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REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

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REFERÊNCIAS

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Se fizermos uma comparação fria, o número de jogadores homossexuais deve ser 8 mil atletas aproximadamente. Baseando-se nestes dados, a pergunta que fica é a seguinte, o futebol é um esporte atraído somente por heterossexuais ou os próprios jogadores têm medo de uma possível repercussão negativa por parte da torcida e da própria imprensa.

O futebol é considerado o esporte mais popular do Brasil. Além de ser o mais democrático, praticado e visto por milhões de pessoas, de todas as cores, crenças e classes sociais... Mas qual o motivo desta “regra” não se encaixar para heterossexuais ou homossexuais? Se pararmos para analisar, seja no campinho do bairro, nas categorias de base ou até mesmo nos campeonatos internacionais, praticamente não se tem relato de jogadores, manifestações de torcidas ou profissionais de imprensa envolvidos que sejam da comunidade LGBT e quando se toca no assunto da homofobia, geralmente é em um curto espaço de tempo, quando acontece algum ato de crime contra homossexuais. Diante deste cenário, a pergunta que fica é a seguinte: será que não é possível dar mais espaço e voz de verdade para este problema que é não latente no nosso país, até para que mais pessoas tenham coragem para levantar esta bandeira ou no final das contas o que importa mesmo para os programas esportivos é simplesmente a luta pela audiência sem levar em consideração o papel social que os jornalistas e todos os profissionais da imprensa deveriam ter.

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Em toda discussão, temos a tendência de lutar contra aquilo que se sente na pele. Atualmente a mídia esportiva brasileira é repleta de diversidade, sobretudo com a inclusão recente por parte das emissoras de mulheres como narradoras e comentaristas, por exemplo. Porém, desde a saída da jornalista Fernanda Gentil do grupo de esportes da TV Globo, não há nenhum homossexual assumido nas grandes emissoras do país. Com tamanha falta de representatividade, é fácil de imaginar que tal assunto não seja abordado nem colocado em pauta, por falta de interesse dos próprios profissionais ou simplesmente pelo senso comum de achar que falar sobre homofobia não é importante.

REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO

O presente projeto tem como objetivo analisar e entender como a mídia e a sociedade em geral lidam com a comunidade LGBTQIA+ dentro do futebol. Com a finalidade de mostrar a falta de sensibilidade e de entendimento que o tema é tratado. “Um estereótipo é a ideia que temos.., a imagem que surge espontaneamente, logo que se trate de (...) É a representação de um objeto (coisas, pessoas, ideias) mais ou menos desligada da sua realidade objetiva, partilhada pelos membros de um grupo social com uma certa estabilidade” (BARDIN, 1977, p. 51).

A teoria que embasa esse estudo é a hipótese de Newsmaking, que diz que as notícias têm relação com a rotina industrial de produção existente nas emissoras e este seria um dos fatores de não se tratar a homofobia no futebol com mais ênfase.

A ausência de espaços para o diálogo sobre orientação sexual deixa uma impressão de que os editores dos telejornais acreditam que a imagem de um homossexual é extremamente ofensiva para torcedores dentro de um estádio de futebol. O torcedor do Palmeiras William de Lucca relatou em reportagem para o canal VICE BRASIL, no Youtube que sofre inúmeras ameaças da própria torcida palmeirense após criticar a homofobia no futebol e revelar sua orientação sexual nas redes sociais. Os autores Marco Almeida e Alessandro Soares (2012), acreditam que o futebol carrega frutos de uma sociedade masculinizada e que todas as formas de preconceito ao homossexual são expressas em um campo de futebol. Eles reiteram

ainda que a imagem do homossexual é incongruente aos olhos dos expectadores que entendem futebol como reduto da força física, como se a liberdade sexual estivesse ligada a ter ou não ter força, ter ou não virilidade (ALMEIDA; SOARES, 2012, p. 14).

Ponto crucial em toda esta discussão, a imprensa tem papel fundamental neste debate, uma vez que tais casos, como de William são difíceis de ser contados na mídia, levando ao público a falsa sensação de que esta questão simplesmente não faz parte da rotina de milhares de pessoas que sonham em se aproximar de seu time de coração, mas não conseguem.

[...] Os meios de comunicação de massa também têm vários efeitos opostos em outras dimensões. Há várias evidências de que o potencial democrático de uma esfera pública, cuja infraestrutura é impregnada pelas crescentes pressões seletivas da comunicação de massas eletrônica, é ambivalente. (ADORNO, HORKHEIMER, 1947) p. 87.

Um dos pontos chaves para esta situação indubitavelmente é a falta de representatividade por parte dos profissionais que são responsáveis pelos programas esportivos no Brasil. Atualmente em todas as principais emissoras, seja da televisão aberta ou fechada, não temos sequer um jornalista declaradamente homossexual. Considerando esta afirmativa, a probabilidade deste assunto não ser abordado nas pautas dos programas esportivos é enorme, levando em consideração que as próprias pessoas que selecionam o que é ou não relevante ser colocado no ar não tratam a homofobia no futebol como assunto prioritário. Como corrobora a teoria de Gatekeeper, criada em 1947 pelo psicólogo alemão Kurt Lewin, que diz que os assuntos a serem abordados em uma redação são definidos a partir do interesse público.

[...] Existe um constante esforço por parte dos jornalistas esportivos e de alguns pesquisadores acadêmicos em separar o que seria violência simbólica de violência “real”. [...]Acreditamos que essa distinção seja um tanto equivocada e perigosa. Ela faz uma clara seleção de quais violências importam. Dizer que um coletivo como um “nós” atores do espetáculo futebolístico toleram essas manifestações é quase leviano. (BANDEIRA, SEFFNER, 2013, p. 19-20)

Um dos personagens mais emblemáticos de toda esta situação é o jogador Richarlyson, que sempre foi alvo de críticas das torcidas dos clubes pelo qual passou por sua suposta homossexualidade, que sempre foi negada pelo atleta. Objeto de estudo para este projeto, o programa Esporte Espetacular simplesmente omitiu um triste episódio que aconteceu em maio de 2017, quando o jogador Richarlyson foi apedrejado em sua apresentação como jogador do Guarani de Campinas. As mais de 20 reportagens do programa estiveram focadas totalmente ao que ocorreu dentro das quatro linhas. Em momento algum surgiu na pauta algo que não estivesse relacionado às partidas e aos resultados.

[...] A heteronormatividade precisa ser contestada pelo discurso jornalístico de maneira frontal porque todas as violações relacionadas à sexualidade derivam da ameaça que o desejo por pessoas do mesmo sexo representa para as normas e estruturas existentes que ancoram a heterossexualidade compulsória. O fato do discurso jornalístico sobre os direitos para a população LGBT não enfrentar a heteronormatividade também significa que ele quase nunca se engaja com o potencial subversivo da sexualidade queer. (DARDI; MORIGI, 2012, p. 14)

Mais grave que a falta de informação ao público, é digerir a ideia de que o próprio público não trata o assunto como importante e o ignora quando o tema chega até ele. Em um documentário produzido para a internet, pelo canal VICE Brasil, o assunto é abordado com contundência. No conteúdo, um de seus integrantes vai até líderes de torcidas em estádios e em sedes de torcidas uniformizadas com o intuito de questionar assuntos inerentes a representatividade LGBT em suas rotinas nos jogos. Um representante da torcida organizada Gaviões da Fiel afirmou nesta entrevista que existem assuntos mais importantes a ser tratado nas reuniões da torcida, como a distribuição dos ingressos ou a relação com a Polícia Militar, por exemplo. O autor Samilo Takara (2017) acredita que opressões, silenciamentos, falta de apuração ou

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