48 | ESPECIALIZANDO-SE
Para ter progresso é necessário o acesso
F
ilho de pais separados, foi criado pelo pai e possui seis irmãos. Oriundo de família baixa renda, estudou em escola pública e começou a trabalhar com 11 anos. Com algumas diferenças, esse perfil não é muito difícil de ser encontrado no Brasil adentro. Talvez o que mudaria nesse conjunto seria a quantidade de irmãos, de ter sido criado pela mãe, ou até mesmo a idade com que começou a trabalhar. Mas o núcleo dessa estrutura familiar é o mesmo: pertencer a uma camada social fruto de desigualdades socioeconômicas – perfil que não é exceção no Brasil. Por isso, o que chama a atenção ao observar a história de pessoas assim não são as situações ou o ambiente vivenciado em sua infância, visto que isso infelizmente já é normalizado e está sendo ressignificado aqui na terra do samba, mas o direcionamento da vida adulta desses indivíduos. Esse perfil pertence a mim, Alison Martins Meurer, e, a partir desse contexto, quero compartilhar a minha história, que está em constante construção. Para entender o desenrolar da minha trajetória no ensino superior, acredito que seja fundamental destacar alguns pontos essenciais já percebidos a partir do ingresso no ensino
fundamental. Inicialmente, quero destacar que pertencer a uma camada social de baixo poder de consumo não torna impossível o ingresso ao ensino superior ou a camadas sociais mais elevadas, mas certamente torna esse caminho mais difícil e doloroso. Posto isso, acredito que mesmo pertencendo a esse grupo, cursar o ensino superior não deveria ser uma exceção, mas uma realidade para a maioria, a fim de tornar a sociedade mais justa, igualitária e humana! Desde pequeno queria ser professor, pois gostava de estudar, e fui incentivado para tal. Meu pai, que possuía apenas a 3ª série do ensino fundamental, sempre foi um grande incentivador para que eu seguisse em frente, e aqui temos um primeiro ponto: a necessidade de bases familiares que valorizem e fomentem o interesse pelos estudos já nos primeiros anos de vida. Mas como ter essas bases se nossos próprios pais não tiveram educação adequada na infância? A resposta é: sorte. Sorte de ter uma família que incentiva o estudo e o aprimoramento intelectual. Aqui se encontra uma das maiores gratidões da minha vida: encontrar as pessoas certas pelo caminho ou participar de políticas
educacionais eficientes. Acredito que fui agraciado nesse sentido! Iniciei minha trajetória escolar no Colégio do Campo do Reassentamento São Francisco, localizado no interior do município de Cascavel, no Paraná. Posteriormente, quando eu estava finalizando a primeira série do ensino fundamental, mudamos para um município no interior do Estado do Pará, mais especificamente para a cidade de Novo Progresso. No Pará ficou evidente para mim como a infraestrutura precária das instituições de ensino impacta negativamente a aprendizagem dos estudantes. Salas de aula de madeira com buracos nas paredes, ruas próximas às escolas feitas de terra solta, poeira em excesso, falta de quadras esportivas, atividades de educação física sendo realizadas no meio da rua em pleno verão paraense de 40° C e a ausência de materiais básicos para os professores, como um simples apagador, são exemplos de como o ensino público carece de atenção em todo o território nacional e principalmente em regiões menos favorecidas. E aqui temos um segundo ponto: a necessidade de oferecer um ambiente propício à aprendizagem para os estudantes. Mesmo