoral

E

Em Oaxaca, México, milhares se mobilizam e sofrem repressão do governo

Excluídos gritam contra corrupção

stamos a quatro semanas da data mais quente do calendário eleitoral do Brasil, em que se elege o presidente da República, os integrantes do Congresso Nacional, os governadores e os parlamentares estaduais. Mas o clima na sociedade é frio e cinzento. As pessoas parecem não estar dando muita bola ao pleito. Tal fenômeno, que só teve paralelo no início do regime militar, quando as eleições eram uma farsa, merece ser analisado e contextualizado: 1. Estas eleições não representam disputa de projetos. Nem de propostas de modelos econômicos ou de programas governamentais. Parece uma reles disputa de cargos públicos entre os dirigentes partidários. Portanto, a militância se dá conta de que não há possibilidades de mudanças reais. É como se existisse um grande acordo pelo qual as eleições não serão usadas para medir forças entre partidos, muito menos entre classes. Nem a candidatura Heloísa Helena está servindo para debater idéias, uma vez que seu discurso se concentra no denuncismo. 2. O resultado das eleições não representa nenhuma mudança real no cotidiano da população. O povo não acredita que as coisas vão mudar. 3. Diante do controle mais rigoroso da campanha nas ruas, os candidatos estão gastando o

dinheiro por meio de repasse para cabos eleitorais liberados, para prefeitos que controlam suas bases. Com isso, há uma ausência de militância ativa, de propaganda nas ruas e na vida das cidades. 4. Como tudo é comprado, não existe militância espontânea – aquela que fazia campanha para disputar idéias. Sem militância, as campanhas perdem criatividade, dinâmica e não têm impacto sobre a sociedade. 5. Trata-se de uma eleição em que já se sabe o resultado. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já tem consolidada a base social que lhe garante a reeleição. Agora estão mais claros os motivos das elites na escolha de Geraldo Alckmin – já sabiam dessa situação e rifaram o candidato, que não pertencia ao núcleo ideológico da classe dominante. Essa tese é tão clara que alguns governadores do PSDB – do Ceará e de Minas Gerais – até estão fazendo campanha para Lula. 6. A direita passou a usar a tática de garantir a eleição do maior número possível de governadores conservadores. Para isso, conta também com apoio de alguns setores do próprio PT de vários Estados, que aceitaram alianças conservadoras. Assim, em diversos Estados, praticamente existe uma chapa única, por conta da aliança de apoio aos candidatos conservadores ao

governo do Estado, em troca do apoio a Lula. 7. Restaria a disputa para o Parlamento. Mas a população tem manifestado total desinteresse, até porque a televisão tem se encarregado de desmoralizar os políticos, com denúncias permanentes da corrupção de parlamentares. Segundo o Ibope, 30% dos eleitores já disseram que não vão votar para deputados. O desinteresse nas eleições parlamentares é generalizado. Então os candidatos da direita estão usando o esquema dos currais eleitorais, via prefeitos e outras artimanhas, para ganhar as eleições, mesmo sem muita propaganda de seus nomes. Provavelmente, teremos um Congresso Nacional ainda mais conservador do que o atual. Tristes eleições essas, em que o povo não vai decidir nada. O resultado do já está decidido. Pela elite. Falta apenas o juiz apitar o final da partida. No entanto, o povo não participa, mas percebe. Pode não ser tão politizado, mas tampouco é bobo. No lugar do clima de disputa de idéias, de projetos, o povo vive o clima de domingo chuvoso... esperando esse tempo passar.


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