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Ano 4 • Número 172

R$ 2,00 São Paulo • De 15 a 21 de junho de 2006

Condomínio de alto luxo tenta expulsar moradores de favelas no Morumbi, na capital paulista

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erca de R$ 1,5 bilhão está sendo investido na construção do maior condomínio de luxo do país, que vai abrigar nove torres de apartamentos de 1.700 metros quadrados, a R$ 18 milhões cada. Tudo cercado por um muro. O “muro da humilhação”, na opinião da empregada doméstica Aparecida dos Santos – moradora da favela Jardim Panorama e pressionada pela prefeitura a

Paulo Roberto

São Paulo proibida para os pobres deixar sua casa, para dar lugar ao complexo. Organizadas, as famílias ameaçadas pelo empreendimento resistem. Em maio, no lançamento do projeto, os jovens assumiram o comando dos protestos. “Não adianta oferecer R$ 5 mil para cada barraco pois sabemos que a nossa terra e a nossa vida valem muito mais que isso!”, dizia uma carta dos moradores. Pág. 3

Migrações expõem crise do modelo capitalista os dias 22 e 24, e a 21ª Semana do Migrantes, de 18 a 25, com atividades em todo o Brasil. O geógrafo Heinz Dieter Heidemann acredita que o fenômeno das migrações pode ser explicado por uma crise no sistema global da economia de mercado. Pág. 6

Lucro da Basf às custas de trabalho infantil

Cineasta mostra o drama dos sem-teto

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Construtora ergue muro para separar os pobres dos ricos, dificultando o acesso dos moradores à rua

Jornada divulga e ensina agroecologia Oficinas práticas para assentados da reforma agrária e agricultores familiares foram o destaque da 5ª Jornada de Agroecologia, realizada entre os dias 7 e

10, em Cascavel (PR). Cerca de 5 mil participantes, de 18 organizações, trocaram experiências sobre temas como água e energia, agrotóxicos, biodiversidade,

bioenergia. No encerramento da jornada, houve uma marcha até a transnacional Syngenta, ocupada pela Via Campesina. Pág. 4

Carlos Ruggi

Reféns de exploração e de degradação, na maior parte das vezes, existem hoje, no planeta, aproximadamente 200 milhões de migrantes. Desses, três milhões são brasileiros. Para discutir os problemas dessas pessoas, serão realizados o 2º Fórum Mundial das Migrações, em Madri, entre

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EDITORIAL

Um projeto para a vida

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m uma articulação de vários movimentos sociais camponeses, juntamente com organizações da sociedade civil, realizou-se, de 5 a 9, a 5ª Jornada de Agroecologia, em Cascavel (PR) – atividade que tem sido um importante espaço para a construção de um projeto popular e soberano para a agricultura brasileira. Convencidos de que é preciso mudar o atual modelo de desenvolimento agrícola no país, e de que é necessário substituir a matriz da produção de monocultura e convencional pela produção agroecológica, os trabalhadores reunidos na jornada discutiram as agressões tecnológicas e comerciais das transnacionais e aprofundaram os conhecimentos agroecológicos com estudos, oficinas práticas e intercâmbio de experiências. A orientação pela agroecologia conduz a uma associação da base técnica sustentável com a necessidade da organicidade do povo camponês, implicando a exigência da construção da sua identidade de classe, da sua autonomia e da ação política. Hoje, a luta camponesa incluiu a agroecologia de forma permanente e sem volta. Do mesmo modo, essa ampla articulação de movimentos sociais camponeses, organizados pela Via Campesina e por outras entidades da sociedade civil, tem enfatizado a necessidade do permanente enfretamento com as transnacionais do agronegócio e dos transgênicos – como Monsanto, Syngenta e Aracruz Celulose. Essas empresas são responsáveis por graves

crimes ambientais. Agridem de forma escandalosa a biodiversidade e a agricultura, em geral, e de forma ainda maior a produção agroecológica. A conseqüência do atual modelo é a perda da soberania dos países sobre a agricultura, a perda da soberania alimentar, a devastação da natureza, a destruição do modelo camponês de viver, o desemprego agrícola e uma sociedade mais pobre e desigual. Frente a isso, precisamos travar uma verdadeira guerra contra esse modelo, que deve ser derrotado antes que acabe com a vida. Como afirma o Manifesto das Américas em Defesa da Natureza e da Diversidade Biológica e Cultural, “é urgente e necessário criar alternativas que garantam a vida. É preciso passar de uma sociedade de produção industrial, consumista e individualista, que sacrifica os ecossistemas e penaliza as pessoas, destruindo a sociobiodiversidade, para uma sociedade de sustentação de toda a vida, que oriente por um modo socialmente justo e ecologicamente sustentável de viver, cuide da comunidade de vida e proteja as bases físico-químicas e cológicas que sustentam todos os processos vitais, incluindo os humanos”. Nesse sentido, a Jornada de Agroecologia tem sido um importante espaço de organização popular, que se soma a outras iniciativas da classe trabalhadora, na busca da libertação dos camponeses, possibilitando a construção de uma agricultura soberana, sem o latifúndio.

Integrantes da Via Campesina participam da marcha da 5ª Jornada de Agroecologia, realizada entre 7 e 10, em Cascavel (PR)

Timor Leste em crise política e social Após 24 anos de ocupação indonésia e três administrado pela Organização das Nações Unidas, o Timor Leste vive sua pior crise. Confrontos entre grupos de civis armados causaram dezenas de mortes na capital, Dili, e mais de 100 mil pessoas fugiram de suas casas. A onda de violência começou depois que o primeiroministro, Mari Alkatiri, demitiu 600 militares – um terço do Exército – que estavam em greve para exigir o fim da discriminação contra eles. Pano de fundo da crise também é o fracasso da intervenção da ONU. Pág. 7


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