A liberdade inscrita nos sambas enredos cariocas (1943 a 2013)

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1.3.6 – AS SOCIEDADES CARNAVALESCAS As Sociedades Carnavalescas, ou Clubes Carnavalescos, foram igualmente relevantes na história do nosso Carnaval brasileiro. Eneida de Moraes registra que grande e bela foi a história de cada uma dessas Sociedades, devido ao papel desempenhado por elas em defesa das liberdades democráticas, da causa da abolição da escravatura negra e da Proclamação da República. A exemplo, verifiquemos no excerto abaixo a atuação de duas delas naquele tempo – segunda metade do século XIX: Em 1876 os Estudantes de Heidelberg, cuja sede se chamava “Universidade” e que para suas festas convidavam “todos os Beca com suas formosas teteias”, esmolaram pelas ruas para comprar um menor escravo que salvara de morrer afogada uma menina chamada Corina, na praia de Icaraí. Em 1888, publicavam os jornais: “O grupo dos Pelicanos, heroica fração do benemérito clube dos Fenianos, sempre generoso e nobre, mais uma vez fez realçar os reconhecidos méritos e elevados sentimentos nobilitando de modo imorredouro o grandioso acontecimento de hoje com a restituição de um homem ao estado livre. Não é a primeira vez que os eméritos foliões se recomendam aos louvores do público por atos de magnanimidade, tão dignos, aos quais nós não poupamos louvores e encômios. O escravo alforriado pelo ilustre clube tem vinte anos, chama-se Teodoro e acompanhará os seus bem-feitores na vitoriosa passeata carnavalesca de hoje. Um bravo à heroica falange!” (MORAES, 1958, p. 63-64)

Nessa linha expositiva, a célebre estudiosa do Carnaval carioca enfatiza que os três maiores clubes carnavalescos do Rio de Janeiro, os Fenianos, Democráticos e Tenentes do Diabo, no período anterior à abolição, compravam escravos para libertá-los, depois de apresentá-los publicamente nos seus préstimos. Era uma forma de aquelas sociedades se posicionarem diante dos eventos políticos da época. Oportuno percebermos que a festa do Carnaval, praticada por elas, transcendia o espaço deslocado, de evasão metafísica. Afinal, fazia parte da celebração carnavalesca mais que representar, apresentar a realidade. A compra de uma carta de alforria não era um simples recurso alegórico, mais que isso, era um ato político em um evento festivo, exercício, manifestação de uma solidariedade excepcional, extraordinária, posto que o maior motivo de celebração, no entendimento daqueles foliões, seria a liberdade. A liberdade dos escravizados. Significativo assinalar que os componentes das grandes Sociedades Carnavalescas pertenciam à alta sociedade da época, organizavam-se nos clubes e saíam às ruas, em desfile, com trajes luxuosos, inspirados nos europeus e pareciam ter a intenção de adaptar, em nossas terras, o Carnaval de Veneza. Uma contribuição estética advinda desses clubes 46


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ANEXOS – SAMBAS-ENREDOS

3hr
pages 201-278

4.13 – Considerações sobre este capítulo

11min
pages 170-176

CONSIDERAÇÕES FINAIS

6min
pages 177-181

REFERÊNCIAS

3min
pages 182-184

4.12.4 – África

1min
page 158

4.12.5 – A Escravidão

18min
pages 159-169

4.12.3 – Palmares

1min
page 157

4.12.2 – Zumbi e Outros Referentes Negros

4min
pages 155-156

4.11 – A Liberdade e as Significações Difusas

7min
pages 149-152

4.10 – A Liberdade, o Carnaval e Outras Artes

9min
pages 144-148

4.8 – Liberdade, Mitologia e Religiosidade

4min
pages 139-141

4.9 – A Liberdade e Outras Representações

3min
pages 142-143

4.6 – A Liberdade e os Países

3min
pages 134-135

4.7 – A Liberdade e o Povo

6min
pages 136-138

4.5 – A Liberdade, as Mulheres e os Direitos Feministas

4min
pages 131-133

4.4 – A Liberdade e os Indígenas

3min
pages 129-130

4.2 – A Liberdade de Expressão

3min
pages 123-125

4.3 – A Liberdade e a Independência

6min
pages 126-128

3.9 – Considerações Sobre Este Capítulo CAPÍTULO 4 – A PALAVRA LIBERDADE AO LONGO DA DEMOCRACIA

5min
pages 117-120

4.1 – Introdução ao Quatro Capítulo

2min
pages 121-122

3.7 – A Liberdade e as Significações Difusas

2min
pages 109-110

3.8 – A Liberdade e a Escravidão

10min
pages 111-116

3.6 – Liberdade e Independência

9min
pages 104-108

2.5 – Considerações Sobre Este Capítulo CAPÍTULO 3 – A PALAVRA LIBERDADE AO LONGO DA DITADURA

5min
pages 91-93

3.2.3 – Guararapes

2min
page 98

3.3 – Liberdade e República

3min
pages 100-101

3.2.4 – Indígenas

1min
page 99

2.4.5 – Chico Rei

2min
pages 89-90

3.5 – Liberdade e Carnaval

1min
page 103

3.4 – Liberdade e Povo

1min
page 102

3.1 – Introdução ao Terceiro Capítulo

2min
pages 95-96

2.4.4 – Preto Velho

1min
page 88

2.4.3 – Palmares

7min
pages 84-87

2.4.2 – Castro Alves

2min
page 83

2.2 – A Liberdade e a Segunda Guerra Mundial

5min
pages 75-78

2.3.2 – José Bonifácio

1min
page 81

1.4 – Considerações Sobre Este Capítulo

5min
pages 69-71

1.3.12 – Os Primeiros Sambas-Enredos

11min
pages 63-68

1.3.11 – Samba-Enredo

4min
pages 61-62

2.1 – Introdução ao Segundo Capítulo

3min
pages 73-74

1.3.10 – As Escolas De Samba

1min
page 60

1.3.7 – A Primeira Música do Carnaval

2min
pages 51-52

1.3.9 – O Samba

4min
pages 58-59

1.3.8 – Tia Ciata

7min
pages 53-57

1.3.5- A Praça Onze

4min
pages 44-46

1.3.6 – As Sociedades Carnavalescas

6min
pages 47-50

1.3.4 – Os Ranchos

3min
pages 42-43

1.2 – Origens e Significados do Carnaval

22min
pages 25-35

1.3.3 – Os Cordões

3min
pages 40-41

1.3.2 – O Zé Pereira

2min
pages 38-39

INTRODUÇÃO À TESE

12min
pages 14-21

1.1 – Introdução ao Primeiro Capítulo

3min
pages 23-24

ABSTRACT

1min
page 12

RESUMO

1min
page 11

RESUMEN

1min
page 13
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