BDF_179

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Uma visão popular do Brasil e do mundo

Ano 4 • Número 179

Israel massacra, com aval dos EUA

www.brasildefato.com.br

Fabio Venni/Flickr

São Paulo • De 3 a 9 de agosto de 2006

R$ 2,00

A

taques sem precedentes, com despudoradas violações de direito internacional, dão o tom da ofensiva israelense no Líbano, que em vinte dias já fez 600 mortos – 550 do lado libanês, entre os quais 37 crianças atingidas por bombardeios, dia 30 de julho. “Preparem-se para dor, lágrimas e sangue, porque a guerra não será curta”, disse o primeiro-ministro Ehud Olmert a seu povo. A ofensiva sangrenta conta com o apoio dos Estados Unidos, que desde 2001 tem um plano para a invasão do Líbano e de outros seis países da região, segundo denúncia do general Wesley Clark publicada na página da Global Research na internet. O Hezbollah anunciou que vai responder à altura. Pág. 7

M Asser/Flickr

Preparando uma guerra longa e sangrenta, governo israelense mata doentes, crianças e quebra acordos mundiais

Manifestantes em Londres levantam cartazes contra a guerra (à direita); casa de líder militar do Hezbollah é destruída no centro de Tiro, sul do Líbano, após ter sido atingida por bomba israelense guiada por laser, no dia 26

A vida se extingue no deserto verde Toledo, integrante de um coletivo que organiza a criação do Movimento em Defesa dos Pequenos Agricultores, na cidade. Pág. 3

ação devastadora da monocultura de eucalipto. “Os trabalhadores rurais vivem em condições precárias, sem moradia digna e sem renda fixa”, denuncia Marcelo Douglas Mansur/Novo Movimento

Sem terra, sem saúde, sem esperança. Camponeses de São Luís do Paraitinga, no interior de São Paulo, relatam o sofrimento das populações que são vítimas da

Monocultura do eucalipto está devastando a natureza de São Luís do Paraitinga

As garras de Bush sobre o Paraguai

Os pobres pagam a conta dos juros Pág. 4

Sob a conivência do governo Nicanor Duarte, os Estados Unidos transformam o Paraguai em uma imensa base militar. Com total imunidade judicial, tropas estadunidenses realizam, periodicamente, exercícios em território paraguaio. O pretexto é o combate ao terrorismo, que estaria presente na Tríplice Fronteira. No interior, soldados em missão “humanitária” filmam e tiram fotos das áreas próximas. Pág. 6

Movimentos estão céticos com eleições Os movimentos sociais brasileiros decidiram não apoiar nenhum candidato nessas eleições. A exceção é a CUT, que identifica uma disputa de projetos entre PT e PSDB e defende a reeleição de Lula. Outras oito entidades ouvidas pelo Brasil de Fato evitam tomar posição, em nome de sua autonomia. Adotam como prioridades a luta social, a organização e a construção de um projeto para o país. Pág. 5

EDITORIAL

Terrorismo contra árabes

N

ão há outro nome. A agressão militar de Israel contra o Líbano caracteriza-se como terrorismo de Estado. Há uma guerra permanente do sionismo israelita, braço armado do imperialismo, contra os povos árabes. Assim como há uma heróica resistência das massas árabes, apesar dos limites das políticas de suas direções e do peso dos governos árabes mais conservadores. Porém, a atual guerra de Israel contra o Líbano – com bombardeios cirúrgicos contra bairros xiitas, onde há mais apoio político aos movimentos de esquerda e progressistas, como o Hezbollah – tem ingredientes de uma escalada de preparação para enfrentamentos contra o imperialismo. A construção do muro na Cisjordânia – reservando para Israel as terras de melhor cultivo, rapinando territórios que legalmente pertencem aos palestinos – e a interrupção do fornecimento de luz e água em vastas regiões palestinas agora somam-se a assassinatos de crianças, destruição de infra-estrutura. Tudo indica que ações mais sangrentas estão em preparação. A estratégia é ampliar a presença militar estadunidense na região, como já se faz no Iraque. Agora, pela ação israelense contra o Líbano, ocupar posições de ataque contra a Síria e o Irã. Não por acaso se

faz uma campanha contra a Síria, acusada do atentado contra o ex-primeiro-ministro libanês (organizado com as características das ações da CIA), forçando a retirada das tropas sírias que faziam um escudo protetor. A agressão israelense não poderia se dar sem o apoio cínico e criminoso dos Estados Unidos, inclusive com sua ação para paralisar a Organização das Nações Unidas (ONU), permitindo a Israel mais tempo para massacrar e para ocupar novas posições. O episódio traz dolorosas lições. Especialmente para os setores socialdemocratas, que conservam a ilusão e a crença nas eleições – que também existem em Israel, apesar do caráter fascista de seu governo. De outro lado, estão os que aprendem das próprias concessões indevidas feitas ao imperialismo, como é o caso dos russos. É de extrema importância que a Rússia de Puttin garanta suprimentos de defesa à Venezuela, e também que o Irã firme diversos tratados de cooperação com o governo Hugo Chávez, mas sempre com um claro chamado político aos povos do mundo, para que se unam contra o imperialismo. Sem esconder que se prepara para uma guerra de maiores proporções e para a ocupação territorial daquela região do Oriente Médio rica em petróleo, os EUA

não têm limites na hipocrisia. Enquanto faz novas remessas de armas para Israel, George W. Bush continua a pressionar o Irã para que suspenda seu programa nuclear e ignorando o fato de Israel ter bombas atômicas. Pelo menos duas lições o Brasil pode extrair dessa guerra: embora correta, é insuficiente a crítica feita a Israel. Os brasileiros que já morreram no Líbano e os que seguem correndo risco são vítima da sanha criminosa do sionismo, que atua sempre ao arrepio da legislação internacional. O governo brasileiro deveria ter atitudes mais veementes contra o governo israelita. A segunda lição é que a agressão israelense representa uma expansão militar dos interesses estadunidenses no Oriente Médio, mas faz parte de uma estratégia global do imperialismo ianque, que tem seus desdobramentos também na América do Sul. Por exemplo: a presença militar dos EUA no Paraguai, as 22 bases militares dos EUA em toda a América Latina. Diante dessa expansão, em linha inversa, encontra-se a defesa militar brasileira, em fase de sucateamento, fato de extrema gravidade para um país com os recursos que tem na Amazônia e nas bacias petrolíferas costeiras, que ficam em situação de extrema vulnerabilidade.


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