Saúde - 5 de janeiro de 2014

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Caderno F

Saúde MANAUS, DOMINGO, 5 DE JANEIRO DE 2014

e bem-estar

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Pancadas de ‘amor’ também doem Saúde e bem-estar F5

O caminho da maturidade Psicólogos britânicos especializados no tratamento de jovens estão sendo orientados a considerar que hoje a adolescência vai até os 25 anos. Mas será que dá para determinar o momento exato da maturidade psicológica? MELLANIE HASIMOTO Equipe EM TEMPO

C

asa, trabalho, estudos, família, amigos. Muita gente “rala” para conseguir equilibrar todos esses aspectos da vida, sem que nenhum momento seja prejudicado. Há quem diga que isso significa sair da adolescência e chegar à fase adulta. Mas quando é que termina mesmo a adolescência? Uma escola de psicólogos afirma que essa fase ultrapassa os 18 anos, pois consideram arbitrários os efeitos desse “marco”. Outros profissionais afirmam que essa nova orientação pode ser mais prejudicial. Psicólogos britânicos especializados no tratamento de jovens estão sendo orientados a considerar que hoje a adolescência vai até os 25 anos. Para esses profissionais, os 18 anos são insuficientes para considerar que o adolescente já tenha se tornado um adulto e, portanto, precise lidar imediatamente com todos os problemas que os adultos devam lidar e com o mesmo grau de maturidade. O psicólogo André Borghi explica a teoria. “Estão pautados nos argumentos de que o desenvolvimento cognitivo do cérebro não se conclui aos 18 anos, assim como o desenvolvimento hormonal. Se os dois processos continuam ocorrendo, o tempo de desenvolvimento socialmente aceito de um ser humano deveria também ser aumentado, segundo eles”, diz. No desenvolvimento cognitivo de uma pessoa aos 18 anos, espera-se que o adolescente já tenha uma série de recursos que crianças e adolescentes mais novos não tenham, como destaca Borghi. “A capacidade de pensamento abstrato já deve estar devidamente instalada. Isso permite que nessa idade o adolescente já tenha, em média desde os 15 anos de idade, flertado com algumas coisas do mundo adulto, como engajamento político,

ideológico, soluções de problemas complexos, mesmo que a soluções ainda possam parecer simplistas e utópicas”, aponta o profissional. O psicólogo diz, ainda, que é importante ao adolescente, de uma forma controlada, rebelar-se a algumas imposições, testar ideologias. “A fase dos sentimentos exageradamente agudos, do amar demais ao odiar demais, deve estar mais atenuada, os humores e sentimentos mais equilibrados. Aos 18 anos o adolescente deve estar passando gradualmente para a fase adulta, isso é importante. Ele não será adulto na passagem de hora de um relógio, é um processo

LIBERDADE

Crescer significa sair debaixo da tutela dos pais, assumir responsabilidades e seguir seu próprio caminho. Há quem faça isso muito cedo, enquanto outros demoram um tempo maior para criar ‘asas’ gradual que não deve esperar 25 anos para ocorrer, nem ser imposto aos 15. É preciso entender que isso leva tempo e é um processo, e precisa dos pais/tutores presentes”, acrescenta. Existem diferentes escolas de pensamento dentro da psicologia, e é um entendimento similar entre todas de que definir uma idade em que o ser humano esteja pronto é inviável, senão utópico. “Não dá para considerar ao pé da letra que um adolescente de 17 anos na véspera de seu aniversário seja imaturo, ou incapaz de lidar com seus problemas, e na meia noite seguinte magicamente torne-se capaz. A idade é uma necessidade das estatísticas, das ciências jurídicas, das leis, de uma série de outros contextos que precisam definir aspectos igualitários”, observa Borghi. Em termos psicológicos, destaca o profissional,

cada adolescente irá ter um processo de desenvolvimento único, onde a idade exata é importante sim, mas não dirá com exatidão em que fase de desenvolvimento estará. “Dessa forma, alguns irão agir como adultos desde cedo, outros demorarão mais. As variáveis que influenciam o processo são muitas, da maturação biológica do corpo, a questões culturais, sociais e individuais. No entanto, para que haja pesquisas, sejam definidos procedimentos, é preciso considerar uma média de idade. Por isso convencionouse utilizar a média de idade cronológica jurídica, 18 anos, para considerar um indivíduo adulto, mesmo que não signifique necessariamente que esteja pronto”. Jovens infantilizados Partir para a vida adulta, para alguns, significa sair debaixo das asas dos pais e seguir o seu próprio caminho. No entanto, a realidade não é bem essa, principalmente em países como o Brasil, onde os jovens demoram um pouco mais para sair de casa.

Desenvolvimento e equilíbrio “Cada situação é um caso. Há situações em que o cenário econômico não permitirá ao jovem sair de casa. Não adianta olharmos, por exemplo, para a sociedade norte-americana que tende a incentivar os filhos a saírem cedo de casa, se nossa sociedade não oferece as mesmas condições sociais e econômicas. Seria copiar um modelo sem ter o mesmo aporte”, pontua Borghi. “Como pedir que um jovem morador da periferia brasileira, cuja família tem pouca capacidade financeira, deixe a casa de uma mãe solteira que cuida de um filho mais novo e vá morar sozinho? A tendência é que ele permaneça em casa, some à receita da família e ajude a mãe a cuidar do filho, e não existe nenhuma inteligência em afirmar que ele está errado. Deve-se considerar sempre o contexto onde as situações ocorrem. Por outro lado, sim, existe um movimento na sociedade brasileira em que pais

mantém por mais tempos seus filhos nas chamadas famílias aglutinadas. A educação superprotetora já um elemento conhecido e bastante típico em nossa atualidade e tem suas consequências”, completa. E, por conta disso, po-

AD0LESCÊNCIA É uma fase difícil e de muita indecisão, quando o jovem já não é mais criança, mas também ainda não é adulto e acaba sendo cobrado pelos dois lados conforme as circunstâncias

deríamos estar criando uma nação de jovens que relutam em deixar a adolescência para trás? O psicólogo André Borghi afirma que não é bem por aí. “Acredito que a adolescência e a maturidade não tem a ver apenas com o tempo que se vive em casa, mas também se relaciona

muito com a capacidade de assumir responsabilidades do adolescente. Mesmo que permaneça mais tempo em casa, ele precisa iniciar e ativamente vivenciar a experiência de responsabilizar-se por aquilo que faz”, ressalta. Os pais devem, primeiro e mais importante, estar presentes de forma ativa durante a passagem de seu filho ou filha pela fase da adolescência. “É uma fase difícil, cheia de particularidades, em que a orientação é essencial para a formação de um indivíduo adulto íntegro. Não se deve deixar seduzir pelos extremismos. Adolescentes não são ingênuos que não entendem o que fazem, e também não são ‘aborrecentes’ sem nada na cabeça”, lembra Borghi. “Aos pais cobra-se equilíbrio, o tipo do equilíbrio que é pré-requisito das pessoas que desejam criar e educar um ser humano. A adolescência é uma fase definida recentemente, pouco tempo atrás.


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