Ano 4 • Número 169
R$ 2,00 São Paulo • De 25 a 31 de maio de 2006
Polícia decreta pena de morte na periferia de São Paulo
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Execuções sumárias de pessoas sem vínculo com o tráfico comprovam denúncias de abusos Fotos: Greenpeace
s assassinatos de cinco moradores do Capão Redondo, zona Sul da capital paulista, dia 16, são mais uma ilustração sangrenta da história de violência das polícias do Estado de São Paulo. Os crimes à queima-roupa, cometidos por quatro homens que abordaram as vítimas sob os gritos de “Mãos na cabeça! É a polícia”, aconteceram em meio à onda de ataques promovidos pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) e contra-ataques desencadeados pelas forças policiais em busca de “suspeitos”. O governador Cláudio Lembo descartou a realização de uma matança, apesar de reconhecer que pode ter havido “eventuais inocentes” mortos. Organizações de defesa de direitos humanos pressionam a Secretaria de Segurança Pública para divulgar a lista dos mortos “em confronto”. O ouvidor da Polícia do Estado de São Paulo, Antônio Funari Filho, revelou que há indícios de irregularidades em diversas mortes. Pág. 3
Soldados da ONU abusam de crianças Tropas em missão de paz e funcionários da Organização das Nações Unidas na Libéria estão envolvidos em casos de prostituição infantil nas comunidades e nos campos de refugiados internos desse país. A denúncia foi feita em relatório da organização Save the Children, que no final de 2005 realizou estudo na região. Empregados de entidades de ajuda humanitária também estão envolvidos em casos de exploração sexual infantil na costa Oeste da África. Pág. 5
A pedagogia do povo contra a dominação O mundo está alienado de si mesmo. O capital, como se fosse um ser autônomo, leva a humanidade à sua destruição, exigindo uma produção desenfreada, que devasta a natureza. O filósofo húngaro István Mészáros, em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, afirma que só a educação popular – formulada e sistematizada pelo povo – pode deter a deterioração do ambiente e a conseqüente falência da vida. Pág. 8
Já está no ar o novo formato da Agência Brasil de Fato na internet. No endereço ( w w w. b ra s i l d e fa t o. c o m . b r ) , você poderá encontrar nossa produção diária de conteúdo exclusivo, entre reportagens, entrevistas e análises, além das edições anteriores do jornal impresso. Em breve, os assinantes terão uma seção específica para acessar a edição da semana. Vamos colocar no ar também um link para rádios comunitárias de todo o país baixarem documentos em áudio e poderem retransmitir para seus públicos locais.
Agronegócio - Cerca de mil pessoas participaram, em 21 de maio, da Marcha pela Floresta em Pé, em Santarém (PA), em defesa da agricultura camponesa e contra a monocultura da soja. Os manifestantes, de diversas entidades, repudiaram as agressões sofridas por ativistas do Greenpeace, que, dois dias antes, foram espancados por funcionários da empresa Cargill. Os ecologistas realizavam um protesto pacífico contra o porto ilegal da transnacional, instalado há três anos na cidade. Quatro ativistas ficaram feridos e 16 foram detidos pela polícia.
EDITORIAL O triste espetáculo fora dos campos da Copa A encruzilhada agrícola O planeta inteiro vai estar ligado, a partir do dia 9 de junho, nos jogos da Copa do Mundo, que se realiza na Alemanha. O espetáculo esportivo vale a pena, assim como a torcida. Mas, nos arredores dos campos de futebol, redes de prostituição promovem um dramático show
de violência contra mulheres, vítimas do tráfico, que muitas vezes são exploradas ou forçadas a se prostituir. Os empresários do sexo agenciam mulheres em diversos países, principalmente nações pobres, prometendo dinheiro fácil. Pág. 7
TV digital: pesquisas teriam sido cooptadas
No México, repressão aos camponeses
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jornal Brasil de Fato tem enfatizado que o país carece de um projeto nacional, popular, que unifique as forças populares e oriente as ações da sociedade e do Estado. Enquanto as forças populares não conseguirem acumular forças em torno de um projeto, continuará o atual modelo de domínio internacional sobre a economia e o Estado. Isso acontece em todos os setores da economia e da sociedade, onde o capital internacional subordina os interesses nacionais aos interesses de lucro e exploração. E assim é também na agricultura. Desde o governo Collor, e depois com mais profundidade nos governos FHC 1 e 2, a agricultura passou a se submeter aos interesses de transnacionais. Nesse modelo, encontraram aliados entre os proprietários capitalistas de terra, construindo uma máfia chamada por eles de agronegócio. Assim, recolonizaram economicamente o país e o deixaram ainda mais dependente das exportações de matérias-primas agrícolas. Hoje, praticamente metade do PIB agrícola depende de soja, cana, café e laranja. Nenhum desses produtos atende às necessidades básicas do povo brasileiro. Durante três anos, as transnacionais cantaram em prosa e verso que sustentavam o Brasil, e que seus ganhos, provenientes das exportações, estavam lá em cima. Não quiseram dividir os lucros fantásticos. Ao contrário. Exigiram a manutenção do subsídio estatal. Agora, o câmbio está baixo, voltou a chover nos
Estados Unidos e a produção de soja se normalizou por lá. Não aumentou em nada o mercado externo europeu e veio a crise sobre o tal agronegócio. Qual foi a saída? Mudar o modelo e reconhecer sua incompatibilidade com os interesses nacionais? Nada! As empresas correram para pressionar o governo, exigindo uma parcela ainda maior da mais-valia social. O governo, refém de interesses eleitorais, atenderá. Serão mais R$ 6 bilhões de dinheiro público transferido para não mais do que 30 mil fazendeiros abastados. Os pequenos agricultores também enfrentam uma crise. Uma crise gerada pela concentração de renda, que inibe o consumo. Os preços dos produtos agrícolas são controlados por meia dúzia de agroindústrias. Faltam políticas públicas que tratem a agricultura familiar e camponesa como um todo. O crédito rural é insuficiente para organizar o sistema produtivo com base na agricultura familiar. Mas, afinal, onde está a saída? A saída está em um projeto que organize a agricultura com base nos pequenos e médios estabelecimentos, voltado para a produção de alimentos e para o mercado interno. Enquanto isso, a cada crise, o Estado das elites brasileiras garante as taxas de lucro dos “capitalistas-risco-zero”.