MEMÓRIAS LITERÁRIAS AFRO-AMERÍNDIAS E DIASPÓRICAS NA ELABORAÇÃO DE UMA ESCRITA DECOLONIAL Aline de Oliveira Rosa1
resumo Quantas histórias já ouvimos que endossam discursos de gênero radicalizado e relações colonizadoras: “mulheres negras são boas parideiras”, “mulher negra não é pra casar”, “índio é preguiçoso”, “não houve resistência na colonização das Américas”? Sabemos que a língua, a história e suas narrativas produzem assujeitamentos de corpos, ideais regulatórios, marcadores de opressão, etc., uma violência colonial e que também epistemológica. O que aconteceria, portanto, se nossas bocas amordaçadas gritassem o silêncio de todos esses séculos? Neste artigo arrisco dizer que não há nada mais urgente do que criar um novo vocabulário, um outro modo de usar a boca, e mesmo de escrever, fugindo das restrições gramaticas que pesam sobre questões de gênero, sexualidade, raça e territorialidade - entendendo essas categorias imbricadas -, desmantelando as práticas discursivas moderno-coloniais e exercendo a afirmação da subjetividade dos corpos afro-ameríndios, ou como diz Lélia, amerifricanos. Esta é uma práxis que é ao mesmo tempo antirracista, decolonial e anti-imperialista, que visa reivindicar nosso lugar como sujeitos falantes e narradores da nossa própria história. Proponho uma escrita que é antes espontânea, ensaísta, ensaiando a si mesmo, ensaiando a própria língua,
1 Doutoranda em filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Pesquisas na área de gênero, sexualidade e decolonialidade. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Descolonial Carolina Maria de Jesus, vinculado ao Laboratório Antígona de Filosofia e Gênero, do PPGF-UFRJ. Pesquisadora do Projeto de Extensão Vozes de MulheresUFRJ. Participante do Grupo Mulheres Intelectuais de Ontem e Hoje, programa de rádio e podcast sobre mulheres da história, em participação UFRJ e UFSC. revista lampejo issn 2238-5274 | vol. 10, n. 1
08/2021
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