E&M_Edição 54_Novembro 2022 • Biofund, Dez Anos de Conservação

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OPINIÃO

Manuel Junior • Consultor Gestão da Qualidade e Segurança dos Alimentos

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ós somos o que comemos” disse Ludwig Feuerbach em 1848. Esta frase revela o impacto que os alimentos têm na vida das pessoas, enquanto estudos recentes demonstram que a segurança dos alimentos (Food Safety) tem um papel crucial no desenvolvimento da economia dos países. Para além de serem adequados e nutritivos para a sobrevivência do homem, os alimentos devem estar seguros para o consumo. De acordo com a Codex Alimentarius, a segurança dos alimentos refere-se à garantia de que um alimento não causará efeitos adversos à saúde dos consumidores quando preparado e/ou ingerido de acordo com a utilização prevista. Face ao exposto, é facto que garantir alimentos seguros para todos é indiscutivelmente um dos principais pontos da agenda dos governantes e um dos desafios de saúde pública nos dias de hoje. Por isso, é também parte integrante dos 17 objectivos de desenvolvimento sustentável até 2030.

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Porque “Somos o que Comemos”, a Segurança Alimentar é Essencial As implicações económicas de alimentos “não seguros” são claras e têm sido documentadas de forma extensiva. A OMS (Organização Mundial da Saúde), num estudo recente estimou que, a nível mundial, a cada ano os alimentos contaminados causam 600 milhões de casos de Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs) e 420,000 mortes, das quais, 30% ocorrem em crianças abaixo de 5 anos de idade. Estima-se ainda que em todo o mundo, anualmente, 33 milhões de pessoas saudáveis morrem devido ao consumo de alimentos de algum modo contaminados. Numa análise isolada, Moçambique, de 2017 a 2022 registou vários casos de alimentos impróprios para o consumo, detectados e notifica-

O custo de situações relacionadas com a introdução de alimentos não seguros no mercado é elevado, principalmente em relação aos aspectos sociais e económicos

dos pela INAE (Inspeção Nacional das Actividades Económicas). Por exemplo, os “Ovos Kinder” retirados das prateleiras por conterem Salmonella, ou os chocolates “KitKat” e sumos de maçã retirados por conterem pedaços de vidro e toxinas, respectivamente. O custo de situações relacionadas com a introdução de alimentos não seguros no mercado é elevado, principalmente em relação aos aspectos sociais e económicos. Nomeadamente, pela redução considerável da saúde e produtividade, aumento da pressão no Sistema Nacional de Saúde, destruição de produtos alimentares contaminados, custos com tribunais, encerramento de estabelecimentos alimentares, publicidade negativa e aumento de risco para os investidores, com consequente redução do investimento que, por sua vez, contribuirá para o aumento do desemprego. Embora não existam dados recentes e precisos sobre o impacto destes efeitos na economia nacional, as informações disponibilizadas em 2007 pelo Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional que apontam uma redução da produtividade devido a desnutrição na ordem dos 2 a 3% do PIB, o equivalente aa quase 107 milhões de dólares americanos por ano, considerando o PIB da época, deixam claras as consequências que as fragilidades/desafios existentes no sector alimentar podem ter sobre a economia do país. Com a globalização, o contínuo crescimento das cadeias de fornecimento de alimentos e o surgimento de novos perigos alimentares, a necessidade de fortalecer os sistemas de segurança dos alimentos dentro, e entre os países é cada vez mais crítica. A integração dos países em desenvolvimento nas cadeias de valor globais é crucial para garantir a eficiência e eficácia dos sistemas de segurança dos alimentos. Em paralelo, a pressão por parte dos clientes, consumidores, autoridawww.economiaemercado.co.mz | Outubro 2022


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