O amadurecimento do amor pela ordem monárquica do universo Desde muito pequeno tive a noção de que havia um ponto central, um foco de luz central cujo conhecimento trazia como consequência uma porção de outros conhecimentos na ordem dos ambientes-costumes-civilizações. E que, nessa ordem dos ambientes-costumes-civilizações, se irradiava uma visão que partia de certo ponto. Percebia em muitas coisas que havia uma forma de excelência ou de beleza que eu talvez chamasse de excelência ou beleza cônica. A figura do cone me é muito prática, porque é uma forma que vai subindo, se adelgaça e chega a uma fina ponta que está a um milímetro, ou a menos de um milímetro, do cone perfeito, mas da qual depende todo o resto. Essa beleza cônica me chamava mais a atenção, me agradava mais do que qualquer outra coisa. Donde, por exemplo, o bem-estar de alma especial que eu sentia contemplando ogivas. Foi este, por exemplo, o brado de alma que tive quando, pela primeira vez, vi em um desfile de carnaval algumas senhoras vestidas à la medieval, com aquele chapéu cônico, do qual pendiam tules. Quando vi aquilo, exclamei: “Oh! que beleza”. Havia nesses chapéus um padrão que me fazia compreender muitas outras coisas, uma perfeição e uma excelência que encontrava, naquela forma, a sua melhor expressão. Tudo quanto era muito alto, muito grande e que terminava numa ponta quase invisível me encantava. Analisando outras coisas da Idade Média, poderia mencionar essa presença de uma tendência a algo de cônico. E em muitas das minhas demonstrações, essa tendência cônica está presente. Analisando o que a Igreja ensina de Deus, parecia-me que Deus era o alto de um cone. E voltando minha atenção para o Sagrado Coração de Jesus, “Rex et centrum omnium cordium”, parecia-me que o mundo dos corações era o mundo do qual Ele era o cone. Daí é que me nasceu a ideia da ordem do universo. Eu não era um menino filósofo. Há um quadro do Fra Angélico representando São Domingos pensando, sentado, com os dedos tocando o queixo e lendo um livro. Nunca fui um menino assim. Fui um menino comum, andando, mexendo, falando como todos os outros, olhando as coisas, analisando, classificando. E por toda parte eu percebia o mesmo tipo de grandezas. As coisas do império austro-húngaro me tocavam justamente por causa de sua sacralidade muito marcante, entendendo-se sacralidade como algo 2a PARTE – A ATMOSFERA PRIMAVERIL DA VIDA ESPIRITUAL 197