Revista UBC #22

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10/UBC : mercado

Trilha de fundo, emoção na linha de frente Profissionais desvendam gênero artístico que reúne música, voz, ruídos e inúmeros efeitos sonoros para dar mais vida e emoção a filmes, novelas, programas jornalísticos, peças de teatro e muitas outras atrações

Por Bruno Calixto, do Rio Na infância, o produtor e compositor carioca Pedro Guedes se sentava, vidrado, diante da TV para curtir seus programas favoritos. Mas do que ele se lembra com especial emoção, mesmo, é das trilhas sonoras de filmes como “Indiana Jones” e “Blade Runner”, do seriado “O Tempo e o Vento” e até do “Globo Repórter”. “Ficava morrendo de medo. As notas da abertura (do jornalístico da TV Globo) são muito tensas”, diz. Coincidência ou não, o arranjo hoje no ar no programa noturno das sextas-feiras tem solo de guitarra de Pedro. Por trás de uma bela ou eletrizante imagem na TV, o chamado background envolve o telespectador mais do que ele é capaz de imaginar. E essa mágica é fruto de um rico processo de produção, muitas vezes feito antes mesmo de a obra visual ganhar um roteiro. Outro craque no ramo é o também carioca Fernando Moura, compositor de trilhas independente que trabalha para várias emissoras de TV, abertas e por assinatura, diretamente ou por meio de produtoras de vídeo. “Cada uma delas tem uma especificidade, mas todas são unânimes na urgência das entregas”, ressalta o criador e pianista, que assina projetos para Globo, TV Brasil e TV Record. De Paris, onde está em temporada de shows com o percussionista Ary Dias, ele conta que começou a compor trilhas sonoras originais para teatro no final dos anos 1970. A estreia foi numa montagem de “O despertar da primavera”, encenada por Miguel Fallabella, Daniel Dantas e Maria Padilha. A atriz, aliás, estudou com o compositor e o convidou a compor as músicas da trama. “Sempre gostei muito de compor, tive aulas de composição e arranjo com o Guilherme Vaz, um compositor incrível de música para cinema”, lembra. “A partir dos anos 80, comecei a fazer trilhas para curtas e filmes publicitários com diretores como Ricardo Miranda, Sargentelli Filho e Carlos Manga.” Daí em diante, foram mais de 15 longas, com direito a graduação em música para cinema, TV e multimídia na GrãBretanha. O ingresso na TV veio no fim dos anos 90, no Canal Futura. “Com o crescimento da TV a cabo, ampliei bastante minha área de atuação, trabalhando para canais como GNT e MultiShow. Em 2008, Fernando Moura faturou o prêmio Coral do Festival de Havana pela trilha do filme “Maré, Nossa História de Amor”, de Lucia Murat. Mês passado, o compositor

teve trabalho apresentado no Festival do Rio: a trilha do longa “O Estopim”, de Rodrigo Mac Niven. Compositor de algumas séries da TV Globo, como “Doce de Mãe”, de Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo, o gaúcho Maurício Nader é outro que faz mágica para envolver o espectador por meio da música. Ele atua diretamente com os diretores e criadores do roteiro, e, segundo conta, vai construindo o conceito da trilha antes e ao longo das filmagens – e até mesmo durante a montagem dos programas. “As trilhas já vão prontas junto com tudo para a aprovação da emissora”, explica. Seguindo mais pelo viés do jornalismo, Pedro Guedes atua com trilhas para a Globo News e a TV Globo. “As demandas são muito variadas, e precisamos estar preparados para compor e produzir todo tipo de música. Essa pluralidade é o que mais me encanta. Ao mesmo tempo, é uma das partes difíceis do trabalho. Quando há um prazo maior, eu recebo o programa editado e componho a trilha sonora vendo as imagens. Porém, na maioria das vezes, não há tempo para isso, e a trilha é feita de acordo com um briefing ou um roteiro”, explica. Ele é autor de 40 temas utilizados na Copa do Mundo de 2014, entre eles a música do clipe de abertura do sorteio da Fifa, transmitido para o mundo todo. “O mar, a natureza e, depois, a própria cidade e suas luzes sempre foram fontes de inspiração.” Além do cinema, da televisão e do rádio, o conceito de trilha sonora tem se ampliado e vem sendo aplicado a videogames, aplicativos para celular e, claro, produções audiovisuais para a internet. Com a convergência tecnológica e o crescimento desse mercado, cada vez mais são necessários profissionais preparados, equipados e criativos. “O profissional de trilhas não pode se dar ao luxo de não estar inspirado. Todo dia é dia de compor. Com o tempo, essa pressão vira parte da rotina, mas é uma dificuldade”,

Na era digital, campo de atuação ganha novas possibilidades, como videogames, aplicativos para celular e produções audiovisuais para a internet


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