* Este horror era agravado pelo fato de que vi desde o começo o que estava nesse erro novo, era um requinte da Revolução. E que, portanto, ao que estava aderindo a grande maioria do clero era o requinte da Revolução, e o quanto isto era uma coisa abominável, detestável. Representava uma punhalada pelas costas em tudo aquilo que eu amava245. Novamente escrúpulos e a provação axiológica Não sei se os senhores fazem a ideia da impressão que representa um apostolado que Deus parece ter abandonado. Depois de graças e graças que chegam ao auge, ficar com a impressão de um inverno em que todas as folhas vão caindo. A impressão é de que Deus se voltou contra nós com todas as suas armas para nos esmagar. Não teria havido algum defeito moral nosso, alguma falha na nossa vida espiritual que teria sido a causa de Deus nos abandonar? Quem é que poderia saber? Esta incerteza era o pior. Porque não bastava dizer: “Deus tem os seus caminhos, durma em paz”. Sim, mas isso quando aparece um anjo e diz: “Você não tem culpa”. Mas onde é que está esse anjo? Aí é que está a questão. De maneira que eu confesso que o sofrimento dessa ocasião foi uma coisa de escalpelar246. Contra nós se verificava um velho provérbio que meu pai costumava citar: “Atrás dos apedrejados correm as pedras”. O sentido do provérbio é: quando alguém é apedrejado, todos os outros também lançam pedras nele. Parecia que o esmagamento inglório seria o fim único de tudo quanto tínhamos feito até aquele momento247. O movimento que eu queria desencadear era fundamentalmente dependente da graça. Ora, a graça vem muito frequentemente na proporção em que o próprio apóstolo corresponda a ela. E eu tinha um escrúpulo de consciência muito forte a esse respeito: “Esses infortúnios com que eu não contava, não serão um modo de a Providência me dar a entender que não está contente comigo? Como é isto? Não haverá uma imperfeição de minha parte?” 245 Chá SRM 12/4/89 246 Palestra sobre Memórias (VIII) 13/8/54 247 SD 8/4/89 100
MEU ITINERÁRIO ESPIRITUAL