Ano 4 • Número 165
R$ 2,00 São Paulo • De 27 de abril a 3 de maio de 2006
Petróleo: limites da auto-suficiência A
auto-suficiência de petróleo, anunciada em 24 de abril, esconde armadilhas. A conquista garante a independência energética do Brasil e o protege de turbulências internacionais. Porém, a calmaria pode não durar muito, uma vez que a nova situação condiciona o país a exportar o excedente de petróleo. Segundo a Petrobras, a auto-suficiência deve durar uma década. Quando acabar, a conjuntura internacional será outra. Para 2015, há estimativas de aumentos de preço de 100% a 200%. Se confirmada a previsão, o Brasil, que hoje vende barris a 70 dólares, terá de readquiri-los dentro de dez anos a 100, 200 ou 300 dólares. Pior: os investidores privados que controlam 63% das ações da Petrobras pressionam a estatal para aumentar a produção e impedem os derivados de ser vendidos a baixos custos internamente. Pág. 7
Movimentos prometem mais mobilizações
Filhas de trabalhadores rurais sem-terra participam de manifestação de abertura do 2º Fórum Social Brasileiro, em Recife (PE), dia 20 de abril
Via Campesina denuncia Agronegócio é matéria ataques à biodiversidade em escolas paulistas Em ato que contou com a participação do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, a Via Campesina lançou o “Manifesto das Américas”, que denuncia o sistema econômico “que explora
os recursos naturais e o ambiente”. Durante visita ao Brasil, dia 20 de abril, o presidente venezuelano defendeu a criação de um projeto latino-americano. Pág. 9 Marcio Baraldi
Reunidas no 2º Fórum Social Brasileiro, realizado entre os dias 20 e 23 em Recife (PE), organizações civis prometeram novas manifestações durante as eleições e produziram documento exigindo uma série de medidas do futuro presidente, entre elas a mudança na política econômica. Pág. 5
João Zinclar
Se exportações continuarem, recursos vão acabar rapidamente e o Brasil ficará exposto a crises globais
CONHECIMENTO – No 7º Fórum Internacional do Software Livre, realizado em Porto Alegre, debates ampliam a discussão sobre liberdade de informação. Pág. 4 ENTREVISTA – Paulo Arantes avalia que Lula, Chávez e Kirchner não são alternativa da esquerda, mas sim uma classe dirigente que quer extrair riqueza da sociedade. Pág. 8
Procuradoria entra no debate da TV Digital Pág. 4
Imigrantes fazem protestos no 1º de Maio dos EUA Pág. 11
Irã, novo alvo do imperialismo do governo Bush Pág. 12
na Escola” – uma parceria entre a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo e a Associação Brasileira do Agronegócio da Região de Ribeirão Preto. Pág. 3
NOSSA OPINIÃO
Combate à ditadura do capital
“N
E mais:
Estudantes estão aprendendo que “suas vidas dependem do agronegócio”, como diz o título de um material paradidático que está sendo usado por 19 mil alunos do Programa “Agronegócio
ão há censura no Brasil. Vivemos uma plena democracia, capaz de assegurar a total liberdade de expressão a todos os cidadãos deste país”, afirmam, em tom triunfante e ufanista, aqueles que defendem a ordem e o Estado burguês. Mas as coisas não são assim. Muito ao contrário. É verdade que não existe mais a sinistra figura do censor político, tão comum nas redações dos jornais à época da ditadura militar. Mas a censura ainda existe, e atua mais do que nunca. Ela apenas mudou a sua forma. A censura é praticada, principalmente, por meios econômicos e tecnológicos que estrangulam todas as iniciativas populares de construção de uma imprensa livre e independente do capital. E quando a arma econômica não é suficiente, a Polícia Federal entra em ação, como no caso da repressão ao movimento por rádios livres. O Brasil de Fato é vítima da censura do capital. Somos, hoje, obrigados a reduzir oito das dezesseis páginas de nosso jornal. É uma decisão obviamente dura, mas politicamente necessária para assegurar a sobrevivência do jornal, com tudo aquilo que ele significa para milhares de militantes, leitores, assinantes e cidadãos que lutam pela transformação do país. Temos grande orgulho de
nossa história. O Brasil de Fato foi lançado há três anos, no âmbito do Fórum Social Mundial de Porto Alegre, como expressão da vontade coletiva dos mais diversos movimentos sociais, todos invariavelmente atacados, caluniados, injuriados e criminalizados pela “grande mídia” dos patrões e das corporações transnacionais. Colocava-se, de forma muito clara, a urgente necessidade da construção de um veículo capaz de estabelecer a verdade dos fatos, ou, pelo menos, de oferecer uma versão diferente do discurso único propagado pelos apóstolos do neoliberalismo. Foram três anos de muita luta e sacrifício. Sofremos boicote por parte das grandes distribuidoras de jornais e revistas, que monopolizam o mercado brasileiro. Conseguimos colocar o jornal em bancas por todo o país, mas a nossa capacidade de divulgar a existência do jornal era e é limitada, até porque nossa tiragem sempre foi pequena, condicionada pelos preços do papel e custos de gráfica. Como contrapartida, jamais recebemos apoio ou subsídio oficial do governo – muito generoso, quando se trata de canalizar verbas para a “grande mídia” –, e mesmo a publicidade de empresas estatais acontece em ritmo de conta-gotas. Sobrevivemos, até agora, graças ao apoio firme de nossos leitores, assinantes e colaboradores. Não temos a menor dúvida
quanto à justeza e à legitimidade de nossa luta, e muito menos quanto à necessidade do jornal. Mas atingimos o nosso limite financeiro. Somos obrigados a cortar gastos com papel, gráfica e correio. Em compensação, vamos investir cada vez mais esforços no aperfeiçoamento de nossos meios eletrônicos. Por meio de um boletim eletrônico diário, a agência de notícias Brasil de Fato fornecerá informações “quentes” aos nossos assinantes e alimentará a rede de comunicação independente nacional. Vamos também aperfeiçoar a nossa revista eletrônica, com o objetivo de torná-la cada vez mais útil e informativa. Os novos censores do capital não cantarão a vitória final. Todas as nossas dificuldades têm um caráter transitório e temporário, ao passo que a disposição de combate do povo brasileiro é permanente e inquebrantável, de Palmares a Carajás. Por isso, estamos tranqüilos. Em brilhante artigo contra a censura, o jovem Karl Marx escreveu: “A menor gota de orvalho reflete, cintilante, todas as cores do arco-íris, mas os censores querem que o sol do espírito emita apenas a cor cinza da burocracia”. Jamais permitiremos que o capital ofusque a luz de nosso povo. Este é o nosso mandato, o nosso compromisso, a nossa vocação, o nosso destino.