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Ano 4 • Número 171

R$ 2,00 São Paulo • De 8 a 14 de junho de 2006

Em jogo, a autonomia da CUT Em seu 9º congresso, a maior central sindical do país faz um balanço de sua atuação frente ao governo Lula

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capacidade de mobilização dos trabalhadores e a definição de estratégias de ação num cenário de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva são os temas mais quentes do 9º Congresso Nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), realizado entre os dias 2 e 9, em São Paulo. Cerca de 2 mil delegados vão eleger a nova diretoria da Central e debater

o papel da CUT como protagonista da luta de classes. “Ou a CUT gerencia sua autonomia, ou perde parte da sua base”, sentencia Altamiro Borges, ligado à Corrente Sindical Classista (CSC). O atual presidente da central, João Felício, acredita que a maioria dos sindicalistas prefere Lula, “mas isso não significa perder a autonomia sindical”. Pág. 3

Exploração do trabalho suja uniformes da Copa

EDITORIAL

Em greve, Uerj pressiona Rosinha Matheus

A luta pelo passe livre no Chile

Resultado da ocupação do Haiti: fiasco

ção do modelo neoliberal e, especificamente, a reestruturação ocorrida no mundo do trabalho, forçou o movimento sindical a adotar uma postura defensiva. A CUT, criada em 1983, no auge do movimento grevista, rapidamente transformada na maior central sindical do país – com um papel fundamental na luta contra a ditadura militar e na construção do Partido dos Trabalhadores (PT) – não escapou ilesa dessa ofensiva do capital. Seu poder de mobilização e de condução das lutas sindicais foi gradativamente enfraquecido. São quase duas décadas de perdas para a classe trabalhadora. É por esse cenário que a CUT deve pautar seus desafios. Os interesses e objetivos do capital continuam sendo opostos aos do trabalho. A voracidade de lucro exige que a burguesia aumente a exploração da classe trabalhadora. O Estado burguês é incapaz de atender os direitos trabalhistas, de consolidar uma democracia participativa e de assegurar o bem-estar para toda a população. Cada vez mais esse Estado refina sua capacidade de concentrar riquezas e de reprimir os que não se submetem ao domínio burguês. A classe trabalhadora precisa se preparar e fortalecer a defesa de seus interesses. Um dos desafios postos para a CUT é retomar o seu papel de protagonista da luta de classes, organizando e colocando os

trabalhadores na cena política. Ou seja, resgatar a capacidade do povo brasileiro de decidir sobre o seu futuro e impor sua vontade à classe dominante. Porém, como instrumento de luta dos trabalhadores e força de transformação, a Central precisa ser mais ofensiva. Precisa ter o seu alvo claro, definido. É preciso, por exemplo, travar uma luta contra o sistema financeiro e contra as transnacionais, que sugam do território nacional toda a riqueza produzida. É fundamental recuperar a autonomia da central frente ao governo. Torna-se cada vez mais evidente que as conquistas da classe trabalhadora dependerão do seu nível de organização e de sua capacidade de mobilização. Outro desafio importante é a construção da unidade de classe. Isso significa buscar alianças com os trabalhadores informais, desempregados e os trabalhadores do campo, para construir um projeto popular para o Brasil. Um projeto popular que passa necessariamente por um projeto de nação em que estejam contemplados os interesses dos trabalhadores.

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No Peru, vence o candidato da direita Pág. 7

Mobilizados desde dia 30 de maio, os estudantes secundaristas chilenos deflagraram a primeira crise política da presidenta Michelle Bachelet. Dia 5, eles somavam um milhão nas ruas, empunhando uma bandeira hoje “global”: a luta pelo passe livre. O movimento já conta com a adesão de professores, universitários e funcionários públicos. Além do passe livre, eles reivindicam o fim de uma taxa para prestar o vestibular e a alteração da lei de educação dos tempos da ditadura. Pág. 8

Douglas Mansur

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vernamental Oxfam International, que no fim de maio divulgou estudo sobre o tema. Além dos baixos salários, os funcionários não têm direito de se organizar em sindicatos, são submetidos a assédio sexual e trabalham em péssimas condições de segurança. Pág. 6

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Estratégias para manter a luta Central Única dos Trabalhadores (CUT) realiza seu 9º congresso nacional em um momento extremamente importante para o sindicalismo brasileiro. Primeiro, porque vivemos um período ímpar na história do Brasil, com um operário na Presidência da República e em campanha para a reeleição. Segundo, porque a burguesia brasileira, seguindo os ditames da elite internacional, faz uma ofensiva para manter, e se possível aprofundar, as políticas neoliberais – mesmo que já tenha sido demonstrado o fracasso desse modelo no mundo todo. O poder aquisitivo do salário foi gradualmente diminuindo, ano após ano. Direitos trabalhistas, obtidos em lutas que perpassaram todo o século 20, simplesmente foram suprimidos da Constituição Federal. Bem sucedido em sua lógica de concentrar riquezas, o modelo neoliberal promoveu, conseqüentemente, o aumento da pobreza e uma insana e assustadora depredação dos recursos naturais. Essa situação tende a se agravar. A elite econômica e política ainda não está satisfeita com as reformas neoliberais impostas até agora. Quer mais. Ávida pelos lucros obtidos a qualquer preço, essa elite dirige seus esforços e recursos, humanos e financeiros, para implementar reformas trabalhistas mais prejudiciais à classe trabalhadora. Nos anos 1990, a implanta-

Enquanto grandes marcas esportivas investem milhões em patrocínio das seleções que disputarão a Copa do Mundo da Alemanha, trabalhadores asiáticos que fabricam as chuteiras e os uniformes dos jogadores ganham pouco mais de R$ 10 por dia. A denúncia é da organização não go-

MARCHA POR HABITAÇÃO – Organizada pela Central de Movimentos Populares (CMP), dia 31 de maio, em São Paulo (SP), manifestação exige mais investimentos públicos para famílias sem teto. No dia seguinte ao protesto, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) concedeu o habeas corpus de Luiz Gonzaga da Silva, o Gegê, dirigente da CMP, anulando sua prisão preventiva, decretada a partir de sua suposta participação em um homicídio


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