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Uma visão popular do Brasil e do mundo

Ano 4 • Número 177

R$ 2,00

São Paulo • De 20 a 26 de julho de 2006

www.brasildefato.com.br

Guerra no Oriente Médio

As opções da esquerda em ano eleitoral

Muçulmanos se unem contra ataques de Israel à Palestina e ao Líbano

A

cados, abandonam rivalidades e se unem contra o inimigo comum. O governo iraniano alerta o israelense que não vai tolerar agressões à Síria. Exige a retirada das tropas do Líbano e da Palestina. O conflito se

alastra. Seiscentas pessoas foram mortas nos ataques, desde 28 de junho. Israel mobiliza sua população. Dos 7 milhões de habitantes, 3 milhões têm treinamento militar. O Oriente Médio está em guerra. Países

ocidentais, omissos, encaram o conflito como rotineiro, resultado da instabilidade corrente da região. O impasse, gerado pelo belicismo israelense, pode gerar um conflito longo e mundial. Pág. 5 Ahmed Deeb/ Word News

s maiores correntes do Islã - sunismo e xiismo - se aliam para resistir às ações militares de Israel, que invadiu a Palestina e o Líbano. O Hamas e o Hezbollah, organizações dos países ata-

Três alternativas de estratégia dividem a esquerda, neste ano eleitoral. PT e PCdoB acreditam na reeleição do presidente Lula para acentuar as mudanças iniciadas pelo primeiro mandato e impedir o retrocesso simbolizado pela candidatura de Geraldo Alckmin, do PSDB. PSOL, PSTU e PCB identificam na campanha de Heloísa Helena um meio para enfrentar e superar o neoliberalismo. A Consulta Popular concentrará suas forças nas lutas sociais, como a reestatização da Companhia Vale do Rio Doce. Pág. 3

Governo omisso alimenta a violência em SP

Povos árabes do Oriente Médio, de credos e nacionalidades diferentes, se aliam para combater Israel, cujo exército ocupa a Palestina e o Líbano

Os desafios do novo ministro da Agricultura Pág. 4

Mexicanos nas ruas contra fraudes

Missão investiga ação dos EUA no Paraguai

Pág. 7

Movimentos haitianos se organizam por mudanças

Pág. 7

Cansadas da ingerência internacional e de governos neoliberais, as organizações populares do Haiti se preparam para tomar o poder. Unificam pautas e articulam mobilizações conjuntas. Essa é a experiência narrada por Marc-

EDITORIAL

O

Essa dominação imperialista conta com o apoio das burguesias locais e dos governos enfraquecidos ou cooptados pela idéia de que, seguindo a receita dos ricos, atingirão o status de esquerda civilizada e amadurecida. Esses governos acreditam que, seguindo receituários e cumprindo acordos nocivos aos interesses da população, poderão ingressar no restrito clube dos países ricos. Clube que sobrevive graças à rapinagem internacional que promove. Afinal, de que adianta sentar à mesa dos banqueiros internacionais se no interior do Maranhão há pessoas morrendo por falta de vitamina B? Infelizmente, esse debate parece passar longe das disputas eleitorais deste ano. As discussões se restringem às fofocas de corredores, à troca de cargos e favores, à garantia de benefícios individuais, às denuncias de corrupção (que deve ser combatida, sempre, com todo o rigor da lei). Enfim, o debate político se restringe àquilo que o pensador marxista Antônio Gramsci chamou de pequena política. Enquanto a grande política, a definição do destino do país, a elaboração de um projeto estratégico de desenvolvimento que atenda os interesses e necessidades do povo, é posta de lado. Talvez seja esse esvaziamento da política a principal razão de a

esquerda brasileira estar tão desunida neste processo eleitoral. A unidade política, dos que querem transformar a realidade, não se dá pelas vontades pessoais ou discursos ideológicos. Acontece em torno de propostas, estratégias e projetos políticos. Na ausência deles, cada um se dá o direito de fazer a defesa de sua proposta, de eleger seus inimigos, de buscar as alianças políticas mais convenientes. Não fazem nada mais que o jogo da direita, que aposta sempre no fracionamento das forças progressistas para perpetuar seu domínio político. Caberá aos movimentos sociais e às forças progressistas a tarefa de deslegitimar e apresentar alternativas ao sistema capitalista. Torna-se cada vez mais evidente a necessidade de uma unidade e de inovar nas formas de organização social e política. Torna-se imperioso resgatar o sonho, a utopia da transformação social. Os seres humanos são dotados de inteligência e capacidades que lhes possibilitam construir uma sociedade superior à capitalista.

Arthur Fils-Aimé, diretor do Instituto Cultural Karl Lévêque, em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato. Para ele, a Missão da ONU, comandada pelo Brasil, impede a solução dos problemas do país. Pág. 6

Douglas Mansur

É preciso resgatar a utopia modelo neoliberal, implementado desde o início da década de 1990, não se limitou a hegemonizar o capital financeiro sobre o produtivo, privatizar as empresas estatais e desnacionalizar a economia. A democracia do Estado burguês foi reduzida a um acessório decorativo. Os direitos e as liberdades democráticas do Estado burguês não são concessões da burguesia, mas conquistas da classe trabalhadora, obtidas com as lutas que se opuseram aos interesses e aos objetivos da elite brasileira. O neoliberalismo conseguiu fragilizar ainda mais a democracia e as instituições do Estado. A privatização e a desnacionalização da economia, associadas ao predomínio dos interesses do capital financeiro, promoveram uma verdadeira desestruturação dos centros internos de decisão política e de planejamento estratégico. Os organismos internacionais, financeiros e comerciais exercem verdadeiros papéis de polícia, vigiando, inibindo e, sempre que necessário, reprimindo toda e qualquer tentativa de romper com a agenda neoliberal imposta aos países da periferia do sistema capitalista. Há um esforço draconiano para desqualificar e silenciar as propostas que se opõem ao modelo neoliberal e, principalmente, ao sistema capitalista.

À mercê de nova onda de ataques atribuídos à organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), o Estado de São Paulo sofre as conseqüências da falta de políticas públicas de segurança. Entidades de defesa de direitos humanos denunciam a ação revanchista e inócua da polícia no combate ao crime, enquanto apontam situações de barbárie em um presídio de Araraquara – onde 1.400 detentos, expostos a sujeira e doença, ocupam um espaço destinado a abrigar 400. Pág. 4

MOBILIZAÇÃO POPULAR – Quase duas mil pessoas acompanharam a Romaria dos Mártires da Caminhada Latino-Americana, em Ribeirão Cascalheira, no Mato Grosso, que celebrou os 30 anos de martírio do padre João Bosco


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