Ano 3 • Número 148
R$ 2,00 São Paulo • De 29 de dezembro de 2005 a 4 de janeiro de 2006
Mais um ano sem reforma agrária L
uiz Inácio Lula da Silva, antes de ser eleito presidente, garantiu que faria a reforma agrária no Brasil. Hoje, em discursos por todo o país, diz que está fazendo. No entanto, segundo o professor de Geografia Ariovaldo Umbelino de Oliveira, que participou, em 2003, da elaboração de um projeto de reforma agrária que foi apresentado a Lula, a distribuição de terras está longe de ser uma prioridade do governo. Não chega nem a ser uma política de desenvolvimento econômico. E só ocorre quando há mobilizações populares. Só ocorre quando os funcionários do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), instituição responsável pela reforma agrária, conseguem vencer os obstáculos administrativos e políticos que encontram pela frente. Os impedimentos são muitos. O governo não chega a cumprir nem a metade das metas estabelecidas no 2º Plano Nacional de Reforma Agrária. Págs. 2, 4 e 5
Douglas Mansur
O governo diz que está mudando a estrutura fundiária, mas as desapropriações estão muito abaixo das metas oficiais
Os movimentos responsabilizam o governo por não fazer a reforma agrária e não resolver os problemas das famílias camponesas, quilombolas, sem-terra e indígenas
No Zimbábue, terra para os trabalhadores
Vergonha: muro para isolar EUA do México
agrária radical, espoliando fazendeiros brancos. Não se publica uma linha citando que Mugabe se viu forçado a vir a reboque de ocupações de terra que começa-
ram a pipocar pelo país, organizadas por ex-integrantes do governo, veteranos de guerra, que deixaram o poder descontentes com a via neoliberal. O geógrafo
Sam Moyo fala sobre o caráter internacional da reforma agrária de seu país e não deixa dúvidas sobre quem espoliou quem. Pág. 12
Daniel Berehulak/Getty Images
A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos aprovou projeto de lei, apoiado pelo presidente Bush, endurecendo a legislação contra os migrantes. Entre as medidas, estão a construção de um muro na fronteira com o México e a criminalização das pessoas que hoje vivem nos EUA ilegalmente, os indocumentados. Pesquisa aponta que 58% da população desaprova o projeto. Pág. 9
A imprensa mundial faz questão de retratar o presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, como um ditador inconseqüente que decidiu impor uma reforma
Povo nas ruas, saída para a América Latina
Sem crescimento, mais brasileiros vivem na miséria Só crescimento econômico não basta. Mas ajuda. Se o Brasil mantivesse um crescimento da renda per capita de 2,9% ao ano, por quatro anos consecutivos, quase seis milhões de brasileiros sairiam da miséria. E se a economia crescesse 9%, com um avanço anual da renda per capita de 7%, em pouco mais de duas décadas não haveria brasileiros na miséria. Entretanto, em 2005, quase dois milhões de brasileiros vão continuar miseráveis porque a economia não avançará mais do que 2,5%. Pág. 7
Crise humanitária – No Níger, país do centro-oeste do continente africano, a população sofre com a grave crise alimentar causada pela seca prolongada e a destruição de colheitas devido a uma praga de gafanhotos
No Brasil, a saúde não é para os negros Pág. 6
Como será a Bolívia de Evo Morales Pág. 9
Vendedores da revista Ocas” escrevem livro Pág. 16
Santiago
Na luta contra as políticas neoliberais, o papel dos movimentos sociais é acumular forças e mobilizar a sociedade, propondo alternativas. A avaliação é uma síntese do pensamento dos sociólogos Emir Sader e François Houtart. Para Sader, “a esquerda tem sido derrotada no debate das idéias”. Houtart chama atenção para o aumento das resistências ao imperialismo. Págs. 13 e 14
E mais: REFORMA SINDICAL – O jornalista Altamiro Borges diz que a crise sindical não é um fenômeno particular do Brasil, mas mundial. Pág. 8 ZAPATISTAS – O sociólogo mexicano Gerardo Otero avalia a mudança na pauta de reivindicações do movimento zapatista, hoje de caráter classista e não mais exclusivamente indígena. Pág. 10