DO MAIS-GOZO À MAISREVOLUÇÃO: UMA TRAGICOMÉDIA SADIANA Prof. Dr. Thiago Mota1 Provavelmente acharão nossas ideias um tanto fortes, mas e daí? Não adquirimos o direito de dizer tudo? Explicitemos aos homens grandes verdades; eles aguardam-nas de nós. Já é tempo que o erro desapareça; que sua venda caia junto a dos reis. Marquês de Sade
abrem-se as cortinas: prólogo O teatro esteve sempre muito presente na vida e na obra de Sade, bem como o fracasso, mais de crítica do que de público, quase sempre acompanhado do escândalo, que perseguiu suas peças. Talvez a mais bem sucedida empreitada teatral do marquês ocorra em 1808, quando ele organiza algumas encenações com os detentos do manicômio de Charenton. Seja como for, Sade jamais se orientou pelos aplausos do público, pelo contrário, não seria absurdo dizer que antes de uma acolhida o que ele pretendia era um choque sobre aqueles que o viam e ouviam. A filosofia na alcova, publicada em 1795, é um texto teatral, ainda que por vezes se possa esquecer disso em sua leitura. A sobreposição de gêneros literários, que leva à criação de obras híbridas, era corrente na época (Borges, 2000: 209). Isso explica por que se tem, por vezes, a sensação de que se lê um romance. De todo modo, não há, a rigor, narrador: os diversos personagens se alternam neste papel ao longo do texto, composto por sete diálogos,
1 Filosofia/UECE. thiago.mota@uece.br revista lampejo issn 2238-5274 | vol. 10, n. 1
08/2021
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