Ano 4 • Número 167
R$ 2,00 São Paulo • De 11 a 17 de maio de 2006
Explorar, demitir e lucrar Valter Campanato/ABR
Fabricantes de automóveis precarizam o trabalho e acentuam desemprego para não ter que reduzir ganhos
Transparência – A Frente Parlamentar pelo Fim do Voto Secreto realiza ato simbólico na rampa do Congresso Nacional, dia 9, em Brasília
Refém da falta de investimentos verno deveria implantar políticas consistentes, que incluam fontes alternativas de energia, como biomassa (gerada pela queima de produtos orgânicos), energia eólica (gerada por vento) e energia solar. Um manifesto lançado pelos movi-
Uma Europa criativa contra o neoliberalismo
mentos sociais brasileiros apóia “o direito do povo boliviano de controlar suas riquezas naturais e de iniciar, com o governo Evo Morales, a reconstrução da sua identidade nacional e popular”. Pág. 4
Os movimentos sociais europeus, vitoriosos nas lutas contra propostas neoliberais, estão reinventando o modo de fazer política no continente. Articu-
lam-se cada vez mais, como no Fórum Social Europeu, ocorrido em Atenas (Grécia), entre os dias 4 e 7. Pág. 7
Marcio Baraldi
País que se tornou extremamente dependente do gás boliviano, o Brasil cometeu um equívoco estratégico: negligenciar os investimentos na produção doméstica desse recurso. Segundo especialistas, além de reparar esse erro, o go-
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produção automobilística no Brasil deve bater novo recorde pelo terceiro ano consecutivo, em 2006. Porém, entre 1990 e 2004, o setor extinguiu mais de 36 mil postos. Até o final deste ano, essa estatística deve aumentar, principalmente graças ao anúncio feito pela Volkswagen, dia 2, de demitir 5,7 mil funcionários brasileiros. Considerando os empregos indiretos gerados pelas fábricas da transnacional, esse corte pode levar cerca de 270 mil trabalhadores ao desemprego. O sociólogo Ricardo Antunes, da Unicamp, revela que as empresas automotivas não aceitam operar em mercados periféricos, como o brasileiro, senão com altas taxas de lucro. Quando perdem mercado – no caso da Volks, o baixo valor do dólar em relação ao Real dificulta as exportações –, reduzem custos por meio de demissões. Cria-se, assim, uma lógica destrutiva que precariza a força de trabalho. Pág. 3
EDITORIAL
Avança a integração sul-americana
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inda não cessou a campanha dos setores neoliberais contra a tranqüilidade com que o Brasil enfrenta a decisão do governo boliviano de nacionalizar seus recursos naturais em gás e petróleo. Repentinamente convertidos ao “nacionalismo”, esses setores e seus porta-vozes da mídia comercial insistem em campanhas alarmistas, propostas de represálias e, como a cereja em cima da torta, restabelecer as negociações com o império estadunidense para implantar a Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Recorrem ao “nacionalismo” de estádio – primeiro os “interesses do país”, depois o restante. Estranho. São os mesmos que nunca defenderam os “interesses” do país no reino da privataria. Jamais fizeram um editorial contra a venda da Vale do Rio Doce a preço de banana, ou se opuseram à introdução de mecanismos de privatização na própria Petrobrás, (com enormes prejuízos para o país), ao sucateamento da indústria naval local. Por que, hoje, tanto alarde pelo gás boliviano? Enquanto isso, a Volkswagen, beneficiária de créditos e facilidades incríveis, “anuncia” a demissão de 6 mil trabalhadores. E há quem, no governo, pense numa “ajuda”, com o apoio da mesma mídia que se opõe à ajuda à Bolívia. Essa mesma mídia antinacional critica também o governador do Paraná, Roberto Requião, por ameaçar cortar os incentivos fiscais da Volks no Estado, caso a empresa não desista da demissão em massa.
O que está em pauta, na realidade, é um novo modelo de desenvolvimento, muito menos dependente das transnacionais. A Bolívia mostra que “outro mundo é possível”. Mas esse é o processo: renacionalizar quer dizer retomar o controle de processos econômicos fundamentais para o desenvolvimento dos nossos povos. É isso que amedronta a elite. O governo brasileiro apontou em outra direção, muito mais produtiva: reforçar a aliança entre os países sul-americanos. Enfrentar em comum a nova situação. Reforçar os laços, a cooperação, os investimentos, os projetos comuns. Nada de mandar tropas para “lavar a honra”. Ao contrário, cooperação. Basta imaginar os benefícios oriundos de um salto no desenvolvimento social e na distribuição de riquezas na Bolívia: um enorme mercado comprador potencial, principalmente de produtos brasileiros. Os empresários do Sul não teriam muito do que reclamar, mesmo pagando mais pelo gás boliviano, pois o retorno é seguro, por meio da venda de fogões, sapatos, chuveiros, utensílios domésticos etc. Tudo o que falta na Bolívia e que, no Brasil, a capacidade de produção está ociosa. Pela mesma ótica, o gasoduto Venezuela-Brasil-Argentina vai contemplar inclusive o Peru e a Bolívia. Esse é um enorme vetor de desenvolvimento, de potencialização do comércio e da indústria de todos os nossos países. Desta vez, com uma visão endógena de desenvolvimento. Não mais
as “veias abertas da América Latina”, como escreveu o intelectual Eduardo Galeano. Urge, portanto, o governo Lula acelerar as medidas de integração, fazer os acertos necessários na questão da Petrobrás e começar a pensar em uma virada em política econômica, a começar por uma ofensiva para reforçar o Mercosul. Os Estados Unidos estão comendo pelas beiradas, com propostas de livre comércio com o Uruguai, o Paraguai, a Colômbia, o Peru. Com o reforço da Venezuela, a integração da Bolívia e a proposta de adesão do Chile, o Mercosul pode dar um salto, com a criação de um Banco do Sul, que garanta os investimentos sem depender do dólar. Pode ajudar a resolver a crise Argentina-Uruguai pela construção das empresas de papel – poder-se-ia assumir o projeto em conjunto com todos os países do Cone Sul. E estreitar laços com o Paraguai, que está se aproximando perigosamente dos Estados Unidos por meio de uma presença militar. A ocasião é propícias para uma virada à esquerda na América Latina. Cabe aos movimentos sociais aproveitar esse sinal de vitalidade que o governo Lula oferece nesta crise para pressioná-lo a romper definitivamente com a política econômica neoliberal.
Imóveis da União para moradia popular Pág. 5
Prefeitura de SP tira emprego de pobres Pág. 5
No Chile, indígenas em greve de fome Pág. 6
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