Ano 3 • Número 104
R$ 2,00 São Paulo • De 24 de fevereiro a 2 de março de 2005
Lula promete o fim da impunidade
Em marcha pelas ruas de Roma, 500 mil pessoas pedem a libertação da jornalista Giuliana Sgrena e o retorno das tropas italianas do Iraque
Haiti: nem a miséria mata a esperança
“Bush quer me matar”, alerta Hugo Chávez
Aliciados ilegalmente, camponeses do Haiti são escravizados na República Dominicana, onde representam 83% da mão-deobra nas lavouras. Segundo relata em reportagem João Alexandre
Peschanski, enviado especial do Brasil de Fato ao Haiti, depois, os trabalhadores são descartados pelos fazendeiros. Na seca, poeirenta e pobre região de Belle Fontaine, oeste do país, nem a
miséria levou os agricultores a desanimar. Como fizeram os antigos escravos, eles decidiram resistir, lutar, produzir, se organizar e viver coletivamente. Pág. 9
ALEX RIBEIRO/AGÊNCIA ESTADO/AE
“O responsável por qualquer atentado (contra minha vida), quer ele tenha ou não sucesso, será o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush”, afirmou o presidente da Venezuela, em seu programa de rádio e televisão. “Sei que estou condenado à morte. Tenho certeza de que Washington está considerando me matar porque eles sabem que nossos soldados não vão se ajoelhar diante do império dos EUA”. Pág. 10
Raimundo Paccó/O Liberal/AE
D
ia 22 de fevereiro, o presidente da República afirmou que os assassinatos da missionária Dorothy Stang e de outros líderes populares no Pará foram fruto da revolta de alguns empresários do setor madeireiro com a política do governo na região. “A nossa tarefa, agora, é legalizar todas as terras possíveis. Quem tiver terra grilada, o governo vai tomar conta dessa terra porque o Brasil não é terra de ninguém”, afirmou. Entretanto, dizem especialistas, a prisão dos acusados de matar a irmã Dorothy e as medidas anunciadas pelo governo não vão resolver os problemas. A justiça só será feita quando as terras públicas forem retomadas, o trabalho escravo punido e acordos com madeireiros forem rompidos, afirma dom Tomás Balduíno, presidente da CPT. JeanPierre Leroy, da Fase, diz que o discurso do governo é contraditório: condena a violência no campo, a grilagem e a concentração de terras, e alia-se ao setor que mais contribui para agravar esta situação, o agronegócio. Págs. 2 e 3
ALESSANDRA TARANTINO/AP/AE
Após o assassinato de Dorothy Stang, o presidente deu um basta à violência e lançou medidas de eficácia duvidosa
Italianos tomam as ruas contra guerra no Iraque Em Roma, cerca de 500 mil pessoas realizaram, dia 19, uma manifestação contra a guerra no Iraque, pedindo também a libertação da jornalista seqüestrada Giuliana Sgrena, do jornal Il Manifesto. Sob o lema “Libertemos a paz”, a marcha recebeu apoio da oposição, de movimentos sociais, partidos de centro-esquerda, jornalistas e intelectuais, e foi ignorada pelo governo direitista de Silvio Berlusconi. Pág. 11
Truculência da PM em defesa da propriedade
Empresários da mídia derrubam regulamentação
Dois mortos, cerca de 20 feridos e 800 pessoas presas, inclusive mulheres e crianças. Este foi o trágico saldo da truculência da polícia goiana durante desocupação de uma área na região urbana de Goiânia (GO), dia 14, onde há dez meses estavam instaladas 3 mil famílias. A operação contou com cerca de 2.500 policiais militares. Pág. 5
A regulação sai do projeto da Agência Nacional do Cinema e Audivisual (Ancinav), cujas atribuições vão se limitar ao fomento e à fiscalização dos setores de cinema e audiovisual. Ficam fora radiodifusão e mídia impressa. O presidente Lula acena com uma lei de comunicação de massa, engavetada desde o governo Fernando Henrique. Pág. 4
Renovar acordo com FMI, uma opção política Renovar ou não o acordo com o Fundo Monetário Internacional não mudará a política econômica adotada pelo governo brasileiro. A economia segue o figurino ditado pela equipe econômica comandada pelo ministro Antonio Palocci, e limitada pelas metas inflacionárias estipuladas por Henrique Meirelles, o comandante-em-chefe do Banco Central. Para especialistas, não renovar o acordo é uma decisão cujo peso político é muito maior do que os fundamentos econômicos. Pág. 7
Manifestantes participam de ato em São Paulo, para recordar o massacre de moradores de rua, ocorrido em agosto de 2004
Brasil não abre mão de usar o software livre Pág. 4
E mais: KYOTO — O protocolo que leva o nome da cidade japonesa onde foi assinado em 1997 entra em vigor com sete anos de atraso e sem adesão dos Estados Unidos. Pág. 13 CULTURA – Documentarista “argentino-baiano”, Carlos Pronzato, registra imagens das manifestações sociais da América Latina dos últimos cinco anos. Pág. 16
Nem demissões Equatorianos inibem motins protestam contra na Febem-SP Lucio Gutiérrez Pág. 8
Pág. 10
Debate sobre Rio São Francisco exclui indígenas Indígenas das nações Truká e Tumbalalá, de Cabrobó, interior de Pernambuco, foram impedidos, por policiais militares, de participar de um debate sobre o projeto de transposição do Rio São Francisco. A reunião seria entre representantes do Ministério da Integração Nacional e da Prefeitura de Cabrobó. Eles temem os impactos da possível obra em suas terras, a exemplo do que ocorreu com a construção das barragens de Sobradinho, Xingó e Itaparica. Pág. 13