Thais Rivitti
Isabella Rjeille
Copyright 2011
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
R175c Ramos, Letícia, 1976-
Caderno de bitácora / Letícia Ramos, Gabriela Kremer Motta, Josefina Trotta, Marcio Harum. -- São Paulo: Edições397, 2011.
76 p. : il. ; 15 x 21cm.
Títulos e textos em português e inglês.
ISBN 978-85-911472-1-2
1. Arte contemporânea - Brasil. 2. Artes plásticas. 3. Espaço independente de arte. 4. Exposição de arte. I. Título. II. Trotta, Josefina. III. Harum, Marcio.
CDD 709.81
CDU 7.037.(81)
Foi feito o depósito legal na Biblioteca Nacional (Lei nº 10.994 de 14/12/2004)
Aproximar-se da margem da ciência de forma tangente, para que as palavras, mesmo técnicas, ainda possuam significados poéticos. É esta borda que me interessa. Descobrir a técnica certa também é encontrar elementos que se articulem para criar uma linguagem específica. Uma ficção que descreve uma técnica, que conduz a um período histórico, que sugere outra invenção, que torna-se outra ficção. É neste caminho circular que, em algum momento, as peças se encaixam e se tornam a parte perfeita de uma engrenagem.
Este caderno de bitácora é um relato do percurso de todas as peças soltas que preenchem o abismo conceitual* de uma viagem fotográfica ao Polo Norte, uma história de ficção e aventura.
Letícia Ramos
“Depois de uma hora de investigação , foi preciso retomar o caminho do norte e lutar contra os últimos furores da tempestade. Às cinco horas da manhã do dia onze de julho, o vento amainou, as ondas acalmaram-se, o céu readquiriu a claridade polar e, a menos de cinco quilômetros de distância, avistou-se a terra em todo o seu esplendor. Aquele continente novo era apenas uma ilha ou, antes, um vulcão, que se erguia qual farol no polo boreal do mundo.”
Júlio Verne , Viagens extraordinárias. As aventuras do Capitão Hatteras
“After an hour of exploration, we had to get back to the north path and struggle against the last furies of the tempest.
At five o’clock in the morning of July 11th, the wind decreased, the waves went calm, the sky regained its polar clearness and, within five kilometers of distance, the land appeared with magnificence. That new continent was only an island, or rather a volcano, peering up like a lighthouse at the Boreal Pole of the world.”
Jules Verne , The Voyages and Adventures of Captain Hatteras
“ O conceito do globo celeste
Convenção para compreensão dos astros
Estudo da projeção da tela do globo celeste
Constelações do Polo Norte e do Polo Sul
Zênite
Equador
Ursa Maior- Estrela Polar: serve como bússola quando não há nuvens (céu claro)
4 X1/2 Polo Sol Celeste- Cruzeiro do Sul
>Zenite de 90º de latitude
>Eixo visto ao longo da noite no nascimento do Cruzeiro do Sul
Bússola quando não se vê as estrelas- aponta para o Polo Norte magnético.
Estrela da Manhã
Dalva Vênus
Vesper
Medição de ângulo: sextante e octante ”
*(Página do diário de bordo sem datas do aprendiz de navegador espanhol Enrique Contreras, adquirida no mercado de pulgas de La Latina, Madri, 2008. Transcrição e livre tradução do espanhol pelo pesquisador e colaborador Marcio Harum para o Bitacora Project).
Balão tombado pela neve durante a expedicão de Andrée ao Polo Norte
À deriva – Histórias de exploradores polares
O Ártico está se tornando mais duotônico para mim devido à influência dos registros em preto e branco das antigas expedições a regiões polares.
Penso no diário de Hurley, o fotógrafo da inacreditável expedição de Shackelton para a Antártida. As câmeras pesadas, os negativos de vidro, os laboratórios improvisados e os esconderijos “arqueológicos”, cuidadosamente projetados para armazenar as relíquias fotográficas de modo que outros exploradores, no caminho de seus rastros, pudessem encontrar os registros de sua aventura. Um intenso exercício de adaptação, de invenção técnica e de registro poético. A preparação para a viagem já é uma bagagem de possibilidades.
Olho para as minhas câmera Polaroid Lupa 6 enfi leiradas na mesa do ateliê e vejo a mesma grande e pesada câmera de Hurley, Andrée e Amundsen. Exploradores de incríveis empreitadas, fotógrafos insistentes, fotos emocionantes. Apegados aos seus cadernos de bitácora, onde registram tudo até o último instante. O último mesmo. No meu desafio de construir uma câmera fotográfica polar, as histórias e os tempos se misturam.
Polo Norte 360º – A panorâmica de Andrée
Panorâmica realizada pela expedição de Andrée ao Polo Norte. Os negativos, juntamente com os restos do acampamento dos exploradores, foram encontrados trinta anos mais tarde. Somente durante o processo de restauração dos negativos se percebeu que as fotografias formavam um 360º do acampamento.
Reciclagem
Os equipamentos reciclados que utilizo na construção das minhas câmeras, em geral, resultaram de especulações tecnológicas e rapidamente tornaram-se obsoletos. São objetos no estado “entre”, suspensos na linha do tempo, que ficaram no meio do caminho.
A câmera Polaroid representou nos anos 70 a imagem instantânea, espontânea, imediata. No contexto atual, esse equipamento contempla os mesmos princípios, os mesmos desejos e talvez a mesma força simbólica de outrora; a materialização da imagem no papel a partir de um único objeto.
As câmeras atuais, câmeras pequenas e móveis, produzem uma imagem virtual, imediata. Utilizar uma Polaroid neste projeto é buscar um registro poético instantâneo, como um caderno, imagem única, irreproduzível.
A câmera Polaroid que levarei na expedição será a Lupa 6, uma câmera utilizada para os retratos 3×4. Ela possui 6 lentes que produzem 6 fotogramas do mesmo instante. Uma vez que as lentes possuem o centro ligeiramente deslocado em relação ao objeto que fotografam, as fotografias, quando colocadas em uma sequência fílmica, reproduzem a sensação de movimento.
Gosto da ideia de pensar que uma câmera construída para retratos instantâneos irá fotografar paisagens. Por fi m, todas as câmeras que construí acabam sendo descartáveis, afi nal, independentemente do tempo ou complexidade do projeto, elas são usadas apenas uma vez, para uma imagem específica.
Vista lateral da câmera
Vista superior da câmera - esquema de engate de chassis
Os batiscafos russos Mir 1 e Mir 2, com três ocupantes a bordo cada um, pousaram em 2007 no fundo do Oceano Glacial Ártico, próximo ao Polo Norte, a 4.261 m de profundidade, onde instalaram a bandeira russa .
Artur Chilingarov
Explorador russo, logo apos o êxito da expedição com os submarinos nucleares Mir 1 e Mir 2 para colocar uma bandeira subaquática nos limites russos da região ártica.
“We landed softly. The ground was of a yellowish color with no sight of any inhabitant of the marine depths. It was so lovely down there.”
Artur Chilingarov
Russian explorer, soon after the successful expedition with nuclear submarines Mir 1 and Mir 2 placed a flag on the sub-aquatic Russian limits of the arctic region.
“Nós pousamos suavemente. O solo era de cor amarelada e não se viam habitantes das profundezas marinhas. Era tão adorável lá embaixo”
.
…desde que desembarquei do HMS Beagle, em junho de 1834, acá estou na Terra do Fogo. Não sinto-me como um desertor, as razões que me levaram a esta dura decisão não têm comprometimento algum de descontentamento com a missão de Mr. Darwin. O que realmente conta, sim, é o fato de eu não ter conseguido abandonar o deslumbramento da paisagem desta região: Patagônia Austral- Travessia do Estreito de Magalhães- Terra do Fogo- Canal de Beagle- Cabo HornIlhas do Atlântico Sul- Antártida.
Não há nenhuma beleza natural mais maravilhosa que as florestas retorcidas pelo vento, os pássaros pernaltas que sobrevoam sempre muito acima da altura da linha de neve no horizonte da cordilheira. A descida das geleiras para o mar azul infinito e os lagos glaciares são o que há de mais espetacular neste mundo.Ocupo-me por algum tempo diário em analisar o transporte de blocos de gelo pelas correntezas e as mudanças repentinas da direção do vento polar.
Pela segunda vez, quando atravessei a abertura oriental do Estreito de Magalhães, um sentimento fantástico me fazia querer estar preso ao panorama deste lugar. E assim soube que deveria ficar por aqui, sem tempo determinado para o regresso à civilização. Desejo permanecer por entre estas montanhas misteriosas de florestas petrificadas. Viver com as tempestadas marítimas que fazem o céu despencar do azul mais profundo, transformando o dia em noite, e amedrontando as planícies de ravinas com seus pequenos animais selvagemente belos.
Quando estivemos ancorados na Baía Gregory, tive o primeiro contato com os famosos gigantes patagônicos. São reservados e aparentemente hospitaleiros à distância de 50 passos, esses fueguinos. Vestem mantas imensas de pele de guanaco e usam os seus cabelos longos soltos ao cair dos ombros. Medem por volta de 1,80 m a maioria dos homens, e as mulheres também são bastante altas. Pintamse com uma tinta de corpo como meio de proteção contra as baixas temperaturas- trazem largas listras brancas sobre a pele, inclusive a do rosto. O capitão Fitzroy me
confirmou que dão mais importância ao tabaco inglês do que às ferramentas de navegação. Comunicam-se frequentemente com a tripulação das embarcações dos baleeiros.Possuem diversos cavalos, até mesmo as crianças.
Que agradável perceber que o Natal já se aproxima, isso mostra que o verão começou de verdade. Quando cheguei aqui no princípio do inverno, a atmosfera era absolutamente pesada como o gelo, e nunca havia enfrentado um clima tão desolador em minha vida antes. Nem em alto mar a caminho da Groenlândia no inverno de 1931. Tamanha a destruição que vivi do vento frio mais cortante que o que mais se assemelhava era a um cenário de guerra e morte. O fundo enevoado do vale do Monte Sarmiento, a montanha com 2.070 metros de altura, exibe-se com o seu espetáculo de exaltada beleza austral: a perfeição da natureza. Esta é a elevação topográfica onde estarei acampado nas próximas semanas como método exploratório. A escalada dura, pelo meu planejamento, 4 dias. Pretendo descrever a partir de desenhos os 360o da riquíssima paisagem à minha volta.
*(Fragmento de carta de Mark Harris, marujo do HMS Beagle, à irlandesa Lætitia Branches, escrita e datada na Terra do Fogo em 20 de dezembro de 1834- encontrada num antiquário de San Telmo, em Buenos Aires, 2007, pelo pesquisador e colaborador Marcio Harum. Traduzido livremente do inglês para o Bitacora Project).
Didática bipolar: o Polo Norte é mar , o Polo Sul é terra
Ficção geopolítica
“A última ‘terra incognita’ vai desaparecer. O imenso silêncio, os horizontes infinitos, as vastas brancuras do Polo Norte e seu nada vão ser substituídos por regiões às quais os homens, seus barulhos, seus motores de explosão, seus barcos, seus contêineres terão acesso. Vamos assistir a este fenômeno raro: uma subversão da geografia que se desenrolará diante de nossos olhos.”
Gilles Lapouge, 2010
MIRAGEM POLAR - Estudo para fi lme: Colagem a partir de imagens documentais em vídeo de submarino nuclear russo submergindo no Polo Norte.
Durante mais de 300 anos, exploradores polares perderam suas vidas, dedicaram seu heroísmo. Para além da conquista do Polo Norte, essas expedições também tinham o objetivo de descobrir as passagens norte e sul, rotas comerciais que poderiam tornar-se importantíssimas no século XX e fundamentais no XXI, ligações rápidas entre o oriente e o ocidente. A atual questão geopolítica do Polo Norte passou a fazer parte do mapa imaginário da minha expedição. Quem imaginaria que, depois de todo esse tempo, o degelo provocado pela ação do homem tornaria livres essas passagens? Esse território mítico, agora acessível, é remapeado sob a ótica das novas fronteiras energéticas. Um novo capítulo se abre , um novo desenho surge no globo.
Em 2007, uma expedição polar de submarinos nucleares russos fi xou, com braço mecânico, uma bandeira no solo que o país considera seu limite geográfico submarino. Considerada um feito histórico, com transmissão ao vivo em rede nacional, acompanhada de declarações oficiais como “este feito para Rússia é como colocar a bandeira na lua”, essa expedição encerra o ciclo em que a mística imagem da região do Polo Norte era um deserto de gelo imaginário e branco, a ponta do globo, o fi nal do mundo.
Engenharia poética - Marcenaria sensível
Acho que a melhor forma de construir esta câmera será criar uma estrutura que lembre os primeiros submarinos de madeira. Os materiais de construção serão os mesmos utilizados pela engenharia naval, mais precisamente aqueles empregados na construção de modelos. Compensado aeronaval, cola e fibra.
A câmera foi projetada em partes separadas e assim dividida: sistema frontal de lentes, fole, chassi, casco. No casco optei pela técnica de construção com casco trincado (clinker built), recomendada pelo meu amigo construtor de barcos, Pedro Terra. Esse tipo de técnica, além de ser o mesmo utilizado nos submarinos de madeira, proporciona uma excelente vedação e dispensa o uso de fibra como revestimento.
A minha câmera “dos ventos” se inspira nos primeiros modelos de submarino e escafandros desenhados por Leonardo da Vinci, Cornelius Drebbel , Simon Lake e John Lethbridge. A semelhança entre as técnicas construtivas desses primeiros inventores e as aplicadas no Projeto Bitácora se aproximam, pela simplicidade dos materiais e ferramentas, a um estilo de engenharia onde a invenção se materializa na ilustração, assumindo também um tom ficcional.
Projeto da primeira máquina subaquática de mergulho, por John Lethbridge, em 1715
121o dia
A partir de amanhã bem cedo começo o trabalho de medição precisa do imenso curso do canal natural do rio Cassiquiare que liga as bacias hidrográficas dos outros dois rios, o Orinoco em terras venezuelanas e o Amazonas em terras brasileiras. Levo somente um baú abarrotado de sextantes, barômetros e o valioso taqueômetro. Estou muito atento às histórias que ando ouvindo dos índios sobre os peixes elétricos. Imagino a dificuldade dos cavalos em atravessar águas infestadas dessas estranhas enguias. Esse é um exemplo dos muitos temas que me fascinam nesta inóspita região amazônica. Gostaria de providenciar algum exemplar para estudo de dissecação a ser enviado à Alemanha em breve. Uma de minhas metas neste trabalho é desvendar que dínamo é esse, que energia é essa que é produzida com violenta descarga no interior deste peixe. Talvez precise enviar igualmente, como maneira de retribuição, um exemplar dissecado à Academia de Ciências Naturais, como agradecimento ao aval do rei Carlos IV em Madri para que eu embarcasse para a América do Sul no ano passado. Outro tema de estudo que buscarei desenvolver em minha estadia nestas paragens do planeta são, sem dúvida, as causas e os efeitos das diversas cores dos rios amazônicos.
Urge o tempo de compreender, com tantas cachoeiras, as dificuldades de navegação pelo baixo rio Amazonas e suas marés de influência.
*(Trecho de fac-símile documental de autoria do naturalista alemão Alexander von Humboldt datado de 1800 em exposição na Zentral- und Landesbibliothek Haus
Amerika- Gedenkbibliothek, Berlim, 2004. Transcrição e livre tradução do alemão pelo colaborador Marcio Harum para o Bitacora Project).
Química polar
As baixas temperaturas do Ártico e a pouca luminosidade das lentes da câmera não fazem do FP – 100c, ISO 100/21 a 20 da Fuji o fi lme ideal para a expedição. Mas tudo é uma questão de invenção; perguntei para o Walter, técnico da antiga fábrica da Polaroid, o que fazer a respeito da temperatura do químico e do tempo de revelação. O Walter me sugeriu levar um secador de cabelos a bordo para aquecer o químico que vem junto com o papel. Achei a ideia boa mas não defi nitiva, porque talvez a curva do negativo se modifique bruscamente. Fiz um teste na geladeira do laboratório e a grata surpresa é que tendeu para o azul.
Ainda tenho que pensar melhor o problema da condensação das lentes, por enquanto penso em criar uma caixa para a câmera e deixá-la no convés do barco, assim a temperatura da câmera se manterá sempre igual à do ambiente. Construirei um fole para o corpo da câmera. Com o fole terei autonomia, e se for necessário posso trocar as lentes, tirar as lentes, fazer pinhole e até mudar de ideia. Agora que a câmera existe só resta levá-la ao polo e fi nalmente fotografar os ventos.
Ilmos. Srs.,
A proposta de criar uma máquina “capaz de registrar nuances cromáticas da paisagem, baseada na influência dos ventos” não tem muita importância enquanto informação sobre a obra. Interessa, sim, saber que a artista está estudando e reinventando a estrutura mecânica das câmeras Polaroid, absorvendo o que essa tecnologia representava quando surgiu – a possibilidade do registro instantâneo, imediato – e relacionando esse tipo de registro com as anotações e tecnologias empregadas pelos viajantes que se lançaram precariamente aos polos Norte e Sul no fim do século XIX.
Ou seja, não há possibilidade de essa máquina não atingir o seu propósito, posto que este é menos importante que a máquina em si. E a imagem que resultar desse aparato será a única imagem possível.
G. M.
São Paulo, março de 2011.
O Projeto BITÁCORA é um projeto artístico inspirado pela escala de Beaufort e suas descrições do efeito dos ventos sobre a terra e o mar. A artista irá montar uma “câmera observatório” capaz de recolher amostras da paisagem do Polo Ártico e, assim, construir uma escala própria, criando uma nova classificação poética e cromática da paisagem com base na influência dos ventos. Em 2010, o Projeto Bitácora venceu o Prêmio Marc Ferrez de criação fotográfica, concedido pela Funarte, e foi selecionado para o programa de residência artistica “The Artic Circle 2011”, uma expedição multidiciplinar que irá viajar pelo Polo Ártico a bordo de um veleiro.
BITÁCORA - É o nome em espanhol que se dá à parte da embarcação onde se guardam os livros, “cuadernos de bitácora”, em que os marinheiros anotam o estado da atmosfera, dos ventos, dos vulcões e das máquinas, a velocidade do barco, as distâncias navegadas, observações astronômicas. Os “cuadernos de bitácora” registram qualquer fato importante que ocorra durante o período de observação da paisagem.
FRANCIS BEAUFORT - Navegador inglês criador da escala Beaufort dos ventos. Para observar o vento é necessário ter um referente. Algo que demonstre fi sicamente seu efeito, que diferencie o grau de sua intensidade. Pensando nisso, em 1805 o oficial naval e hidrógrafo Francis Beaufort cria uma escala para classificar e quantificar a força dos ventos e seu efeito na terra e no mar. Trata-se de uma classificação que não exige o uso de aparatos técnicocientíficos, mas que se baseia na observação da paisagem. A escala de Beaufort se distingue de outras escalas de intensidade pelas suas descrições extremamente poéticas e narrativas.
ESCAFANDRO - Escafandro é uma armadura de borracha e ferro usada por mergulhadores para trabalhos no fundo da água. Essa estrutura comunica-se com a superfície através de um duto que assegura a livre respiração e permite resistir à pressão da água. Ao profissional que usa do escafandro para mergulhar dá-se o nome de escafandrista.
CARTAS SINÓTICAS - O termo sinótico deriva do grego synoptikós, que significa obter a visão geral de um local. Em meteorologia, este termo é utilizado para nomear as cartas elaboradas para a observação de fenômenos que possuem grande variação espaçotemporal como ciclones e anticiclones, sistemas frontais, deslocamento de massas de ar, jetstreams, sistemas de alta e baixa pressão, entre outros. Para melhor apreensão dos elementos observados, é comum fazer as observações sinóticas sempre nos mesmos horários ao longo de vários dias.
LUPA 6 - Câmera Polaroid com 6 lentes, criada para tirar fotos instantâneas “em meia dúzia” para documentos. Foi lançada nos anos 80 e ainda utilizada em algumas pequenas lojas de fotografia do interior. Possui aberturas de 22, 16, 11, 8 e chassis destacável .
ABISMO CONCEITUAL - Conceito citado por Gabriela Motta em texto crítico ao Dossiê Videobrasil sobre Letícia Ramos. “Se o problema visual que a artista nos apresenta é a paisagem, algo já bastante complexo para ser enfrentado, há ainda a questão que diz respeito ao equipamento audiovisual que capta as imagens dessa paisagem. Essas máquinas, construídas especialmente para registrar determinada paisagem, condensam o esforço científico e imaginativo de antever aquilo que se quer captar e elaborar a tecnologia capaz de fazê-lo. Ou seja, no princípio nada existe, nem a câmera, nem a imagem. Entre a assepsia daquilo que é visual, distanciado, quase abstrato, da imagem/paisagem registrada pela câmera, e o aparato fílmico cheio de materialidade física, há um abismo conceitual que a artista insiste em enfrentar com pregos e poesia, madeira e música, furadeira e fasma.”
MIRAGEM POLAR - Também chamada de fata morgana, é uma ilusão óptica que ocorre nas regiões polares, onde, com tempo calmo, a separação regular entre o ar quente e o ar frio (mais denso) perto da superfície terrestre pode atuar como uma lente refratora, produzindo uma imagem invertida sobre a qual a imagem distante parece flutuar. Essa ilusão é classificada como uma “miragem superior”. O efeito de fata morgana é uma referência em italiano à meia-irmã feiticeira do Rei Arthur que, segundo a lenda, conseguia mudar de aparência. Objetos que se encontram no horizonte adquirem uma aparência alargada e elevada.
M. H. é Marcio Harum (São Paulo, Brasil), crítico, curador e um inspirado interlocutor que cresceu lendo as Históriais extraordinárias de Júlio Verne. Nesta publicação, escreve textos ficcionais.
J. T. é Josefi na Trotta (Buenos Aires, Argentina), escritora, roteirista e correspondente dedicada e que escreve em seus cadernos com letra rápida e incompreensível, por todos os cantos e em todas as páginas, e por isso usa máquina de escrever. Nesta publicação, escreve cartas de observação do tempo.
G. M. é Gabriela Motta, crítica de arte.
ESCALA BEAUFORT
Aspecto do mar Efeitos em terra
0 Calmo Espelhado Fumaça sobe na vertical
1 Aragem Pequenas rugas na superfície do mar Fumaça indica direção do vento
2 Brisa leve Ligeira ondulação sem rebentação
3 Brisa fraca Ondulação até 60 cm, com alguns carneiros
4 Brisa moderada Ondulação até 1 m, carneiros frequentes
5 Brisa forte Ondulação até 2,5 m, com cristas e muitos carneiros
6 Vento fresco Ondas grandes até 3,5 m; borrifos
7 Vento forte Mar revolto até 4,5 m com espuma e borrifos
8 Ventania Mar revolto até 5 m com rebentação e faixas de espuma
9 Ventania forte Mar revolto até 7 m; visibilidade precária
10 Tempestade Mar revolto até 9 m; superfície do mar branca
11 Tempestade violenta Mar revolto até 11 m; pequenos navios sobem nas vagas
12 Furacão Mar todo de espuma, com até 14 m
As folhas das árvores se movem; os moinhos começam a trabalhar
As folhas agitam-se e as bandeiras se desfraldam ao vento
Poeira e pequenos papéis levantados; movem-se os galhos das árvores
Movimentação de grandes galhos e árvores pequenas
Movem-se os ramos das árvores; dificuldade em manter um guarda-chuva aberto; assobio em fios de postes
Movem-se as árvores grandes; dificuldade em andar contra o vento
Quebram-se galhos de árvores; dificuldade em andar contra o vento; barcos permanecem nos portos
Danos em árvores e pequenas construções; impossível andar contra o vento
Árvores arrancadas; danos estruturais em construções
Estragos generalizados em construções
Visibilidade nula; destruição total