Ano 3 • Número 147
R$ 2,00 São Paulo • De 22 a 28 de dezembro de 2005
Na Bolívia, vitória dos excluídos C
om uma votação expressiva, o aymará Evo Morales foi aclamado pelo povo presidente da Bolívia, amparado em um programa de caráter social e nacionalista. O candidato do Movimiento Al Socialismo (MAS) contou com apoio das mesmas organizações populares que derrubaram dois presidentes nos últimos anos (Gonzalo Sánchez de Lozada, em 2003, e Carlos Mesa, em 2005). Morales foi, também, o preferido dos indígenas, que representam 60% da população, mas nunca tiveram um presidente de sua etnia. Reportagem exclusiva do Brasil de Fato mostra que a plataforma do MAS promete um ciclo de transformações na Bolívia, com a valorização do indígena e o uso das reservas de gás para a industrialização do país. Para Emir Sader, a vitória de Morales pode “representar uma alternativa fundamental para a luta antineoliberal na América Latina”. Págs. 2 e 9
Fotos Fabio Mallart
Primeiro presidente indígena, Evo Morales é eleito com uma plataforma social, nacionalista e antineoliberal
Milhares de integrantes do Movimento Al Socialismo (MAS) e indígenas comemoram, dia 20, vitória de Evo Morales para Presidência da Bolívia
Temendo fiasco, OMC costura acordo vago Para evitar mais um fracasso, os participantes da 6ª Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC), realizada em Hong Kong, de 13 a 18, articularam a confecção de um acordo de fachada para destravar as negociações. A declaração final mostrou-se bastante vaga em relação aos interesses
dos países em desenvolvimento (ou seja, a agricultura), enquanto os países ricos conseguiram arrancar compromissos dos mais pobres em bens industriais e serviços. Nas ruas, milhares de pessoas protestaram durante o encontro. Foram tratados com violência pela polícia local. Pág. 11
Greve de fome em frente à casa de Lula
Semi-Árido não precisa da água do Velho Chico
Política caolha: parque industrial está encolhendo
Sete integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) fazem greve de fome em frente à casa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Bernardo do Campo, para exigir a desapropriação de um terreno, onde 800 famílias estão acampadas. Na véspera de uma agendada reintegração de posse do acampamento Chico Mendes, a coordenação do MTST se reuniu com a secretária Nacional de Habitação, mas saiu com poucas garantias. Pág. 3
No dia 15, frei Luiz Flavio Cappio foi armado de argumentos para audiência em que discutiu a transposição do Rio São Francisco com o presidente Lula. O religioso explicou que as regiões supostamente beneficiadas pela obra não precisam de mais água, e que esta serviria apenas para indústrias e o agronegócio. Mais: que a superação dos problemas do Semi-Árido passa pela convivência com o clima local. Lula prometeu abrir um amplo debate. Pág. 13
Juros escorchantes, dólar barato, barateamento das importações, impostos elevados, corte de investimentos, empurraram a indústria de volta ao final dos anos 1950, início da industrialização. A participação do setor industrial no PIB, de 24% em 1958, chegou a 32% em 1986 e recuou para 23% em 2004. Motor do desenvolvimento, da criação de tecnologia e da geração de empregos de qualidade, a desindustrialização é danosa para o país. Pág. 7
Operários lutam para defender fábricas ocupada
Prisões da CIA espalhadas pelo mundo
Artistas de todo o país discutem rumos da cultura
Para Dallari, governo não garante direitos Mesmo acreditando que os partidos políticos representam apenas um “instrumento de obtenção de poder”, o jurista Dalmo Dallari esperava que o governo do presidente Lula fosse garantir os direitos fundamentais dos brasileiros. Hoje, decepcionado, afirma que pouco foi feito para que as condições fossem alteradas “porque o governo se esqueceu da militância de base”. Pág. 8
Pág. 10
Pág. 16
E mais:
Daniel Cassol
Pág. 5
MEMÓRIA - Livro em homenagem ao intelectual palestino Edward Said tem contribuições de Aziz Ab’Saber, Marilena Chauí e outros. Pág. 4 LULA- O Ibase analisou relação governo e sociedade e concluiu: demandas sociais foram deixadas de lado. Pág. 6
No bairro de Três Figueiras, em Porto Alegre (RS), quilombolas comemoram regularização das terras.
Pag. 6