BDF_182

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Ano 4 • Número 182

Uma visão popular do Brasil e do mundo

R$ 2,00

São Paulo • De 24 a 30 de agosto de 2006

www.brasildefato.com.br

Antonio Cruz/ABr

Sem reforma agrária, mais assassinatos e repressão Em Pernambuco, sem-terra são vítimas de violência resultante de conflitos e criminalização

D

ois integrantes da direção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Pernambuco foram assassinados a tiros pelas costas, no dia 20. Enquanto os criminosos desfrutam a liberdade, a polícia do Estado prendeu um dos coordenadores nacionais do MST, Jaime Amorim, acusado de “mau comportamento” em mani-

festação contra George W. Bush, em novembro de 2005. Para dom Tomás Balduíno, os dois tristes episódios ilustram a criminalização dos movimentos sociais, promovida pela grande mídia e pelo Poder Judiciário. Os fatos descontextualizados camuflam a principal causa dos conflitos – a concentração fundiária no país. Pág. 3

A Colômbia sob controle militar dos EUA Sob a orientação estadunidense, o presidente Álvaro Uribe implementa na Colômbia um forte sistema de repressão e assassinatos de integrantes de movimentos sociais. A cada dia a sociedade colombiana se militariza mais, seja oficialmente, seja com o apoio de grupos de ultradireita formados por paramiliComitê de defesa do povo palestino e libanês faz protesto em Brasília contra a intervenção da ONU no Líbano, no dia 16 Raízes do Hezbollah – Único brasileiro que integrou uma missão de paz no Líbano, o presidente do Observatório Social, Kjeld Jakobsen, diz que o Hezbollah é muito mais amplo que um partido religioso e mantém alianças até mesmo com o Partido Comunista Libanês. “Nem todos os seus integrantes são necessariamente muçulmanos xiitas”, revela, em entrevista ao Brasil de Fato. Pág. 7

EDITORIAL

Um grito contra as injustiças

N

o dia 7 de setembro, o povo brasileiro tem um compromisso: gritar contra as injustiças e o descaso das elites. É com esse espírito que será realizado o 12º Grito dos Excluídos no Brasil, sob o lema “Brasil: na força da indignação, sementes de transformação”. Caminhadas, celebrações, atos simbólicos, blocos em desfiles oficiais e tantas outras atividades envolverão milhares de pessoas em centenas de cidades do país. A exemplo do Brasil, o Grito dos Excluídos vai ecoar em mais de 20 países das Américas Latina e Central e do Caribe. E, em 12 de outubro, outras milhares de pessoas estarão reunidas em jornadas, manifestações, caminhadas ou celebrações sob o tema “Trabajo, justicia y vida”. O Grito é um eco principalmente contra a exclusão social, processo que vem se perpetuando na história do Brasil: em governos passados, recentes e, infelizmente, também no atual. “Não queremos esmola, queremos trabalho!”, disse uma dona-decasa ao ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Patrus Ananias, em Belo Horizonte (MG), quando ele falava a moradores em situação de rua sobre a Bolsa-Família. Essa reação mostra claramente que de nada valem as políticas compensatórias, ainda que ne-

cessárias, se junto com elas não são feitas mudanças estruturais – como a mudança na política econômica que privilegia o pagamento das dívidas, o superavit, o capital financeiro e o agronegócio, em detrimento das políticas sociais. As mudanças que realmente interessam aos milhões de excluídos do nosso país passam por amplas e profundas reformas agrária e urbana que, apesar de terem sido durante mais de 20 anos compromisso de campanha do atual governo, não estão sendo realizadas. Pelo contrário. As ações do governo têm privilegiado o agronegócio, que recebe por ano mais de R$ 40 bilhões de investimentos contra apenas R$ 10 bilhões para a agricultura familiar. Mesmo sabendo que a reforma agrária gera empregos no campo, o governo continua privilegiando o agronegócio, que expulsa 11 trabalhadores rurais a cada emprego que cria, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra. O Grito é também contra a corrupção. Mensalão, sanguessugas, desvios de recursos públicos são apenas alguns exemplos desse mal enraizado em nosso país. Aqui a corrupção passa a ser quase normal e não suscita mais indignação na população – pelo menos, não

de forma organizada para uma reação social. Recuperar a capacidade de nos indignarmos. É esse o grande apelo do Grito neste 7 de setembro. Indignação diante da fome, da miséria, da morte de trabalhadores. Indignação com a corrupção, com a violência, com as guerras espalhadas pelo mundo e com a nossa própria guerra que, só nos morros do Rio de Janeiro, mata mais do que a do Iraque ou a do Líbano. O Grito é contra a forma de política representativa, que não responde mais às demandas da população. Que não é mais legítima. O povo quer uma democracia direta e participativa. É preciso criar plebiscitos, referendos, conselhos populares, enfim, formas que garantam efetivamente a participação da população e que obriguem os políticos a fazer aquilo que favorece o bem comum. O Grito é por um projeto popular alternativo que ajude a construir o Brasil que queremos. Todos estão convocados a somar esforços na construção de um mundo melhor.

tares que mantêm uma íntima relação com o presidente – como conta o defensor de direitos humanos Fabio Serna, em entrevista ao Brasil de Fato. Para Serna, os EUA, sempre visando os interesses de seus oligopólios, buscam o controle militar sobre a América do Sul. Pág. 5

Renda continua Mulheres do Iraque em cenas concentrada, diz economista de amor e guerra Nove personagens contam suas tragédias e revelam suas emoções em meio ao caos de um país ocupado. Essas experiências, coletadas pela atriz iraquiana-estadunidense Heather Raffo, resultaram na peça As Nove Partes do Desejo. Clarisse Abujamra, que traduziu e adaptou o texto, encena o monólogo no Brasil. Pág. 8

Não é verdade, como pregam os discursos no horário eleitoral, que a distribuição de renda atingiu um dos melhores índices da história recente. O economista Guilherme Delgado, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostra que o governo faz uma análise distorcida dos rendimentos. Pág. 4

Uma alternativa à monocultura de eucalipto

Manipulação em tribunal sobre Ruanda

Pág. 3 Márcio Baraldi

Pág. 7


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