Ano 3 • Número 141
R$ 2,00 São Paulo • De 10 a 16 de novembro de 2005
Na França, a periferia contra o Estado N
a França, os jovens da periferia cansaram de ser oprimidos e se rebelaram. Desde o dia 27 de outubro, milhares deles, principalmente na periferia da capital Paris, se mobilizam todas as noites. Não têm uma pauta de reivindicação definida. Apenas expressam sua rejeição, sua fúria, em relação à ordem dominante. Tampouco faltam motivos para a revolta. O Estado deixa as áreas periféricas à míngua: sem serviços públicos, sem emprego, sem cidadania. Os jovens, nas ruas, não se deixam canalizar pelos meios tradicionais da política – partidos, grupos de pressão, entidades. Quebram o protocolo e o que encontram pela frente, sobretudo carros e prédios públicos. Enfrentam a polícia, enviada às pressas para conter a “ralé”, como classificou o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy. A intolerância do governo é aplaudida pelos grupos de extrema-direita que defendem a adoção de medidas duras. A revolta, que se alastra pela França e também pela Europa, obrigou o governo a decretar estado de emergência. Págs. 2 e 9
Michel Spingler/AP/AE
Em fúria, jovens pobres da região parisiense desafiam a ordem vigente, da qual cansaram de ser excluídos
Governo francês decreta estado de emergência, após doze dias de protestos dos jovens da periferia de Paris e de outras cidades contra a exclusão social
EUA fracassam; a Alca segue morta
Grevistas resistem nas universidades
De um lado, milhares de pessoas protestaram contra a presença do presidente estadunidense na América do Sul. De outro, os países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) e a Venezuela bloquearam todas tentativas
de reabertura das negociações. Enquanto isso, representantes de organizações sociais avançaram na discussão de uma proposta de integração dos povos, com a realização da 3ª Cúpula dos Povos. Págs. 10, 11 e 14
J.F. Diorio/AE
Após 60 dias, já são 40 entidades de ensino superior públicas paralisadas, das 61 existentes. De um lado, docentes prometem resistir; do outro, o Ministério da Educação teima em reapresentar proposta já rejeitada. Para Paulo Rizzo, do Andes (sindicato dos docentes), o que impede a negociação é que “o governo se move a partir da política econômica” e da meta do superavit primário. Pág. 3
O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, viajou para Mar del Plata, na Argentina, para ressuscitar a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), durante a 4ª Cúpula das Américas. Chegando lá, a história foi outra.
Coca-Cola usa folha de coca, diz laudo da PF O Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal concluiu em laudo que a CocaCola do Brasil utiliza folhas de coca como matéria-prima na composição de seu refrigerante de cola, o que é terminantemente proibido pela legislação brasileira de entorpecentes em vigor. Se a lei for seguida à risca, o produto deve ter sua comercialização suspensa, diz especialista na área. Pág. 6
Brasileiros têm bilhões em paraísos fiscais
Bush no Brasil: aliado de Lula, inimigo do povo
Oficialmente, brasileiros (empresas e cidadãos) tinham no exterior 93 bilhões de dólares no final de 2004 - 36% a mais do que em 2001. O dinheiro migrou via brechas na lei, que permitem driblar a Receita e sonegar impostos. Os dólares não se destinaram a investimentos: 55% aportaram em paraísos fiscais. Pág. 7
O repúdio a George W. Bush, presidente dos EUA, levou milhares de manifestantes às ruas de capitais brasileiras, em atos que se concentraram em agências de bancos e lanchonetes McDonald`s. Mas Lula ficou animado com a promessa de Bush de reduzir os subsídios agrícolas, se os europeus fizerem o mesmo. Pág. 8
E mais: MÍDIA ALTERNATIVA – Projeto social impresso focado no protagonismo juvenil, a revista Viração ganha o Prêmio Cidadania Mundial 2005, concedido pela Comunidade Bahá’i do Brasil. Pág. 4 MÁRTIR DA TERRA – Dia 10, faz dez anos da morte do escritor e ambientalista nigeriano Ken Saro Wiwa, assassinado a mando da Shell. Pág. 12
Impunidade – Moradores de rua protestam em frente ao Tribunal da Justiça de São Paulo, no Centro da capital, dia 8, contra a rejeição da denúncia apresentada pelo Ministério Público contra cinco policiais militares e um segurança clandestino por suposta participação na morte de moradores de rua na região central de São Paulo em agosto de 2004
Após 9 meses, sem-teto de GO vivem dilema Pág. 5
PM de SC atira em atingidos por barragens Pág. 5
Justiça tira do ar programa de João Kleber Pág. 6
Teatro traz soluções para a vida real Criador do Teatro do Oprimido, hoje praticado em dezenas de países, o dramaturgo Augusto Boal fala ao Brasil de Fato sobre o Teatro Legislativo – em que o público é convidado a subir ao palco e buscar alternativas para os problemas encenados. Essa experiência já resultou até em projetos de lei. “Mais importante do que assistir a um filme, é as pessoas serem capazes de fazer filmes”, diz o artista, para quem “democratizar a cultura é permitir que as pessoas criem cultura”. Pág. 16