A companhia dos outros tende a levar para a superficialidade, e o melhor interlocutor que há para o homem é o isolamento453. As primeiras noções da própria miséria Eu me dizia interiormente: – “Plinio, preste atenção! Você é objeto dessa graça, é trabalhado por essa graça. Você ama e estima tanto essa graça, e está perfeitamente bem. Mas você, que tem 12 anos, já sente as garras dos seus defeitos, já sente as resistências que você opõe a essa graça. Essas suas resistências resultam de alguma coisa de fundamentalmente má em você, e que te procura separar disso. Essas coisas lhe fazem bem, mas vêm até você de fora para dentro. Você é ruim, e não é digno de nada disso. Dê graças de que, apesar de você ser ruim assim, por uma ‘sorte’ – vejam o que a palavra “sorte” tem de pagão –, Nosso Senhor Jesus Cristo permitiu tudo isso para você. E o que lhe compete é ter um sentimento profundo de sua maldade e de sua indignidade. Você deve compreender que oscular a porta por amor à soleira da porta é uma honra imerecida, porque você não é digno de oscular nem essa soleira”. Quando eu fazia essas considerações, sentia em mim um efeito curioso: sentia Nosso Senhor muito mais distante de mim, mas atuando mais profundamente em mim. Depois soube que esse ato era de humildade. Não sabia que isso era humildade. Então carregava o meu ato de humildade com toda a minha força, por me sentir mais perto d’Ele por causa disso. O objetivo era, portanto, me sentir mais perto d’Ele. Eu entendia de um modo muito confuso que, se bocejasse em cima dessa indignidade e dissesse: “É verdade, mas Ele me admite. E, portanto, vamos passar por cima de todas essas considerações; se ficar pensando muito nisto, Ele de repente se dá conta de que isso é assim mesmo e me expulsa”, eu no fundo pretenderia fraudá-lo. Se eu o fizesse, começaria a apagar a fé católica na minha alma. Tomei então como princípio de conduta o seguinte: quanto mais, em meu espírito, martelar na consideração dessa indignidade, quanto mais a tiver em vista, mais estarei próximo d’Ele. Então, a martelarei até me arrebentar! À vista disso, adquiri, por exemplo, o hábito de oscular as imagens apenas nos pés, por considerar-me nem digno disso, dada essa radical maldade existente em mim, e que me tornava objeto explicável da repulsa divina.
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MEU ITINERÁRIO ESPIRITUAL