Caderno Temático do CRPSP

Page 11

Cadernos Temáticos CRP SP

Para o cientista social, a diminuição do genocídio da população negra no Brasil passa, necessariamente, pelo reforço da luta antirracista, para que os governos mudem de posição em relação à forma como se faz Segurança Pública. Conforme Mariano, hoje ela ainda é feita com muito preconceito contra pobres e negros. Ele acredita que são necessários programas desenvolvidos com a perspectiva de criar uma polícia cidadã democrática e antirracista. “Nós temos que incluir a luta antirracista nas nossas instituições policiais, né? É isso passa por uma nova formação, que não trabalhe com o estereótipo de que pobre negro é potencial inimigo”, defendeu.

“Pela nossa pesquisa, 99% das pessoas que foram mortas pela polícia em São Paulo em 2017 são pobres. E desses pobres, 66% eram jovens pobres negros.” Benedito Mariano

RAIVA E PACIÊNCIA A advogada Dina Alves abordou dois sentimentos: raiva e paciência. A primeira como instrumento político, a segunda como caminho para a utopia, como ideal realizável contra a discriminação das minorias. Como os meandros da violência policial e do racismo são muitos, a também cientista política trouxe à lembrança o assassinato de Luana Barbosa dos Reis

Santos – mulher negra, lésbica, assassinada por policiais militares em Ribeirão Preto – no qual atua como Assistente de Acusação contra os policiais. Seu intuito foi demonstrar como o discurso de combate às drogas funciona, desde 1950, quando massificado pelos Estados Unidos da América e reproduzido no Brasil como um instrumento de encarceramento da população da periferia. Segundo dados da CNJ, o Brasil é o terceiro país em número de encarcerados, com mais de 800 mil presos. Desses, segundo Dina, 30% tecnicamente são inocentes, sob o argumento de suspeição. “ser suspeito padrão é ser esse corpo-alvo, é ser negro, é ser morador da periferia, é ter o tipo padrão que o sistema penal antinegro elege”, ressalta. As consequências desse número são gigantescas, ao serem consideradas o que ela chama de comunidades fraturadas, ou seja, as pessoas do entorno desses presos: crianças, mulheres e idosos que são diretamente afetados quando o familiar, muitas vezes provedor, é encarcerado. “Tudo isso faz parte de uma guerra às drogas. É um sistema de captura que promove sofrimento direto e indiretamente. Então nós estamos falando de duas faces horripilantes do genocídio antinegro no Brasil, seja a partir do sistema prisional, seja a partir das mortes diretas, nas execuções sumárias. O projeto político de genocídio, que viola a presunção da inocência”, alerta.

“A raiva deve ser lida aqui com uma pedagogia da justiça, como instrumento político. E para não nos calarmos diante de profundas injustiças, de

SEGURANÇA PÚBLICA E VIOLÊNCIA POLICIAL: QUAIS CORPOS SÃO ALVOS?

são instaurados pela Corregedoria da PM. Desses, 50% resultam em condenação. Os outros 97% são instaurados nos próprios batalhões, e em praticamente 100% dos casos acabam em arquivamento.

11


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook

Articles inside

Cristalização, patologização e criminalização da vida no sistema de Justiça: “Aliena ção Parental” e a atuação da/o psicóloga/o

2hr
pages 38-94

Patologização e medicalização das vidas: reconhecimento e enfrentamento - parte 2

2min
page 34

Patologização e medicalização das vidas: reconhecimento e enfrentamento - parte 1

2min
page 33

Práticas em psicologia e educação

2min
page 37

Psicologia e justiça: interfaces

2min
page 31

Conversando sobre as perspectivas da educação inclusiva para pessoas com Trans torno do Espectro Autista

2min
page 32

Psicologia e precarização do trabalho: subjetividade e resistência 29– Psicologia, direitos humanos e pessoas com deficiência 30– Álcool e outras drogas: subsídios para sustentação da política antimanicomial e de redução de danos

8min
pages 28-30

Psicologia, laicidade do estado e o enfrentamento à intolerância religiosa 26– Psicologia, exercício da maternidade e proteção social 27– Nossa luta cria: enfrentar as desigualdades e defender a democracia é um dever ético para a Psicologia

8min
pages 25-27

Psicologia e o resgate da memória: diálogos em construção

3min
page 23

Psicologia em emergências e desastres

3min
page 21

A quem interessa a “Reforma” da Previdência?: articulações entre a psicologia e os direitos das trabalhadoras e trabalhadores

2min
page 22

Psicologia e Educação: desafios da inclusão

2min
page 19

A potência da psicologia obstétrica na prática interdisciplinar: uma análise crítica da realidade brasileira

2min
page 24

Psicologia do Esporte: contribuições para a atuação profissional

2min
page 18

Psicologia Organizacional e do Trabalho

3min
page 20

Contra o genocídio da população negra: subsídios técnicos e teóricos para Psicologia

1min
page 14

Nasf – Núcleo de Apoio à Saúde da Família

1min
page 7

Ensino da Psicologia no Nível Médio: impasses e alternativas

1min
page 9

Psicologia e Educação: contribuições para a atuação profissional

2min
page 6

Políticas de Saúde Mental e juventude nas fronteiras psi-jurídicas

2min
page 12

Psicólogo Judiciário nas Questões de Família

2min
page 10

A inserção da Psicologia na saúde suplementar

1min
page 4

Psicologia e Diversidade Sexual

2min
page 11

Psicologia e o Direito à Memória e à Verdade

2min
page 13
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.
Caderno Temático do CRPSP by Entrelinhas Conteúdo & Forma - Issuu