Não Saia Agora
Andando pela Noite Artur Laizo
Estávamos conversando Douglas, Luciano e eu em frente ao relógio da estação da rede ferroviária e os dois vampiros resolveram que iriam para outros lugares da cidade. A quarentena do coronavírus estava deixando todo mundo trancado em casa e Douglas, o vampiro de Juiz de Fora, sugeriu que se ficássemos juntos nenhum dos três conseguiria nada naquela noite. Douglas estava muito bem. Estava feliz com a perspectiva de resolver alguns problemas sentimentais com suas várias garotas. O cabelo longo e preto do vampiro muito branco voava com o vento da noite. Ele estava com cento e setenta anos e parecia cada dia mais jovem. Ele sorriu e nos disse: — Vocês só tomem cuidados porque à noite todos os gatos são pardos. — Ele riu da brincadeira. — Se pelo menos a gente conseguir um gato já estará no lucro — observou Luciano sorrindo. Luciano estava no mundo das sombras há menos tempo que nós dois. Ele foi transformado por Douglas e nesses quarenta anos de existência fez muita confusão. É um vampiro jovem e, movido pelo impulso da idade, se meteu em muitas encrencas. É um vampiro que prefere os rapazes mais jovens, mas não descarta nenhum homem tanto para sexo como para se alimentar. Eu? Eu sou Frederich Augspartem, um vampiro solitário. Não sei mais quantos anos de vida nas trevas possuo. Como tenho uma existência mais longa, hoje a falta do sangue humano não me causa a tão desesperadora crise de abstinência como vemos nos vampiros mais jovens. Já vivi muitas vidas e muitos amores. Isso eu conto depois. — O que você sugere? — perguntei. — Eu vou dirigir por aí — definiu Douglas. — Vou de carro para esses bairros de periferia. O povo, apesar da ordem de confinamento, fica nas ruas ou fazendo festinhas, procurando a morte. — Ele riu. — Eu sou a morte. Douglas ficava ainda mais bonito quando ria. — Eu gosto mesmo de centro da cidade — explicou Luciano. — Vou caçar algum perdido no centro.
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