5 minute read

Revista JMx Entrevista com um Sonho Antigo

Entrevista com um Sonho Antigo

Quando deixamos nossos sonhos adormecidos, mas eles ainda insistem em nos encontrar

Há um lugar dentro de nós onde guardamos nossos sonhos. Os mais antigos, aqueles que nasceram junto com nossa inocência, às vezes acabam esquecidos, soterrados por escolhas, medos e convenções. Mas os sonhos não desaparecem. Eles vivem como fantasmas, sussurrando lembranças, desafiando-nos a olhar para trás e perguntar: “O que aconteceu com aquele desejo de ser… alguém?”.

Na correria da vida, é fácil silenciá-los, deixar a poeira do cotidiano enterrá-los.

Até que, um dia, esses sonhos resolvem nos reencontrar. Podem vir em forma de memórias, insatisfações ou epifanias inesperadas, mas chegam com a mesma força de sempre, como velhos conhecidos que nunca pararam de acreditar em nós, mesmo quando nós deixamos de acreditar neles.

Nesta crônica, você acompanhará um encontro poderoso: um homem e seu sonho antigo. Um embate entre os temores do presente e os desejos do passado. Um diálogo que prova que, para seguir em frente, talvez seja necessário primeiro olhar com carinho para trás.

Então, convido você a entrar nesta conversa. Leia até o fim. Quem sabe o Valentino Bravo, de alguma forma, também te inspire a reencontrar o palco onde seu próprio sonho um dia esperou por você.

Entrevista com um Sonho Antigo: Valentino Bravo e O Ator da Vida, do Sempre

Valentino Bravo está sentado no centro do palco. Uma cadeira simples é tudo o que ocupa o cenário vazio. O silêncio ao seu redor é quase ensurdecedor, mas ele não está sozinho. De frente para ele, está “O Ator da Vida, do Sempre”. Não é uma pessoa comum. É a personificação de um sonho antigo, aquele que nasceu junto de sua juventude e que, até hoje, pulsa em seu peito.

Os dois se encaram como velhos conhecidos que nunca chegaram a dizer tudo um ao outro. Há algo não resolvido ali, como um fio que nunca se rompe, mas também nunca se completa.

– Ainda quer ser ator? – pergunta o Sonho, nitidamente ciente da resposta antes mesmo de ouvir as palavras.

Valentino hesita, mas não demora a responder: – Quero. Sempre quis. Ainda quero, sim. Mas… não sei se sou suficiente.

O Sonho sorri, mas há algo de melancólico nesse sorriso. Ele parece conhecer todas as desculpas, todos os medos, antes mesmo que Valentino os diga em voz alta.

– Ah, Valentino, a dúvida sempre esteve nos bastidores da sua alma. Se você realmente quer ser ator, me diga: o que te impede?

Valentino abaixa o olhar. Ele sente o peso da pergunta e sabe que a resposta não está do lado de fora. Não é sobre a falta de sorte, ou até mesmo de oportunidades. É mais interno.

– Eu mesmo – admite, com a voz baixa, quase como quem confessa algo. –Minhas escolhas, meu medo do fracasso. Sabe, é mais fácil estudar as quedas do que aprender a voar. Fico preso nos “e se não der certo?” e esqueço de perguntar “e se der?”.

O Sonho ri, mas com ternura. A

delicadeza de alguém que sabe o quanto é difícil enxergar a si mesmo sem filtros. – O palco não perdoa, Valentino. Ele exige entrega. E você, o que é felicidade pra você?

A pergunta faz Valentino pensar por um momento. – Felicidade… felicidade é encontrar sentido. Não é sobre a perfeição do espetáculo, mas sobre entregar algo verdadeiro ao público. Porque, no fim das contas, quando transformo as emoções deles, transformo as minhas também.

O Sonho se recosta em sua cadeira invisível. Observa Valentino com curiosidade e lança outra provocação: – Certo, mas felicidade não paga contas, nem sustenta sonhos. Como transforma adversidade em oportunidade, então?

Dessa vez, Valentino não hesita. Ele endireita os ombros e responde com firmeza: – Com criatividade. Um ator de verdade encontra o palco onde for. Se não há espaço no teatro, a rua serve; se não há público, qualquer silêncio é plateia. A adversidade é minha professora mais severa, mas me dá as lições mais valiosas.

Eles continuam conversando, e as perguntas do Sonho penetram fundo, quase como golpes. “O mundo real te poupou?”, “Como você conecta prazer e propósito?”, “Se Arquimedes te dissesse ‘dê-me uma alavanca e eu moverei o mundo’, qual seria a sua alavanca?” Cada pergunta convida Valentino a olhar para dentro e revisitar a essência de quem ele é.

Ele fala sobre resiliência, sobre fé, sobre a força invisível que o faz seguir em frente mesmo quando os aplausos ainda são um eco distante. E é quando o Sonho lança a pergunta crucial: – No fim das contas, vale a pena ser ator?

Valentino inspira fundo antes de responder. Seus olhos parecem brilhar na luz que não existe naquele palco vazio. – Vale. Porque ser ator não é só um título. É quem eu sou. Enquanto puder fazer do palco um espaço para abraçar o mundo, vou continuar.

O Sonho sorri de forma diferente dessa vez. Há orgulho ali, mas também alívio. Ele sabia que, no fundo, Valentino e ele eram apenas espelhos um do outro – duas partes de um mesmo ser. Levanta-se, satisfeito, e deixa suas últimas palavras ao ar: – Continue, Valentino. O palco é todo seu.

O silêncio volta a ser protagonista no cenário vazio, mas, dessa vez, ele não é tão pesado. É quase acolhedor. Valentino permanece ali, sentado na cadeira simples, ainda digerindo as palavras trocadas.

No entanto, algo mudou. A dúvida ainda existe – sempre existirá. Mas agora, ela não pesa tanto. Porque Valentino sabe que lutar pelo próprio sonho não é sobre ser perfeito ou sobre evitar falhas. É sobre continuar, mesmo quando ninguém está olhando.

Quem sabe, depois de ler, você também sinta vontade de revisitar seus sonhos antigos? Afinal, eles podem estar esperando por você, naquele palco invisível, prontos para um reencontro emocionante.

advwagner1212@gamil.com

Autor: Wagner Lourenço, advogado e escritor

This article is from: