As pancadas boas são as que se desferem melhor no adversário. Os bocados bons são os que são engolidos de mais boa vontade175.
* Tenho uma tendência para os sabores fortes. E para apreciar bem os sabores fortes, eu sou tendente a usar as porções grandes. Isto chega ao ponto de eu gostar de beber goles grandes de água. Eu não bebo aos golinhos. A água, pela definição dos físicos, é um líquido insípido, quer dizer, que não tem sabor. Esse líquido pretensamente insípido, eu bebo aos golões. Porque há uma sensação do matar a sede, e é bom que essa sensação se tenha grandona. E isto se prende à minha radicalidade. Aqui entra alguma coisa de radicalidade: é porque sou truculento. Truculento é aquele que, antes de tudo, tem o feitio de espírito pelo qual gosta de pegar as coisas capitais de uma vez, e gosta também da ação que atinge seu fim diretamente. E gosta do raciocínio que agarra a conclusão com a força de um leão. Sei perfeitamente que as boas maneiras se opõem a isto. Mas acho que as boas maneiras, para os homens, em alguns sentidos foram muito adelgaçadas. Que as senhoras comam de um modo mimoso está no modo de ser delas176. Compreendo que se veja nisto uma truculência contra-revolucionária, porque há disso dentro. E explicando o gesto, eu faço ver o espírito177. Preferência pelos alimentos elaborados As únicas verduras de que eu gosto são a alface e o agrião. Tenho uma fobia militante contra a couve: aquilo para mim é pano velho e vegetal. Choufleur au gratin. A couve-flor é gostosa quando vem au gratin, com um molho de manteiga em cima e não foi trabalhada com os ingredientes modernos que tiram o gosto de todas as plantas178.
175 CM 21/4/91 176 Chá PS 1/5/91 177 Chá SRM 26/10/90 178 Almoço EANS 8/11/91 1ª PARTE – O MENINO PLINIO 89