Sobre o ceticismo, pp. 66 – 68
SOBRE O CETICISMO Ruy de Carvalho Prof. UECE
O texto pretende sugerir que o ceticismo, ao longo de sua tradição, tornou possível uma compreensão de seu sentido e papel, que elege o problema da dor/sofrimento, como questões fundamentais, paralelamente àquelas relativas ao conhecimento e às ético-morais. O que proponho é a ideia de um ceticismo enquanto clínica, como potencialização da filosofia; bem como a necessidade de relacionarmos o ceticismo com a antropologia, como forma de potencialização da filosofia. Ceticismo, assim, exigiria que a filosofia se confrontasse com a clínica e a antropologia. Se a clínica pode tornar a filosofia mais potente é porque o ceticismo está mais interessado na dor e no sofrimento que o dogmatismo causa a si e aos outros, do que com o problema do fundamento, da dúvida, do método, da certeza, da justiça, da crença etc. Se a antropologia pode tornar a filosofia mais potente é porque o ceticismo está íntima e decididamente comprometido com cosmologias não redutíveis à ontologia e à metafísica clássicas. O ceticismo, mais que teoria, doutrina ou uma formação discursiva entre outras, seria sobretudo uma atitude, uma certa maneira de viver, em um mundo e com os outros, uma certa ascese, uma certa prática ou exercício em que o problema do sofrer e do fazer sofrer teriam a primazia frente à questão acerca da verdade, da crença, da certeza, do fundamento, etc. Ele, o ceticismo, compreenderia a totalidade dos mundos possíveis como perpassada por uma conflito, um agonismo sem trégua e sem termo, com o que a filosofia ver-se-ia convidada a participar e a pensar. Nem clínica normativo-prescritiva
Volume 5 no 2
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