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Ano 3 • Número 109

R$ 2,00 São Paulo • De 31 de março a 6 de abril de 2005

Sem FMI, mas ainda sem soberania O

governo brasileiro não vai renovar o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que venceu no final de março. A decisão, porém, não é motivo de festa. Afinal, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, assegurou que a política econômica não vai mudar. Seu discurso foi aplaudido pela direção do Fundo e agradou aos credores internacionais, beneficiados pela política de arrocho que garante o superavit primário necessário para quitar em dia o serviço da dívida. Para muitos economistas, porém, a promessa de continuidade da política econômica só prova que o governo petista, bom aluno, aprendeu tão bem a receita do FMI que pode tocá-la sem a tutela direta da instituição. Do agrado dos banqueiros, as diretrizes traçadas pela equipe econômica do governo Lula continuam ignorando a elevada dívida social com o povo brasileiro, ainda sem resgate. Pág. 8

Yuri Kochetko/EFE/AE

Governo não renova acordo com instituição financeira, mantém política econômica recessiva e ignora dívida social

Revolta popular – Protestos no Quirguistão levam à deposição do presidente Askar Akayev, aliado dos Estados Unidos, há quinze anos no poder

Mais uma vez, o desemprego voltou a crescer

Os chefes de Estado do Brasil, Colômbia, Espanha e Venezuela se reuniram em Ciudad Guayana, na Venezuela, dia 28 de março, com o objetivo de reafirmar o direito dos povos de definir seu destino. O encontro foi um

recado para o secretário de Defesa dos Estados Unidos Donald Rumsfeld que, em recente visita à América Latina, criticou a decisão da Venezuela de equipar seu Exército. “Quero dizer ao presidente (Hugo) Chávez que

não tenho dúvida em afirmar, em qualquer lugar do mundo, que não aceitamos difamações contra nossos companheiros”, declarou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pág. 9

Dida Sampaio/AE

Enquanto a equipe econômica comemora o comportamento da economia, importantes indicadores pararam de crescer, ou começaram a recuar. Graças à política de arrocho e juros altos, que reduz as chances de crescimento. O mercado de trabalho está instável, e o desemprego avançou no primeiro bimestre. Quanto à renda, melhorou segundo o IBGE, mas, na região metropolitana de São Paulo, em janeiro, caiu pelo terceiro mês consecutivo. Pág. 7

Pela autodeterminação dos povos

Só cultura da paz vence política da guerra de Bush Os estadunidenses rejeitam a ocupação do Iraque e a política belicista do presidente George W. Bush, mas não conseguem se opor a ela. Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato, Medea Benjamin, da Global Exchange, importante organização pacifista dos EUA, diz que Bush criou meios para conter a oposição e a resistência a suas políticas. O principal é o controle sobre a grande imprensa, que só veicula notícias de interesse do governo. Pág. 10

Lula sanciona liberação de transgênicos

União Européia quer estreitar laços com Cuba

Graças à sanção presidencial dada à Lei de Biossegurança, dia 24 de março, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), composta, em sua maioria, por pessoas ligadas à indústria de biotecnologia, pode liberar produtos transgênicos, sem necessidade de estudo de impacto ambiental. Para a agrônoma Angela Cordeiro, a decisão cria um grande problema de contaminação genética. Pág. 13

O comissário de Desenvolvimento e Ajuda Humanitária da União Européia, Louis Michel, diz, em Havana, que as sanções impostas à ilha não conduzem a nada. Ele negociou com a ministra do Investimento Estrangeiro e Colaboração Econômica de Cuba a possibilidade de abrir novas frentes de cooperação, em projetos que considerem os avanços de Cuba nas áreas científica, pedagógica e de recursos humanos. Pág. 11

Ambigüidade na política de comunicação Em entrevista ao Brasil de Fato, Venício Lima, pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política da Universidade de Brasília, analisa a atuação do governo federal na área de comunicações. Segundo ele, há evidentes sinais de ambigüidade política: projetos como a criação da TV Brasil e investimentos em pesquisas para um modelo de televisão digital nacional convivem com uma ausência de ações com foco na real democratização do setor. Pág. 4

Visita desagradável – O secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, foi recebido com vaias em Brasília, dia 23

Índios pedem o fim da tutela da Funai Pág. 3

E mais: JUSTIÇA — Trabalhadores sem terra são presos de forma arbitrária no Paraná, após denunciarem ação de pistoleiros em assentamento. Pág. 5 DEBATE — O sociólogo Immanuel Wallerstein analisa a ascenção dos países asiáticos no cenário político mundial, e o frade Luc Vankrunkelsven critica a chegada da Monsanto no Iraque. Pág. 14

Manipulação para aprovar a transposição Pág. 5

Na Bolívia, cultura e resistência Pág. 16

MST de Alagoas bate de frente com Rossetto José Roberto da Silva, dirigente nacional do MST, diz que o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, tem motivo político-partidário para não transferir o superintendente do Incra de Alagoas, o arquiteto Gino César de Menezes. Os dois pertencem à ala Democracia Socialista do PT. Até o fechamento desta edição, seis sem-terra completavam 13 dias de greve de fome e, há 32 dias, 3 mil trabalhadores rurais ocupavam a sede do Incra em Maceió. Pág. 3


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