BDF_181

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Uma visão popular do Brasil e do mundo

Ano 4 • Número 181

R$ 2,00

São Paulo • De 17 a 23 de agosto de 2006

www.brasildefato.com.br

Douglas Mansur/ Novo Movimento

Conquista – O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra inaugurou, dia 12, o Assentamento Comuna da Terra Irmã Alberta, na região de Cajamar, na grande São Paulo

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Brasil, paraíso das transnacionais País perde com isenção de impostos sobre remessas de lucros de empresas ao exterior

L

ivres de impostos, milhares de dólares saem do país, todos os anos, sob a forma de lucros e dividendos de filiais de transnacionais. Com isso, desde 1996, o país deixou de arrecadar R$ 18,5 bilhões. Também vem dessa data o privilégio dessas empresas de descontar do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido os pagamentos

aos sócios, a título de remuneração de juros sobre o capital investido. As remessas de transnacionais cresceram 85,2% em 2005 (9,1 bilhões de dólares, um recorde até então). No primeiro semestre, somaram 5,4 bilhões de dólares, avançando mais 44,1% na comparação com o mesmo período do ano passado. Pág. 5

EUA tentam desestabilizar Cuba

Hezbollah destrói mito israelense

Amparado pela ofensiva da mídia, que especula sobre “o risco de uma crise interna em Cuba”, George W. Bush prepara uma estratégia para extinguir o socialismo na ilha caribenha. Frei Betto, amigo do presidente cubano Fidel Castro, acha o esforço inútil: “A revolução está institucionalizada”. Pág. 6

Números indicam que o Hezbollah saiu vitorioso, após 34 dias de conflito. Apesar disso, jornais controlados por grandes corporações econômicas insistem no mantra de que “Israel ganhou a guerra”. Na prática, o cessar-fogo é apenas um intervalo anterior a uma guerra maior, que se anuncia. Pág. 7

Comunicação popular não tem vez, com Lula

Retratos da revolução na Nicarágua

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Agronegócio quer mais transgênicos Dia 9, Walter Colli, presidente da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), praguejou contra a militância que combate os transgênicos, desejando que “passem a depender de insulina”. Dias antes, O

Estado de São Paulo chamou de “guerrilha administrativa” um grupo da CTNBio defensor do princípio da precaução. Apesar da Comissão manter a produtividade, o lobby pró-transgênico espuma de raiva frente à lentidão

na liberação de seus produtos. O governo resiste. Para o deputado estadual Frei Sergio, não poderia ser diferente: “Se Lula ceder mais, nem precisa da CTNBio, deixa plantar e pronto”. Pág. 3

EDITORIAL

Guerra permanente

D

epois de inúmeras sessões protelatórias que permitiram a Israel semanas para destruir cidades e massacrar a população no Líbano, a Organização das Nações Unidas (ONU) produz essa caricatura de cessar-fogo, que tenta garantir as posições de tropas internacionais e o desarmamento do Hezbollah. Isto é, a decisão da ONU favorece amplamente Israel, como ocorreu na guerra do Kosovo, quando a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), coalizão de países capitalistas, bombardeou de modo criminoso a Iugoslávia. Que moral têm os governos europeus hoje para falar em cessar-fogo, diante do crime que cometeram antes? Na verdade, o cessar-fogo não é resultado de qualquer atitude humanista da ONU, mas de uma relação de forças que se estabeleceu a partir da resistência crescente do Hezbollah e das massas árabes, o grande apoio que esses combatentes granjearam junto à população do Líbano. Até mesmo velhos colaboradores do imperialismo, como o atual primeiro-ministro libanês, Fuad Siniora, e um anterior, como Jumblat, são obrigados a elogiar e defender publicamente o Hezbollah, indicando uma vitória social-revolucionária importantíssima das massas árabes contra Israel e os EUA. Vale destacar que o presidente estadunidense George W.

Bush havia confiado no plano genocida do primeiro-ministro israelense Elmut Olmert, que pedia um pouco mais de prazo para “limpar” a área e destruir o Hezbollah. A resistência heróica – nela se inclui Ibraim, jovem revolucionário brasileiro-libanês que morreu lutando contra o nazismo israelense – frustrou os planos do imperialismo de avançar em posições para atacar no futuro a Síria e o Irã. Esse era o plano. A resistência obrigou até mesmo que Condolezza Rice fosse pessoalmente ao Conselho de Segurança da ONU – algo inédito – para apressar um cessar-fogo antes que a onda antiimperialista se generalizasse por todo o Oriente Médio e levasse de roldão vários dos governos árabes que são marionetes dos EUA. Vários desses governos começaram a fazer também declarações de reconhecimento ao Hezbollah, expressão dessa vitória social-revolucionária imposta a Israel. Porém, o cessar-fogo não tem perspectivas de estabilidade. O imperialismo dos EUA irá buscar outras motivações para dar vazão a sua única forma de existência, hoje: a indústria bélica, a produção de guerras e a rapina de recursos minerais, onde quer que eles estejam. Essa é a razão dos novos carregamentos de armamentos feitos nos últimos dias dos EUA para Israel. Basta lembrar que Israel, embora tendo uma população de menos de

6 milhões de habitantes, recebe 58 % de toda a ajuda externa estadunidense em armamentos. Ou seja, é impossível que Israel adote outra posição política, a não ser que derrotado pelas massas árabes e também pelo movimento de massas israelense que preconiza uma coexistência pacífica com o mundo árabe, reconhecendo os direitos do povo palestino a ter um Estado e um país autônomos. A vitória social-revolucionária do Hezbollah deve ser saudada por todos os movimentos progressistas do mundo e pelos povos e países que são também alvo das ações agressivas dos EUA. É muito importante que os movimentos progressistas de todo o mundo organizem campanhas de apoio à reconstrução de escolas, hospitais e casas no Líbano, enviem delegações de militantes para participar dessa reconstrução. São formas para construir a consciência e o movimento internacional antiimperialista, já que, inevitavelmente, o imperialismo está sempre preparando planos mais sinistros, mais sangrentos, pois necessita parar o curso da história, a evolução da consciência das massas em todo o mundo.


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